terça-feira, 11 de outubro de 2016

O contragolpe popular

Alberto Gonçalves
Por falta de tempo e de interesse, não acompanho a actualidade brasileira, como não acompanho a paraguaia, a luxemburguesa e a nepalesa. Mas, deste lado do oceano, a ortodoxia vigente teimou em informar-me que, nos últimos meses, o Brasil foi vítima de um golpe perpetrado pelas elites e destinado a trocar, no poder, uma presidente eleita e um partido amigo dos pobres por um sujeito odiado pelo povo e uma data de quadrilhas ao serviço da burguesia e do imperialismo.

Sobretudo por isso, aguardei com certa expectativa e sede de justiça as eleições municipais de domingo, que inevitavelmente traduziriam a revolta do povo perante tão iníquas proezas. Resultados? O partido do novo presidente (o sujeito odiado pelo povo) ganhou a coisa, com 1027 autarcas e 1,2% de crescimento face a 2012. Diversos partidos que colaboraram no golpe (as demais quadrilhas ao serviço da burguesia e do imperialismo) cresceram abundantemente e ocuparam os lugares seguintes. O partido amigo dos pobres (e da ex-presidente eleita) caiu de terceiro para décimo lugar, encolheu 60%, conseguiu uma única capital estadual (no Acre, atenção) e, para efeitos práticos, quase desapareceu.

É possível explicar isto? Será que houve fraude? Será que as elites locais afinal integram uns 90% da população? Será que, entretanto, dizimaram as classes baixas sem ninguém dar por ela? Será que os brasileiros são estúpidos? Será que a nossa ortodoxia não sabe o que diz ou sabe que o que diz é mentira? A última pergunta é apenas retórica. As anteriores pedem respostas urgentes, sob pena de ficarmos com o mundo ao contrário. Qualquer dia, a realidade é mais credível do que a ortodoxia.
Título e Texto: Alberto Gonçalves, Diário de Notícias, 9-10-2016

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