Carlos Guimarães Pinto
1980: Ronald Reagan é eleito presidente nos EUA e mundo treme com a
ameaça de uma guerra nuclear.
O filme Day After, que retrata
o cenário no dia seguinte a uma guerra nuclear, é visto por mais de 100 milhões
de pessoas nos EUA. Na Europa, Reagan é um dos presidentes americanos mais
impopulares de sempre. "Better red than dead", gritam jovens
progressistas europeus antes de mais uma festa dedicada ao tema do fim do
Mundo. Durante a campanha eleitoral, Reagan é várias vezes comparado a Hitler.
No final do seu segundo mandato, para surpresa de todos, o mundo não acabou, o
Muro de Berlim caiu e os EUA estavam lançados para um dos melhores ciclos de
crescimento económico dos últimos 50 anos.
1991: É dissolvida a União Soviética.
Agora, os povos de todo o
Mundo receberão de braços abertos a democracia liberal e viverão na
prosperidade do capitalismo para sempre. A União Europeia continuará a crescer
até engolir todas as antigas repúblicas soviéticas. Um continente sem
fronteiras e com uma moeda única. Nada pode correr mal.
2000: Rebentou a bolha tecnológica.
Milhares de empresas baseadas
na internet vão à falência. O prémio Nobel da Economia, Paul Krugman, anuncia
que a internet é só uma moda passageira como o fax. Ninguém mais vai usar
aquilo.
2008: Obama ganhou as eleições, batendo McCain (candidato comparado a
Hitler durante a campanha).
A expansão da internet e das redes sociais uniu
pessoas de lugares distantes e permitiu eleger alguém como Obama. O mundo
mudará para sempre. Cidadãos de todos os países, raças e religiões vão dar as
mãos e acabar com as guerras. Os negros americanos deixarão finalmente de ser
discriminados pela polícia e o Médio Oriente vai democratizar-se em pouco
tempo. Nem vale a pena perder tempo: o melhor é dar-lhe já o prémio Nobel da
Paz.
2012: Segunda volta das eleições francesas entre Hollande e Sarkozy. A
capa do jornal Público anuncia que a crise vai a votos.
Felizmente a crise perdeu,
embora por uma margem surpreendentemente pequena. Sarkozy (comparado a Hitler
durante a campanha) foi derrotado. É o fim da austeridade. O eixo Merkel-Sarkozy
que atormentava a Europa acabou. A França vai mostrar ao resto dos países como
se resolve uma crise económica aumentando impostos sobre as empresas e impondo
taxas marginais de 80% aos rendimentos dos trabalhadores mais produtivos.
Janeiro 2015: Vitória do Syriza nas eleições gregas. A capa do jornal
Público anuncia que a Europa virou a página da austeridade.
Merkel (a verdadeira herdeira
de Hitler) irá finalmente pagar as reparações de guerra da Alemanha. Da Grécia
surgirá um movimento que transformará a Europa e fará frente ao eixo
Merkel-Hollande. A Grécia voltará a crescer, colocando as contas em ordem da
única forma possível: aumentando a despesa pública. Assim diz Varoufakis
e nós acreditamos porque ele é alto, fala bem e até escreveu um livro.
Dezembro 2015: Toma posse o governo das esquerdas em Portugal,
derrubando Passos Coelho (o político mais parecido com Hitler que Portugal já
teve).
Finalmente, acabou a
austeridade. Agora é mesmo a sério porque, ao contrário do lunático Varoufakis
e do traidor Hollande, o governo português fez um estudo macroeconómico sério
que garante que o país crescerá 2,6% já em 2016.
Novembro 2016: Trump é eleito e, seguindo a tradição dos seus
antecessores do Partido Republicano, também é comparado a Hitler.
A culpa é da internet e das
redes sociais que criam extremistas. Com Trump vem aí a terceira guerra mundial
e o mundo vai acabar. E quem discordar que as consequências serão estas, só
pode ser um radical de direita a tentar normalizar Trump. Não há cá meios-termos:
só alguém racista, misógino e apoiante de Trump pode considerar que ele não é
um nazi violador que vai acabar com o mundo.
Bem-aventurados os histéricos,
que vão do céu ao inferno sem nunca sair do mesmo.
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