Carina Bratt
DE QUANDO EM SEMPRE, recebo em minha caixa de mensagens, e-mails engraçados, outros nem tanto. Alguns nem perco tempo em lê-los, em face de trazerem idiotices as mais variadas e sem nenhum fundamento lógico. Nesta sexta-feira, uma jovenzinha chamada Ellen Bausch, de treze anos, me enviou uma preciosidade que me deixou pasma. É uma croniquinha pequena, de poucas palavras. Contudo...
Menina escrevendo, Henriette Browne, 1870, Victoria & Albert Museum, Londres |
Me chamou a atenção pelas palavras colocadas, bem ainda o fio condutor da imaginação de uma pessoinha tão nova e, apesar da pouca idade, dona de uma sensibilidade cativante. Procurei manter a grafia original fazendo pequenas substituições de algumas palavras não acentuadas ou escritas erroneamente. A meu entendimento, o que conta é a maviosidade. A pureza da mensagem que a Ellen se propôs transmitir. E o fez magnificamente. Eis o texto:
"Olhos
vermelhos.
Brilha nesse breu forte da madrugada, uma cor muito intensa. Quase comparada ao brilho sedutor da lua quando está escondida se preparando para resplandecer. Ela espera, impaciente, à hora precisa em que o dia cansado se retire e se vá embora. Nova na idade e sem compreender algumas coisas simples que a vida nos oferece, apesar disso, sei o que esse brilho causa. Na verdade, ele gera um medo obscuro, uma nostalgia sem par e também uma tensão que gruda na pele.
Que tensão seria essa? A tensão de estar sendo observada tão descaradamente. De me sentir aprisionada à olhares que transmitem frieza. Uma frieza que machuca e fere bem aqui dentro da alma. Uma tensão que apenas se prepara para ser socado de volta ao dentro desse poço fundo em que se encontra a minha vida. A única fonte de luz que me rodeia, nasce dos belos olhos vermelhos dela. Olhos de um carmesim estupendo e brilhante.
Lembra-me uma tal amada do passado. Me recorda de um ontem que agora não sabe mais da existência do tempo que flui vertiginosamente. Garota boba e infeliz, entendo que lhe fiz mal. Que açoitei a sua honra. Peço perdão humildemente à bela senhorita. Um dia a sua pessoa me fez bem, um bem indescritível e envolvente que me deixou obcecada pelo seu amor. Na verdade, bem aqui no fundo do meu ser, eu queria dela uma coisa simples. Algo corriqueiro.
Queria a sua atenção. Do mesmo modo, o seu carinho, uma palavra de afeto. Uma apenas bastaria para me tirar do fundo da solidão. Não consegui. Seu carinho, não atingi. Sua beleza interior, idem. Nada! Nem perto cheguei. Acabei me tornando, por conta dessa falha de minha parte, num espírito inconsequente, como um morto vivo que vaga indefinidamente em minha mente, e que me deixa em tormento. Um tormento forte que exige o amor que eu sempre quis demonstrar e não atinei em como fazer.
Penso, às vezes, que esse par de olhos esbeltos que me dominavam, pertencem a ela, e, mesmo que distante, apartada, divorciada da minha realidade, ou pior, morta, não importa, ela mantém pulsante a esperança de um dia ser amada de verdade. Talvez ela não tenha atinado com o meu querer. Ou com o meu desejo de fazê-la feliz, completa, realizada, dona de si e de todo o amor que eu guardava em silencio para dar a ela. Para dar a ela Incondicionalmente."
A meu ver, nada a ser acrescentado Só parabenizar a Ellen e dizer: minha linda, vá em frente.
Título
e Texto: Carina Bratt, da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de
Janeiro. 16-7-2023
Como pássaro aprisionado
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