Ensaio sobre literatura, ensino e Educação Liberal
Fausto Zamboni, VIDE
Editorial, maio de 2016
Por que a escola não educa e condena tantas vidas ao desperdício e à esterilidade? A educação (ex-ducere, conduzir para fora) deixou de ser uma abertura à razão e ao espírito, convertendo-se em engenharia social, em manipulação dos instintos baixos para a realização da vontade de poder. O homem, não mais educado naquilo que tem de essencialmente humano, passou a ser instrumentalizado em vista de algum interesse econômico ou social. Em consequência, desumanizou-se, transformando-se no imbecil que, com base em concepções erradas acerca da natureza humana, cria políticas desumanas. Nessa situação de doença linguística e espiritual, perdeu a experiência de amplas faixas da realidade ligadas à razão e ao espírito, assim como a capacidade de compreendê-las e expressá-las. De nada nos serve essa louca pretensão de alterar a natureza humana e remodelar o mundo. Cabe a nós, então, fazer o inventário dos nossos descaminhos, e retomar a estrada mestra abandonada.
Fausto Zamboni
Caminhos para a autoeducação
No livro, Zamboni discorre sobre o processo de educação no ocidente. Ele traz à tona a educação liberal - difundida na idade antiga e na idade medieval em oposição à educação moderna, na qual há princípios e finalidades distintas. E, portanto, de que maneira esses processos educacionais impactaram no âmbito educacional no decorrer do tempo.
A educação liberal (clássica) nasce do berço da civilização ocidental: na Grécia clássica e helenística, e depois passa pelo período romano até a Idade Média - cuja particularidade foi agregar a cultura grega ao ensinamento cristão. A educação liberal, tinha a premissa da liberdade educacional; não era um ensino obrigatório, como na educação moderna. Além disso, esse modelo visava formar o homem em sua integralidade; disciplinas como a ética, a gramática, a retórica, a música, não eram pensadas como disciplinas individuais – elas tinham como finalidade formar um indivíduo pleno, com maior autonomia individual, através do conhecimento de sua própria cultura.
Na educação moderna, que começa com seus primeiros passos na Europa, entre o século XVI e XVII, ela tende a outra finalidade: uma educação obrigatória, que garanta ao máximo a expansão do ensino para uma grande quantidade de pessoas. E, assim, diante da transição para os estados modernos, foi-se criando escolas e mais escolas, na tentativa de democratizá-la para as pessoas. Dentro do período foi-se mudando a relação de trabalho com a revolução industrial, a divisão do trabalho e o avanço da ciência, e, assim, a “educação” tentava acompanhar as novas tendências. Desse modo, ela ficou cada vez mais voltada à restrita especialização e a mão de obra para o mercado de trabalho. O ensino moderno, distanciou-se da formação integral do indivíduo e passou a ser apenas uma “educação” especializada, cujo termo “educação” foi esvaziado de seu sentido original.
A educação moderna deu as pessoas maior acesso à “educação” – pois expandiu-se o ensino para uma quantidade maior de pessoas. Em compensação, essa “educação” ficava cada vez mais centralizada pelo poder estatal. O estado que detém a grade curricular, e as escolas necessitam cumprir o cronograma, seja em escola pública ou escola privada.
Com esse controle estatal mais severo, tivemos no século XX tiranias como o nazismo, o comunismo, cuja educação era formar pessoas para obedecer o regime. São modelos de ensino que fazem engenharia social através da educação obrigatória para moldar o “novo homem”. Portanto, o que menos importava nesses regimes, era a formação individual do aluno, e sim a crença no estado.
Hoje no Brasil, temos doutrinação ideológica através do MEC; vemos diversos exemplos de culto ao governo federal; doutrinação de crianças com uniformes do MST nas escolas. Além da falta de liberdade individual do estudante frente ao conteúdo estudado. Assim, ao mesmo tempo que democratiza a “educação para todos”, em contrapartida piora cada vez mais o desempenho dos alunos nas disciplinas elementares. É justamente o objetivo estatal – ter adeptos e não indivíduos capacitados intelectualmente para fazer suas escolhas individuais.
O caminho para voltarmos à formação completa do indivíduo, infelizmente não está no ensino regular. Muito longe disso. O que resta ao estudante sério é compreender a sua cultura, e através da “grande conversação” dos clássicos da cultura ocidental, é que ele vai compor-se como indivíduo e com a sociedade em que o rodeia, de forma livre, sem a obrigatoriedade do estado. Portanto, o grande avanço para o estudante livre é procurar as ferramentas da autoeducação para alcançar a excelência.
Texto: Rafael, skoob, 29-12-2026
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