Guilherme Fiuza
Os EUA traíram o Brasil
na mesma hora em que as girafas da Amazônia foram salvas. Talvez tenha sido até
por isso: todo mundo sabe que o Trump odeia girafa. E foi assim que surgiu a
notícia sobre a “desistência” do governo americano de apoiar a entrada do Brasil
na OCDE, a elite das nações. Se o mundo acreditou que o governo brasileiro
decidiu transformar a maior floresta tropical do mundo em pasto, por que não
espalhar que os EUA desistiram do Brasil? Hoje em dia, para muita gente boa —
ou que era boa —, jornalismo é um estado de espírito (de porco).
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Foto: Jim Watson/AFP |
O governo Trump tinha acabado
de expressar na Assembleia Geral da ONU seu alinhamento diplomático e comercial
com o governo brasileiro – inclusive informando que os grandes investidores
estão confiantes no Brasil. A voz dos EUA transformou em pó a tentativa de
isolamento do Brasil liderada por Macron e outros mortos-vivos do ambientalismo
cenográfico. Mesmo assim a usina de fake news do jornalismo trans achou que
dava para emplacar a intriga da OCDE.
O Brasil está onde já estava
na lista de candidatos a ingressar na Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico. Mas como o momento era do aval dos EUA ao ingresso
da Argentina, a fábrica de desinformação (escondida sob grandes grifes
jornalísticas) entrou em ação: Trump fecha a porta para o Brasil, gritaram as
manchetes retumbantes.
"Foi um dia inteiro de
triunfal morbidez, com a alegre revoada das cassandras comemorando a céu aberto
o suposto revés da diplomacia brasileira – uma chance de ouro para retomar a
cada vez mais difícil sabotagem da reconstrução do país, fermentando essa
teoria neurótica da degeneração nacional sob o fascismo imaginário. Só que,
obviamente, não era nada disso.
Para quem tomou a decisão
pessoal ou institucional, tanto faz, de mentir abertamente e sem
constrangimento em defesa do seu próprio teatro, as ponderações baseadas na
realidade não significam nada. Claro que essa resistência democrática de
auditório sabe perfeitamente da tragédia diplomática provocada por anos de
panfletagem pueril contra as grandes potências. Como se algum adulto de boa fé
pudesse acreditar que Lula, Dilma, Kirchner, Chávez, Maduro & parasitas
associados pudessem representar uma revolução terceiromundista – e não um
proverbial assalto aos seus respectivos povos, como ficou demonstrado. Todos
esses novos soldados das fake news perfumadas e de boa aparência estão cansados
de saber que a parceria Brasil-EUA foi retomada com a remoção da fanfarra
ideológica.
Mas não importa. Trair, coçar
e mentir é só começar. Aí você não para mais. Vamos fingir que o governo
americano virou as costas para o Brasil? Claro! Nosso público é meio distraído
mesmo, vamos dar uma “trabalhada” nesse aval dos EUA para a Argentina na OCDE
(tipo o pessoal do site Interpret faz), montar aquela pegadinha fantasiada de
notícia e jogar no ventilador. O resto a internet faz pra gente. Governo trapalhão!
Fascista! Entreguista! Vassalo de Yankee! Etc e tal.
Aí vem o presidente dos
Estados Unidos da América e nega tudo. Reitera seu apoio ao Brasil e ao
presidente brasileiro – e nenhum corneteiro fantasiado de jornalista pode dar
aquela destorcida salvadora, porque hoje em dia qualquer autoridade tem sua
própria mídia. Malditas redes sociais! CPI já!
Então o companheiro Donald
volta pro seu trabalho, que ele tem mais o que fazer, e as cassandras ficam
pelos cantos lambendo a ferida. Mas não pense que isso as constrange. Quem
admite para o seu próprio travesseiro que passará a maquiar informação e conhecimento
não se abate à toa. A verdadeira covardia requer muita coragem.
E no dia seguinte eles
estarão de volta ao ofício, demitindo Sergio Moro, anunciando que Paulo Guedes
vai largar tudo para abrir uma pousada no Caribe e que o Trump vai vender o
Brasil para a Rússia. Ê, vidão!
Título e Texto: Guilherme
Fiuza, Gazeta do Povo, 11-10-2019
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