Sérgio Jockymann
E
que amando, também seja amado.
E
que se não for, seja breve em esquecer.
E
que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo,
pois, que não seja assim
Mas
se for, saiba ser sem se desesperar
Desejo
também que tenha amigos
Que
mesmo maus e inconsequentes
Sejam
corajosos e fiéis
E
que pelo menos em um deles
Você
possa confiar sem duvidar
E
porque a vida é assim
Desejo
ainda que você tenha inimigos
Nem
muitos, nem poucos
Mas
na medida exata para que
Algumas
vezes você se interpele
A
respeito de suas próprias certezas.
E
que entre eles
Haja
pelo menos um que seja justo
Desejo
depois, que você seja útil
Mas
não insubstituível
E
que nos maus momentos
Quando
não restar mais nada
Essa
utilidade seja suficiente
Para
manter você de pé.
Desejo
ainda que você seja tolerante
Não
com os que erram pouco
Porque
isso é fácil
Mas
com os que erram muito e irremediavelmente
E
que fazendo bom uso dessa tolerância
Desejo
que você, sendo jovem,
Não
amadureça depressa demais
E
que sendo maduro
Não
insista em rejuvenescer
E
que sendo velho
Não
se dedique ao desespero
Porque
cada idade tem o seu prazer e a sua dor
Desejo,
por sinal, que você seja triste
Não
o ano todo, mas apenas um dia
Mas
que nesse dia
Descubra
que o riso diário é bom
O
riso habitual é insosso
E
o riso constante é insano.
Desejo
que você descubra
Com
o máximo de urgência
Acima
e a respeito de tudo
Que
existem oprimidos, injustiçados e infelizes
E
que estão bem à sua volta
Desejo
ainda
Que
você afague um gato, alimente um cuco
E
ouça o joão-de-barro
Erguer
triunfante o seu canto matinal
Porque
assim, você se sentirá bem por nada
Desejo
também
Que
você plante uma semente, por menor que seja
E
acompanhe o seu crescimento
Para
que você saiba
De
quantas muitas vidas é feita uma árvore
Desejo,
outrossim, que você tenha dinheiro
Porque
é preciso ser prático
E
que pelo menos uma vez por ano
Coloque
um pouco dele na sua frente e diga:
"Isso
é meu"
Só
para que fique bem claro
Quem
é o dono de quem
Desejo
também
Que
nenhum de seus afetos morra
Por
eles e por você
Mas
que se morrer
Você
possa chorar sem se lamentar
E
sofrer sem se culpar
Desejo
por fim
Que
você sendo homem, tenha uma boa mulher
E
que sendo mulher, tenha um bom homem
Que
se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes
E
quando estiverem exaustos e sorridentes
Ainda
haja amor pra recomeçar
E
se tudo isso acontecer
Não
tenho mais nada a lhe desejar
Título
e Texto: Sérgio Jockymann, in Folha da Tarde, Porto Alegre.
30 de dezembro 1978
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POIS, esse é um clássico. Haviam os que o detestavam na época, chamavam-no de inculto.
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