terça-feira, 13 de junho de 2023

[Livros & Leituras] As grandes questões da Filosofia

Edição Gradiva Publicações, Lisboa, outubro de 2018

Simon Blackburn, um dos mais respeitados filósofos da sua geração, apresenta neste livro único uma síntese de um trabalho reflexivo de décadas, exclusivamente sobre as grandes questões da filosofia. É uma perspectiva de quem olha para a floresta e vê os padrões mais importantes, sem se perder no labirinto dos pormenores. O que somos nós, seres humanos?

Almas de outro mundo num corpo humano, demasiado humano, ou organismos biológicos?

Seremos realmente livres, ou apenas nos parece que o somos? Como viver da melhor maneira, e como organizar a vida política?

Estas e outras grandes questões filosóficas são abordadas sem tecnicismos, numa linguagem fluente e generosa para com o leitor. É um pouco como ouvir a posição de um filósofo experiente, que explica da maneira mais simples, mas sem simplismos, as armadilhas que temos de evitar para que pensemos por nós próprios com clareza sobre o que mais importa.

Simon Blackburn (n. 1944) [foto] é um filósofo inglês, membro do Trinity College da Universidade de Cambridge, investigador da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill, e professor do New College de Humanidades de Londres.

Autor de mais de dez livros de filosofia e de inúmeros artigos e recensões, destacou-se na área da metaética por defender o quasi-realismo, uma posição inspirada em Hume e que procura manter a objetividade dos juízos morais ao mesmo tempo que rejeita a existência de um domínio misterioso de realidades morais.


()

Fiquei contente de saber que o Brasil é um dos poucos países no mundo em que a filosofia faz parte do currículo escolar obrigatório.

Crianças são filósofos naturais. Todavia, esse talento é, com frequência, inibido nelas por nós adultos, que dissemos para elas se calarem, para não fazerem certas perguntas e para não se preocuparem com certas coisas.

Por conseguinte, as crianças acabam aprendendo a seguir o currículo obrigatório sem fazer perguntas, a resolver as equações e seguir em frente.

Essa supressão do questionamento e do espírito reflexivo é fatal para a educação. Esse ponto pode ser ilustrado por um exemplo tirado da educação da minha filha. Esta é uma história verídica. Minha filha frequentou escolas muito boas e caras em Oxford quando eu ali lecionava.

Um dia, quando tinha por volta de 15 anos, ela se aproximou de mim e disse: "eu cansei de física, eu odeio física, eu odeio ciência, eu não vou mais estudar ciência", e respondi: "mas o que está acontecendo?", e ela: "eu não entendo nada".

O que tinha acontecido na verdade é que eles precisavam resolver um problema relacionado à oscilação do pêndulo; eles deviam resolver uma equação sobre a velocidade do pêndulo na ponta de baixo usando uma equação que envolvia energia potencial, no topo do pêndulo, e energia cinética, na ponta de baixo do pêndulo. É um cálculo bastante simples.

Eu disse: "está bem, e o que você não entendeu?". E ela: "eu não entendi o que é essa coisa que ele chama de energia; o pêndulo no topo não tem energia, ele não está fazendo nada, ele está só ali parado, então por que deveríamos dizer que ele tem energia e que tem energia que se traduz em velocidade?". Ao que respondi: "e você perguntou isso para o professor?", e minha filha disse que sim, que tinha perguntado para o professor, e o que o professor tinha respondido: "resolva a equação e não faça perguntas".

O resultado do diálogo vocês já conhecem, minha filha chegou em casa e disse "eu cansei de ciência, não estudo mais isso", e de fato foi o que ela fez, desistiu de ciência pouco tempo depois.

Eis uma ilustração de como não lecionar, de como não educar pessoas. Pode até ser que as colegas de classe da minha filha que resolveram a equação tenham ido para a universidade e tenham se tornado muito boas em todo tipo de coisa; não nego que essa seja uma maneira de capacitar pessoas a exibir certas habilidades.

Tais pessoas podem certamente vir a se tornar engenheiros, doutores ou algo assim, mas isso não é uma educação, isso não aumenta nosso entendimento das engrenagens do mundo.

Fronteiras.com, janeiro de 2017

Gostei muito! 💙

Anteriores: 
Próximas leituras 
A Ucrânia e a Rússia – Do divórcio civilizado à guerra incivil 
Fables, de Jean de la Fontaine 
L'Ukraine et le basculement du monde 
MOÇAMBIQUE – Guerra secreta 1965-1974 
O Príncipe 
L’Intervalle entre le marchepied et le quai 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-