Fausto Zamboni
A liberdade educacional é
também uma defesa contra a rigidez que fatalmente acomete os grandes sistemas
que, devido ao tamanho e à complexidade, têm dificuldades em adaptar-se às
situações sempre novas da vida social.
Além disso, a diminuição das
responsabilidades dos pais provoca um afrouxamento moral de toda a sociedade.
Por isso, milhões de americanos preferem educar os filhos em casa.
A aprendizagem, para Ivan Illich
*, deveria resultar de um encontro espontâneo entre pessoas com os mesmos
interesses, de forma semelhante ao que vinha ocorrendo, há milénios, na cultura
superior: os intelectuais se reuniam em cortes, salões, cafés ou qualquer outro
ambiente – como se vê nos diálogos socráticos – para discutir os assuntos de
interesse comum.
Jonh Taylor Gatto salienta que
a formação da maior parte dos pais fundadores dos Estados Unidos foi bastante
flexível e que pouco deveu-se à escola. A liberdade de ação foi fundamental
para que os novos líderes formassem a própria personalidade em resposta às
necessidades da situação.
Abraham Lincoln [foto], orador e escritor de relevo, não frequentou a escola por mais de cinquenta semanas, e o resto aprendeu em casa e no contato com a realidade viva da sua época.
Foto: Mathew Brady |
David Farragut, o primeiro almirante da marinha dos Estados Unidos, foi nomeado aspirante a oficial com dez anos, quando participou de seu primeiro combate naval. Com doze anos, já comandava a primeira tripulação, conseguindo dominar as ameaças de sublevação; aos quinze anos, foi caçar piratas no Mediterrâneo. Estudou a mecânica da ação vulcânica estimulado pela impressão que lhe deixou uma erupção do Vesúvio. Numa longa estadia em Túnis, o cônsul norte-americano lhe ensinou francês, italiano, matemática e literatura.
Thomas Edison logo
deixou a escola, por ser considerado um aluno defasado. Passou o resto da
infância vendendo periódicos e aos doze anos foi trabalhar em trens, onde fazia
pequenos serviços. Aproveitando uma velha máquina tipográfica, começou a
imprimir seus próprios panfletos sobre as vidas dos passageiros e sobre as
coisas que via nas viagens. Em pouco tempo tinha mais de quinhentos assinantes.
Durante a guerra civil, por
estar mais perto dos canais de informação, conseguiu vender em grandes
quantidades. Tornou-se depois, sem a ajuda da escola, um grande inventor.
A mesma origem humilde, independência e capacidade de empreender marcaram a vida de Benjamin Franklin, cuja erudição e domínio de várias línguas seriam incompreensíveis para a pedagogia moderna.
Aprendeu a ler, na infância, com a Bíblia, com livros de polêmica teológica e
com clássicos como Plutarco e Defoe. Aperfeiçoou a escrita imitando o estilo
dos periódicos, nos intervalos de uma jornada semanal de sessenta e quatro
horas. Para aperfeiçoar a precisão e a elegância do vocabulário, transcrevia os
artigos em versos e depois os transformava novamente em prosa, confrontando com
o original para corrigir possíveis falhas.
Aos dezesseis anos, decidiu
superar por conta própria as deficiências em matemática.
Lia também os livros de Locke
e os diálogos socráticos, procurando imitar nas conversações o estilo do
“humilde perguntador cético”.
George Washington, apesar de ser originário de uma família rica, ficou órfão aos dez anos e sem direito a herança, pois não era o primogênito. Considerado inculto por seus contemporâneos, entroa na escola aos doze anos, já sabendo ler e escrever. Lá, durante dois anos, aprendeu geometria, trigonometria e agrimensura (seu primeiro emprego, antes de completar dezoito anos.
Foto: Gilbert Stuart Williamstow |
Nessa idade, analisava por
conta própria documentos legais, recibos, letras de câmbio, arrendamentos e
patentes.
Estudou boas maneiras,
copiando um velho livro dos jesuítas e aprendeu, por conta própria, geografia e
astronomia.
Antes de completar dezoito
anos, havia lido vários clássicos, como Fielding, Defoe, Sêneca e Júlio César.
A par desses interesses não desdenhou instruir-se em corte e costura e
construiu o projeto arquitetônico da própria casa.
Aos vinte anos, dava seus primeiros passos no empreendedorismo industrial e no cultivo de produtos agrícolas. Não apenas plantou trigo, mas investiu em moinhos e na comercialização da farinha, prosperando consideravelmente.
Sua participação na independência americana foi decisiva: além de ser general
na guerra de independência, foi um dos autores da constituição americana e o
primeiro pre3sidente do país.
Digitação: JP, 17-7-2023
* Ivan Illich, Filósofo Austríaco, Sociedade sem escolas, Petrópolis Vozes, 1985.
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