Cesar Maia
1. Desde a crise financeira de 2008, cresceu
progressivamente a Onda Azul, com partidos de corte de centro-direita vencendo
eleições. Essa Onda Azul começou pela Europa e se espalhou.
2. Durante alguns anos ela teve caráter
econômico. Ou seja, a crise era explicada pela omissão dos governos e pelo
abuso na desregulamentação do setor financeiro, destacando os aplicativos e o
sigilo bancário especialmente nos paraísos fiscais. As ideias liberais
avançaram e venceram eleições – no período inicial – em quase toda a Europa
Ocidental.
3. A política econômica defendida pelos líderes
e partidos de centro-direita tornou-se consensual e incorporou setores
socialdemocratas para estes se tornarem sustentáveis, como na Grécia e França.
4. O desmonte da Primavera Árabe, os fluxos
crescentes e multitudinários de refugiados empurrou a Onda Azul mais à direita,
sob pressão da opinião pública. À guerra civil na Síria e a transformação do
terrorismo, com ocupação de amplos territórios no Iraque e na Síria pelo Estado
Islâmico, somou-se o uso do terror sem alvo ideológico, mas apenas como
propaganda armada. O caso da França é emblemático. A direita nacionalista na
Europa ganhou expressão política e o Brexit no Reino Unido é expressão disso. E
se o plebiscito de dezembro agora na Itália derrotar o primeiro-ministro e a
eleição do ano que vem derrotar os socialistas na França, esse ciclo se reforça
e completa sua hegemonia na Europa.
5. E a Onda Azul chegou à América Latina,
deixando de ficar restrita a países da América Central, e avançando de forma
hegemônica na América do Sul. A desintegração da Venezuela implodiu a
referência que a esquerda populista tinha. As vitórias eleitorais na Argentina
e no Peru cristalizaram a Onda Azul. E a ampla corrupção governamental no
Brasil deu caráter virótico à Onda Azul. Já com Macri na presidência, as
investigações chegaram à Cristina Kirchner com a força da “lava-jato”
brasileiro. O entorno de Bachelet involucrou-se em desvios éticos e, com isso, sua
popularidade despencou.
6. 2016 ampliou a dimensão da Onda Azul,
completando seu círculo. Chegou aos valores conservadores que passaram a ser
hegemônicos político e eleitoralmente. O plebiscito do acordo de paz na
Colômbia foi derrotado por ter incluído valores “liberais” em relação à vida e
a família. As eleições peruanas da mesma maneira, com ampla maioria na câmara
de deputados.
7. As eleições municipais no Brasil tiveram
este caráter. Não apenas a esquerda foi dizimada pelos escândalos, como as
vitórias em grandes centros como Rio de Janeiro trouxeram consigo valores
conservadores. As eleições presidenciais semana passada na Bulgária e na
Moldávia surpreenderam com vitórias de candidatos à esquerda pró-Putin. E – atenção
– se enquadraram totalmente no ciclo hegemônico de valores conservadores.
8. E para completar – com pompas e
circunstâncias – a vitória de Trump nos Estados Unidos. Se o neonacionalismo
justificado pelos avanços do Estado Islâmico e pela proporção de migração
indocumentada repetiram clichês já apresentados em outras eleições, agora os
valores conservadores, cristãos, tiveram efeito virótico espalhando-se pelo
interior e quase isolando os democratas nas grandes metrópoles. A antipolítica
foi além da europeia, e agora nos EUA, é assumida com slogans contra as “ideias
politicamente corretas”.
9. Poder-se-ia dizer que este é o Terceiro
Ciclo político da crise de desde 2008:
a) Politica Econômica Liberal,
b) Nacionalismo Europeu, e agora
c) Hegemonia dos Valores Conservadores-Cristãos.
São sinérgicos, se reforçam sinalizando que a Onda Azul ainda tem fôlego.
Título e Texto: Cesar Maia, 23-11-2016
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