Aparecido Raimundo de Souza
Nessa chuvarada seguida de
fortes ventanias acontecida nos últimos dias, em várias capitais, muita gente
ficou completamente desabrigada. Cansamos de ver pela imprensa escrita, falada,
televisionada e aprisionada, os noticiários bombásticos, ruas e avenidas
alagadas, carros arrastados, ônibus ilhados, com passageiros abrigados em seus
tetos, comerciantes fechando seus estabelecimentos, redes de esgoto a céu
aberto esborrando litros e litros de águas malcheirosas, além de um punhado de
árvores caídas, pedestres feridos, postes e transformadores machucados, placas
de indicações (direita, esquerda, volver) com frio nas costas, sem contar com o
transito engarrafado em todas as direções, e o pior, completando o quadro
caótico e desordenado, a cidade, de ponta a ponta, completamente parada. Mais
parada que o ajuntamento do orgulho LGBT da Avenida Paulista, centro de São
Paulo.
Segundo as defesas civis, e as
prefeituras de cada uma dessas metrópoles, foram registradas várias
ocorrências. A pior delas evidentemente aconteceu num longínquo cemitério de
Santa Cruz dos Zés Dormidos, perto de Caraguatatuba, às margens da panorâmica
rodovia Rio Santos. Várias sepulturas daquele recanto de paz sofreram fortes
avarias. Um morto, de nome Eduardo Paes, saiu nadando, outro está desaparecido
e um terceiro defunto (de nome Garotinho) foi encontrado numa das UPAs de
Madureira em estado grave. Segundo boletim médico, a criatura teria sido
atacada por “fortes dores nos colhões”.
Numa outra localidade, se não
nos enganamos, Xerém, um ex-vivo advindo
do mesmo campo santo, alegou em entrevista a um repórter da Rede Globo que,
para se salvar do impiedoso temporal precisou pedir ajuda a uma galera que
bebia cerveja e comia churrasco num barzinho de periferia próximo à casa de
Zeca Picadinho. Relatos desse “de cujus” dão conta de que os frequentadores
saíram em desabalada carreira, quando o reconheceram como sendo a possível e
suposta pessoa do Pedreiro Amarildo de Souza, que batera as botas e fora
enterrado hipoteticamente num desaparecimento até hoje de entendimento ilógico
acontecido em quatorze de julho de dois mil e treze. De uma coisa, senhoras e
senhores, eu tenho certeza absoluta. Do pedreiro Amarildo, certamente ninguém
se recorda. Esse fato não tem nenhuma importância. Não dá IBOPE. Todavia, dos
ajuntamentos dos bissexuais e transgêneros atrelados a Rebelião de Stonewall
nos idos de mil novecentos e sessenta e nove, até os cachorros caídos dos
caminhões de mudanças teriam assuntos para latirem a noite toda numa pusfiga
matilha super mega organizada.
Voltando aos defuntosos -,
nessas horas de aparente desespero, as pessoas (ao se verem tête-a-tête com o
sobrenatural) optam por esses tipos de comportamentos anormais, quais sejam
cair fora, debandar, se mandar, vazar, retirar, puxar o carro, sem socorrer a
um ente que já não se encontra mais entre nós. A isso poderia se dar o nome de
abandono aos extintos incapazes. Ou aos incapazes extintos. Dito de outra
forma, uma espécie infame de bullyng. Para quem não sabe (bullyng é um
anglicismo utilizado para descrever toda e qualquer forma de atitude de
violência física ou psicológica, não importa a quem seja). Aqui, igualmente, se
encaixariam aqueles que já partiram do nosso convívio e foram cuidar de seus
pecados no andar de cima, usando os elevadores disponíveis para se evitar o
cansaço e a fadiga da íngreme e comprida escada em direção as cercanias de São
Pedro.
Deixar de prestar socorro a um
morto quando bate a nossa porta (seja essa porta, a entrada de casa, de um bar,
de uma lanchonete, ou até mesmo de um puteiro em plena Avenida Nossa Senhora de
Copacabana com Siqueira Campos ou Barata Ribeiro com Raimundo Correia,) é a
mesma coisa como se estivéssemos abandonando um incapaz aos revezes da sorte.
Um morto, coitado, está sem vida, com fome, com sede, com frio (se imagine meu
caro amigo, você, morto, duro, gelado, e jogado na rua da amargura). Raciocine.
