Nelson Fragel
A eleição de
Donald Trump apavorou a esquerda europeia. Na Itália ela ainda treme. Treme
mais do que o solo de suas cidades abaladas pelos vários e recentes terremotos.
A esquerda italiana foi profundamente sacudida. Seus círculos dirigentes fazem
um reexame de ideias e programas. Não é difícil. Esse exame é forçosamente
superficial e expedito, pois de ideias o socialismo europeu, e em particular
italiano, há muito caiu na indigência do pauperismo ideológico: nada tem de
novo a apresentar. Repetem os surrados slogans de fracassados
programas de um século atrás.
O mais importante jornal
italiano, “Corriere della Sera”, fez abertamente campanha por Hillary Clinton.
Embora se dizendo imparcial — é claro —, como todo grande órgão da imprensa,
sua subserviência à esquerda vai bem além da mera simpatia. No entanto, em sua
edição de 18 de novembro, à primeira página, um artigo de fundo escreve que os
socialistas de todos os matizes, incapazes de compreender as aspirações da
opinião pública, se dilaceram em conflitos internos. Comunistas acusam
socialistas. E estes, com esquálidas lideranças incapazes de discernir novas
perspectivas, se atolam no pântano de teorias peremptas. Em outras palavras — e
em termos brasileiros — eles estão como os líderes do PT, embora fora da
cadeia.
Poucos dias depois, o mesmo
“Corriere della Sera”, à mesma primeira página, volta a verter lágrimas bem
quentes sobre a sepultura política de Hillary e da esquerda europeia. Um
de seus mais cotados jornalistas se incumbe de lançar um pouco de fumaça sobre
a ruína esquerdista alegando a concomitante desgraça da direita atuante no
Velho Continente. Ambas, diz aquele jornalista, não sabem o que fazer neste
momento. Devem inventar novos argumentos, se quiserem ainda manter vínculos com
seu eleitorado. Ambas estão em processo de desagregação dos laços que ainda
mantinham com a opinião pública. Afirmações estas que, na pena de um
simpatizante socialista, tomam o sabor de amarga confissão. Trata-se,
sobretudo, do esvanecimento da velha esquerda. A direita entrou no artigo como
fumaça a embaciar a visão. Pois os conservadores europeus vêm obtendo contínuas
vitórias nas urnas e plebiscitos: a saída da Grã-Bretanha da União Europeia, a
oposição da Holanda, Áustria e Hungria ao socialismo europeísta, a Suíça em
sucessivos plebiscitos se distanciando da União Européia, a recente vitória na
França do mais conservador dos pré-candidatos à eleição presidencial pelo
partido centrista confirma a tendência antissocialista.
A esquerda europeia treme aos
rugidos de Trump. E este tremor é sua maior prova de fraqueza. Pois ela está
tiritando diante de uma figura fantasmagórica na qual não se vê estabilidade de
ideias, nem coerente programa de governo. Por isto precisamente: porque as
esquerdas não sabem o que são ideias firmes, e desconhece a lógica de governo.
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