Neste magnífico texto, António Barreto escreve
sobre as reacções ao resultado das presidenciais americanas e como as
discussões políticas são anuladas pela ideia que as esquerdas possuem da sua
própria superioridade moral. Pedro Correia observa aqui, também justamente, como ao público português só
chegou a informação anedótica relativa à campanha de Donald Trump, que mesmo
depois da vitória continua a ser uma espécie de caricatura. Lendo os dois
artigos, ninguém pode ficar surpreendido com o anti-americanismo primário que
borbulha nas redes sociais.
Alguns dirigentes da União
Europeia estão a contribuir para alimentar essa histeria, com a sua reacção de
pânico à eleição de Trump, como se o resultado nos EUA fosse o início de um
efeito dominó de partidos populistas a tomarem conta do asilo. As elites
políticas e mediáticas estavam estranhamente convencidas de que a crise dos
últimos oito anos não teria consequências, que nada mudava; elas pensavam que
as transformações sociais da última década não teriam impacto em futuras
eleições ou na confiança dos eleitores; acreditavam que a insegurança imposta
pelo terrorismo não as afectava; julgavam que, para o eleitorado, o medo de
perder emprego, casa, poupanças ou a pensão era absolutamente neutro.
O Brexit podia ter sido um
momento de iluminação, podia ter mudado esta ideia abstrusa de que é possível
continuar a apascentar rebanhos, mas após uns dias de aparente frenesim, a
Europa voltou à tendência do marasmo. Agora, agita-se perante o presidente
eleito dos Estados Unidos, mas Trump falou primeiro com o Reino Unido, depois
com a China, os europeus serão talvez os últimos na fila, esquecidos de que
quem grita em bicos de pés acaba por se desequilibrar.
As instituições da UE, lideradas pela Alemanha e França, cometeram graves erros nos últimos anos: na recuperação económica, na gestão dos resgates, no tratado orçamental camisa-de-varas, numa união bancária que não serve para todos, na crise das migrações, no desrespeito dos pequenos países, nas sanções à Rússia (é ridículo andar a proibir exportação de maçãs e depois comprar petróleo). Podia acrescentar-se a escolha de figuras menores para dirigir as instituições, como é o caso de Jean-Claude Juncker.
Esta elite incapaz, protegida
por meios de comunicação que há muito emigraram para os territórios de fantasia
das redes sociais, devia ser rapidamente substituída, mas os partidos
tradicionais estão entrincheirados no discurso do passado, parecem
inclusivamente incapazes de fazer modificações internas ou de apresentar
políticas alternativas. Qualquer protesto é condenado como dissidência e
silenciado com insultos ou colagem à extrema-direita. As opiniões contrárias
são atacadas com a superioridade moral da esquerda, das indignações beatas e do
politicamente correcto, mas não é desprezando eleitores descontentes que se
trava a ascensão dos partidos populistas.
Título e Texto: Luís Naves, Fragmentário, 14-11-2016
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