segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Caixa: incompetência, dolo ou cobardia?

Pinho Cardão
Já não restam dúvidas de que uma das condições colocadas pela pessoa escolhida para presidir a Caixa Geral de Depósitos  consistia em que ele e sua equipa auferissem remunerações similares às do sector privado e não entregassem declarações de rendimento e património ao Tribunal Constitucional. O governo concordou e aprovou um decreto-lei isentando a Caixa do estatuto de gestor público, assegurando que o mesmo cumpria as condições impostas para a remuneração e não entrega das declarações; em consequência, a nova administração tomou posse. 

Eis senão quando alguém veio rememorar que aquele decreto-lei conflituava a lei 4/83 referente ao controle público da riqueza dos titulares de cargos políticos, e de imediato quer os partidos mais à esquerda apoiantes da geringonça como os da oposição vieram a terreiro exigir o cumprimento da lei. O avolumar da contestação levou a que o líder do próprio grupo parlamentar do PS se viesse a juntar ao clamor.

Num primeiro momento, veio honradamente o Ministério das Finanças  contrariar o ruído, reafirmando que o objectivo último do decreto-lei era dispensar a entrega das declarações: “a ideia é a Caixa ser tratada com qualquer outro banco. Essa foi a razão para que fosse retirada do estatuto do gestor público”Todavia, com o acentuar da contestação, o ministéro das finanças calou-se, vindo o 1º Ministro a lavar as mãos da porcaria em que o governo se tinha metido, reiterando que o problema não era do governo, mas da Caixa e do Tribunal Constitucional.

Chagamos então a um ponto em que das três, uma:

- ou o governo é incompetente, ao esquecer a lei 4/83, e cometendo mais um erro a juntar ao que levou à desnomeação de 8 gestores devido a incompatibilidades com a lei.

- ou o governo actuou de forma dolosa, fazendo crer que tinha resolvido o problema de encontrar gestores para a Caixa, sendo esta tratada com qualquer outro banco.

- ou o governo é cobarde, como parece que está a acontecer, escondendo-se a confirmar as promessas feitas aos gestores.

Espantam-se muitos com a deplorável novela da Caixa Geral de Depósitos, mas não há motivo para tal. Lá diz o ditado: o que começa mal tarde ou nunca se endireita. A começar pela própria geringonça. 
Título e Texto: Pinho Cardão, 4R – Quarta República, 13-11-2016

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