O prezado gostaria de ser deixado de lado depois de mortalmente falecido? Evidentemente que não! Não faça, pois com os
outros, notadamente com os que não estão mais entre nós, o que não gastaria
fizessem a seu lindo corpinho esbelto e bem nutrido. Lembre sempre, amanhã, ou
depois, o cadáver sem vida poderá ser a sua pessoa em figura de caveira
personificada na sua própria máscara mortuária.
Em concluindo, ao ver um morto
vagando por ai, socorra-o, se aproxime, pergunte se quer comer alguma coisa,
beber, ou tomar um suco de laranja ou café bem quente. Morto, principalmente os
que bateram com a caçoleta recentemente, amam café quente. Seja amigo,
companheiro, solidário. Acolha. Não esqueça nunca. Vagar sem vida entre
sepulturas, sepulcros, carneiros, jazigos e túmulos... é como estar vivo (mesmo sem o sopro divino do
ar benfazejo) e os demais lhe ignorarem virando os rostos. Foi por isso que a “Justissssssssssça” do Rio
de Janeiro, na pessoa da cidadã, a magistrada Daniella Alvarez Prado, da
Trigésima Quinta Vara Criminal da capital condenou doze dos vinte e cinco mal
(litares) pelo desaparecimento estranho e esquisito e até ontem não explicado,
do pedreiro Amarildo de Souza.
Desses doze, quem pegou a pena
maior (e não confundam aqui pena com pena de caneta Bic. A MM Daniella só usa
canetas da grife Mont Blanc safra mil novecentos e vinte e quatro para dar
sentenças consideradas emblemáticas), foi, evidentemente, como é do saber
geral, a figura assobrerjética e camaliosa do “maujor”, na época, comandante da
UPP (UNIDADE DE POLICIAMENTO PICARETA) sediada na Rocinha, o elemento cafunfoso
que atende pelo nome de Edson Raimundo dos Santos. Dizem seus colegas de farda
(agora sem) encarcerados no mesmo buraco, que tardão da noite, o “maujor”
acorda suando em bicas, como uma boneca desmiolada e rebolativa, aos “gritos
apavorantes” do infeliz do Amarildo em seus escutadores de novela, ameaçando:
“Eu te pego, seu canalha. Juro que um dia eu te pego”.
Enquanto o pobre do pedreiro
Amarildo de Souza não cumpre a palavra, e pode ser que depois de Xerém
reapareça mais calmo em qualquer parte da Cidade Maravilhosa, inclusive para
sua cara metade Elizabeth e a sua meia dúzia de rebentos. Vamos torcer para que o senhor Edson Raimundo
dos Santos não enlouqueça de vez e pire seu cabeção de jumento. Dessa forma, se
tal desgraça vier a acontecer seus treze anos e sete meses ficariam
prejudicados. A nosso entendimento, esse canalha precisa pagar pelos crimes de
tortura, sequestro seguido de morte, ocultação de cadáver e fraude processual.
É o mínimo que podemos esperar desse fabuloso e ao mesmo tempo vergonhoso
estado democrático de direito torto.
E outra, que se cumpra sem
delongas, o brilhante entendimento da meritíssima doutora Maria Paula Galhardo,
da Quarta Vara da Fazenda Pública que condenou o Estado do Rio de Janeiro a
pagar uma indenização de 3,5 milhões à viúva e os seis filhos do trabalhador
desaparecido. Até agora, esses familiares esperam pela boa vontade. De quem?
Não se sabe! O que sentimos diante de nossas fossas nasais são os podres das
falcatruas dos advogados da instituição política que procrastinam com
interposições de apelações e recursos no sentido da coisa esfriar e acabar
caindo no esquecimento. Pizzas, a bem da verdade. Por derradeiro, que o
pedreiro em questão e pivô dessa história, meu caríssimo Edson lhe seja leve na
consciência suja. Pau nele, meu caro e querido Amarildo.
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EM MEU PRÓXIMO LIVRO “LINHAS MALDITAS”, VOLUME 3.
COMO? SE PRETENDO CALAR A BOCA? SIM, MEUS AMADOS, QUANDO MORRER...
Título, Imagens e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, 63 anos, jornalista, 11-12-2016
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