Péricles Capanema
Foto: Paulo Roberto Campos |
Fatores de desunião e a necessária união nacional
No momento em que a
América espanhola se esfacelava em dezenas de repúblicas, a sensatez da Casa de
Bragança (Dom João VI e Dom Pedro I) assegurou a unidade nacional, debaixo de
uma só coroa no Brasil. Mesma língua, mesmo povo com três sangues principais —
o branco, o negro e o índio — religião largamente predominante, facilitavam a
coesão.
Desde o Império — deixo de
lado o que antes possa ter ocorrido —, contudo, proliferaram agremiações
separatistas, sob diferentes razões. A Constituição de 1988 virtualmente fechou
a porta a seu êxito. Reza no artigo 1º: “A República Federativa do
Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito
Federal”. Contudo, tais agremiações voltaram a se manifestar. Julgam que,
mesmo no presente quadro institucional, existe brecha para legalmente dividir o
Brasil em vários países independentes.
O jornal “O Estado de S.
Paulo” anunciou no dia 13 de novembro que, com o objetivo de abrigar sob o
mesmo teto as entidades separatistas, está sendo fundado o partido Aliança
Nacional. Seu presidente é o prof. Flávio Rebello, que também preside o São
Paulo Livre. Já aderiram ao novo partido, além do São Paulo Livre,
O Rio de Janeiro é o Meu País, o Grupo de Estudo e Avaliação
Pernambuco Independente – GEAPI, Roraima é o Meu País, Espírito
Santo é o Meu País. Separatistas de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul
e Ceará podem seguir o mesmo caminho. O Sul é o Meu País (Rio
Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná) recusou formar parte, pois julga
prematuro.
Pelas contas do prof. Rebello,
o partido estará constituído em 2018, lançando candidatos em 2020. “Vamos
trabalhar para ter prefeitos, governadores e principalmente deputados federais
e senadores”, garante. Com base em bancadas fortes, propaganda e utilização
hábil da legislação existente, espera tornar viáveis plebiscitos em que o povo
decidirá se fica ou não no Brasil. Ele conta com o êxito já em 2032, centenário
da Revolução Constitucionalista. E continua imaginando: “Em São Paulo,
será um partido de direita ou de centro-direita. No Rio, provavelmente, será
uma legenda de centro-esquerda”. De outro jeito, a orientação da legenda
local, vai depender do gosto do freguês. Seu programa, uma repactuação
federativa, valorizará o poder local em relação ao nacional (mais autonomia
para os Estados) e nova distribuição dos impostos.
Sou contra o separatismo, não
acho que tenha chances sérias de triunfar no futuro previsível, mas não é sobre
separatismo que desejo falar. Pretendo comentar, ainda que rapidamente, assunto
mais importante: as razões mais ativas que hoje alimentam o sentimento
separatista.
O prof. Rebello enuncia a
principal delas para os separatistas próximos a ele em São Paulo: “Quem
derrubou a Dilma foi São Paulo”. Dilma foi eleita em 2014 com 54.501.118
contra 51.041.155 de Aécio (vantagem de 3.459.963). Em São Paulo Aécio teve
15.296.289, Dilma 8.488.383 (vantagem de 6.807.906). Se tirarmos São Paulo, a
vantagem de Dilma sobre Aécio no Brasil sobe para 10.267.869.
No espírito dos separatistas
avultam imagens de um Estado de São Paulo operoso, responsável por um terço do
PIB brasileiro que, contra sua vontade largamente majoritária, viu
assenhorearem-se do poder (de fato nele continuar) hordas famintas de
incompetentes e corruptos com a cabeça lotada de ideias demolidoras enraizadas
no socialismo marxista. O movimento São Paulo Livre nasceu
ali, desejava se livrar de um fator de atraso, o Brasil acorrentado ao PT.
*
* *
Luís Cláudio Jesus Silva,
presidente do Roraima é o Meu País reclama que seu Estado “está
cansado de pagar as contas sociais do País”. Em Roraima, área de 224.299
km2 e população por volta de 500 mil, existem cerca de 50 mil indígenas
registrados. Suas terras (as reservas) cobrem 104.018 km2 (aproximadamente 1
habitante por 2 km2; no Estado de São Paulo vivem por volta de 180 habitantes
por km2, 360 vezes mais). Além das reservas indígenas, Roraima possui terras da
União e áreas destinadas à preservação ambiental, cuja soma total deixa 9,9% do
território livre para ser explorado por seus habitantes desejosos de crescer.
Diante desse disparate arrogante e impenitente, Luís Cláudio e tantos outros
roraimenses perderam a paciência. Só querem virar as costas e ir embora da
Federação.
*
* *
O carioca Gabriel Moreira,
presidente de O Rio é o Meu País, emenda: “A forma como a
Federação confisca os valores referentes aos royalties do petróleo é exemplo de
como o carioca é prejudicado por fazer parte do Brasil”. Quanto à
repartição dos impostos, a queixa, comum, existe Brasil afora. O centralismo
atravancador da mal chamada Federação (tem pouco de instituições e práticas
federativas) faz com que governadores e prefeitos (e quanto mais pobres, pior)
se transformem em pedintes de verbas federais; e, como auxiliares, despachantes
na prática, deputados e senadores de suas regiões. Centralização,
intervencionismo, faces da mesma doutrina asfixiante, inimiga da sociedade
civil atuante até o limite de suas competências naturais. Faz falta a aplicação
ampla do princípio de subsidiariedade.
*
* *
Moral da história. O
socialismo e doutrinas conexas, fatores ativos de desagregação, precisam ser
combatidos na teoria e nos efeitos deletérios. Seriam revigorados fatores de
coesão nacional, num caminho de harmonia e paz social.
Título e Texto: Péricles Capanema, ABIM,
26-11-2016
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-