terça-feira, 25 de julho de 2023

O multiculturalismo assimilou, no fim das contas, o racismo e o moralismo que pretendia combater

Fausto Zamboni

(…)

A criação de termos que possam inibir, de antemão, reações adversas é outra estratégia comum. Um exemplo é “homofobia”, que significava, na linguagem médica, obsessão e ódio contra o homossexualismo. Hoje essa palavra “é, indiscriminadamente, aplicada a qualquer um que demonstre a menor reserva […] ou conteste (mesmo brandamente) qualquer reivindicação de direito especial (por mais extremo que seja) deles [os homossexuais] como grupo ou classe”.

O uso desse termo é tremendamente eficaz, principalmente para os grupos que promovem uma agenda política de ação afirmativa. Ainda que, da forma como é usado, seja cientificamente inadequado, vem imantado do prestígio da ciência, e intimida eventuais opositores, que serão associados a uma patologia, a um comportamento doentio e aberrante.

Qualquer tentativa de discutir a teoria suscita imediatamente o escândalo dos seus defensores mais acirrados, que não hesitam em rotular o interlocutor de preconceituoso, reacionário e opressor. A vitimização, no entanto, combina-se com o discurso crítico agressivo contra qualquer concepção ou convenção social que não esteja dentro dos cânones da “ideologia de gênero”.

Impõe-se, portanto, a proibição de discutir. A consciência humana é sufocada por essa ditadura ideológica, que não aceita o uso de termos ou conceitos estranhos ao seu ambiente cultural, numa atitude abertamente excludente.

A aceitação e o emprego do vocabulário politicamente correto significam submissão aos seus cânones: não é possível opor-se à sua mentalidade e às suas agendas políticas senão com um pleno domínio do idioma e com o conhecimento da origem e do sentido de cada um dos termos mais importantes que são empregados na discussão. O multiculturalismo assimilou, no fim das contas, o racismo e o moralismo que pretendia combater; é o reverso da mesma moeda, uma reação desproporcionada e igualmente tendenciosa.

Invertendo o ponto de vista e adotando a vitimização como atitude básica, continua-se a exaltar o apego ao particular e a difamar o sentimento do universal, cada grupo proclamando “a alta moralidade do seu egoísmo”.

Para combate a descrença na verdade e, consequentemente, no valor da própria atividade, os intelectuais redobram o moralismo e a combatividade política. Ressurge, com mais vigor, o policiamento ideológico, a impermeabilidade à visão do outro, a rejeição e até o ódio a quem pensa de forma diferente, sem nenhum esforço sério de entendê-lo nos seus próprios termos.
Eis aí a fórmula do preconceito, cultivado por muitos que acreditam estar combatendo… o preconceito

(…)

Título e Texto: Fausto Zamboni, in “Contra a Escola”, páginas 194 e 195 
Digitação: JP, 25-7-2023  


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