O mal de certos intelectuais de esquerda
é que eles preferem discutir sobre o mundo tal como gostariam que ele fosse e
não como ele realmente é
Juan Arias
Manifestante em ato contra o
Governo Temer na última sexta, em São Paulo. Foto: Fernando Bizerra Jr.
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Ainda existe uma esquerda no
Brasil? E essa esquerda é progressista ou conservadora? Ela entende que o mundo
hoje é outro, ou continua presa aos dogmas do passado? Sabe detectar quem são
os novos pobres da história?
São
perguntas importantes depois do último fiasco eleitoral, e a elas respondeu, em
parte, o juiz do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo.
Barroso, que é considerado,
por seus escritos, um magistrado progressista e defensor dos direitos das
minorias, surpreendeu ao afirmar que no Brasil “existe uma esquerda
extremamente conservadora, defensora de dogmas já ultrapassados pela
realidade”. E acrescentou: “O modelo do Brasil não é preponderantemente
capitalista. É um socialismo para os ricos”.
Com efeito, em que outro
momento houve tantos milionários, e quando os bancos ganharam tanto como nos
últimos anos, enquanto o país continua em uma profunda recessão econômica?
Por que a esquerda brasileira
está muda neste momento em que o Congresso prepara uma anistia para políticos
corruptos? Nas últimas eleições municipais, a esquerda foi duramente castigada
nas urnas. Teria sido porque os brasileiros se tornaram de direita ou porque a
esquerda, que governou por quase 14 anos, já não convence mais?
Não se pode descartar que essa
virada conservadora se deva a que a esquerda se aburguesou, tornando-se
conservadora e até mesmo corrupta. Ou a que a esquerda está perdendo o trem da
evolução do mundo, deixando um rio de órfãos pelo caminho.
Isso vale para o Brasil, mas
também, em grande parte, para todas as forças progressistas do mundo. Basta
lembrar a inesperada eleição do ultraconservador Donald Trump nos Estados Unidos.
Há quem defenda a ideia de que
a esquerda tradicional já cumpriu o seu papel histórico, estando hoje esgotada
e incapacitada para detectar quem são, na atualidade, os verdadeiros pobres do
planeta.
Mesmo que isso fosse
verdadeiro, não significa que não seja necessária uma nova “força social”, não
dogmática. Uma esquerda sensível aos sofrimentos do mundo e às vítimas do
capitalismo totalitário. Eu me atreveria a dizer que essa esquerda é hoje mais
necessária do que nunca, pois pairam sobre a humanidade nuvens carregadas de
desinteresse pelo respeito à vida e aos que, sejam pessoas, sejam povos
inteiros, foram postos de lado.
Se não existe governo
democrático sem uma oposição política, também não haverá um novo liberalismo,
tampouco um novo modernismo, sem o contraponto de uma esquerda comprometida
mais com as vítimas do que com os carrascos.
Uma esquerda que sirva de
contraponto à cultura do poder pelo poder, esse poder que não se preocupa em
olhar para trás para ver se alguém tropeçou e ficou no meio do caminho. Uma
esquerda capaz de entrar em sintonia com um mundo em transformação, com seus
novos problemas e novos lamentos de dor.
Uma esquerda que não seja uma
igreja em que somente os seus fiéis são dignos da salvação.
Que pesos podem ter no mundo
de hoje, por exemplo, esses milhares de sindicatos de esquerda, defensores dos
direitos dos trabalhadores, num momento em que os novos pobres são justamente
os que não têm emprego, as minorias perseguidas e aqueles que nunca tiveram
acesso à cultura? Quem se preocupa com eles?
O que fez a esquerda, esses
anos todos, em defesa do ensino no Brasil, que ocupa os últimos lugares do ranking
mundial do setor e onde um milhão de estudantes abandonam a escola a cada ano?
Para onde irão esses jovens?
O Brasil e o mundo precisam de
uma esquerda capaz de renascer das cinzas do seu aburguesamento e da sua
incapacidade de saber ler o que as pessoas realmente pensam e aquilo de que
gostam hoje em dia.
O mal de certos intelectuais
de esquerda é que eles preferem discutir sobre o mundo tal como gostariam que
ele fosse e não como ele realmente é. Assim é que surgem as surpresas do tipo
Trump. A esquerda continuará a ser indispensável para contribuir para manter
viva a democracia e para que se dê atenção aos excluídos. Mas deverá fazê-lo ao
lado de todos os outros, sem necessidade de demonizar ninguém.
E sem dogmas, que são as
pedras com que se constrói a sepultura da liberdade.
Atenção! Quem chora o despedaçamento da esquerda é um esquerdista!
ResponderExcluirQue dá conselhos ao Brasil, ele, espanhol, "O Brasil e o mundo precisam de uma esquerda capaz de renascer das cinzas do seu aburguesamento e da sua incapacidade de saber ler o que as pessoas realmente pensam e aquilo de que gostam hoje em dia."
Prezados Cão que fuma e Jim Pereira, solicitamos a gentileza de divulgar as manifestações que ocorrerão nos próximos dias a favor da Operação Lava Jato e das 10 medidas contra a corrupção, e contra a intenção dos políticos de dificultar a atuação do Ministério Público e da Polícia Federal e da Justiça Federal, assim como contra o Lula que vem importunando o Juiz Sérgio Moro. Também Fora Renan e pelo fim do foro privilegiado. Vejam dias e locais:
ResponderExcluirRIO Dia 20/11, próximo domingo, às 10:00 horas no Posto 5 de Copacabana;
São Paulo no mesmo dia (20/11) às 15:00 horas, na Avenida Paulista, em frente ao MASP;
Brasília dia 22/11 (terça-feira próxima) às 18:00 horas no gramado em frente ao Congresso Nacional.
ANTONIO AUGUSTO.
Obrigado.
ExcluirFaremos isso, com certeza.