Stephen Kanitz
É alarmante como diversos segmentos da sociedade brasileira, especialmente a direita, a classe média, as 52% de mulheres que o elegeram, (52% dos homens votaram Bolsonaro) e os eleitores do Nordeste que votaram contra, além da própria esquerda, tiveram tanta dificuldade em compreender a figura política de Jair Bolsonaro.
Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil |
Primeiro a direita brasileira,
historicamente preocupada com questões de eficiência, estabilidade jurídica e
redução de impostos, nunca se esforçou para eleger um único governo.
A direita ingenuamente
acreditou por mais de 20 anos que o Partido Social-ista”Brasileiro liderado por
uma figura que introduziu o marxismo na maior universidade brasileira, os
representaria.
O termo
"Democrático" no PSDB, apenas significa que o partido opta por chegar
ao poder através de mecanismos democráticos, e não mais revolucionários, mesmo
que tal processo pudesse levar 30 anos.
Em nenhum momento prometeram
manter essa democracia uma vez no poder, como está em curso agora.
Paradoxalmente, a esquerda
também necessitava de Bolsonaro, visto que ela não poderia realizar cortes de
gastos, desestatizações, e limitar o aumento da dívida do governo sem ser
politicamente prejudicada.
Este padrão já foi observado
na Inglaterra, onde os conservadores frequentemente fazem reformas impopulares
como cortar custos e dívidas e aí perdem as eleições subsequentes, entregando
aos Trabalhistas um governo estável.
No contexto brasileiro, o funcionalismo público e as dívidas previdenciárias se tornaram uma carga insustentável para o orçamento do país, gerando competição entre os próprios setores governamentais pelos poucos recursos disponíveis.
Porque deixaram para o
Bolsonaro o jogo sujo e ingrato de ser o redutor de custos e dívidas,
despedindo gente e benesses.
Bolsonaro foi o primeiro
presidente a reconhecer que o Brasil está tecnicamente falido, que a previdência
está insolvente, que o Estado está gastando demais e mal, como o caso dos 37
Ministérios.
Obviamente Bolsonaro foi
duramente criticado e odiado por todos que seriam afetados, e eram muitos.
Mas teve que enfrentar
discórdia inclusive de conservadores e liberais, por não ser uma figura
“perfeita”, sem vícios e defeitos, imaculada.
Só que perfeito ninguém é.
Reduzir custos é tarefa dura,
desagradável, fazer acordos e reduzir somente a metade não funcionam.
A perda de Bolsonaro nas
eleições, dizem alguns, foi por culpa própria, ele deu muitos tiros no pé, não
escolheu suas batalhas topou todas, não divulgou seus feitos e conquistas. De
fato.
Mas foram justamente aqueles
que seriam os mais beneficiados que deram as costas, e nunca o defenderam das
gafes que cometia.
Poucos foram à sua defesa
argumentando “não foi bem assim”, “tiraram a frase do seu contexto”, como a
esquerda faz com muita eficiência “não há provas”, por exemplo.
Bolsonaro sendo um militar e
não sendo um político pecava falando sendo franco demais, articulando o que
pensa de verdade ou o que o povo sentia.
Agora teremos muita
dificuldade em ver um outro presidente comprometido com a redução de despesas e
austeridade fiscal.
Quem de direita vai se atrever
a competir?
Foi eleito com recursos
próprios, sem apoio partidário e sem fazer acordos políticos custosos e
ineficientes, um partido de um homem só.
Mesmo com as severas críticas
desde o primeiro dia de governo com sua personalidade incisiva e muitas vezes
polêmica, Bolsonaro abordou questões que poucos antes dele se atreveram a
tocar.
E ninguém saiu noticiando
conquistas importantes que terão resultados a longo prazo, como os Bancos
Comunitários, hipotecas para empreendedores, a Lei da Liberdade econômica, a
não ser alguns gatos pingados.
Bolsonaro está longe de ser um
político perfeito, mas é importante ponderar que a perfeição raramente é
encontrada na política.
Por isso não entendo o ódio
das 52% das mulheres brasileiras com relação a Bolsonaro que estava lutando
pelo futuro delas e de seus netos, quando a oposição claramente está preocupada
com si.
Bolsonaro foi o primeiro
presidente com coragem de dizer “não”, algo inexistente num país de acordos e
benesses, de compra de votos para dizerem “sim”.
Seu estilo direto e, por
vezes, controverso, foi visto como inapropriado por muitos, especialmente as
mulheres que o derrotaram dando 52% de seus votos ao mais simpático Lula.
Só que os desafios que o
Brasil enfrenta não podem ser superados com discursos paz e amor.
Não temos mais recursos
financeiros para agradar todo mundo.
Durante seu mandato a
corrupção foi reduzida em 95%, cumprindo a sua promessa eleitoral.
Mesmo assim, todos que votaram
contra Bolsonaro concentraram-se nas alegações menores, como as relacionadas às
"rachadinhas" passadas e de pequena monta, contra os bilhões do Porto
em Cuba e dezenas de outros casos.
Ainda assim, liberais e
conservadores mantiveram uma postura reservada e até contrária em relação à
Bolsonaro, preferindo uma Simone Tebet como sucessora e lutando pela sua
eleição como uma terceira via.
Muitos pareciam preferir uma
figura mais polida, com um discurso mais elegante, ainda que essas qualidades
não necessariamente se traduzissem em ações eficazes.
Em retrospecto, Bolsonaro foi
uma figura política que rompeu com muitos padrões estabelecidos, o que
desencadeou reações diversas e intensas.
Enquanto alguns celebraram sua
postura assertiva e foco na redução de gastos, a maioria lamentava suas falhas
e o estilo confrontador.
Independentemente é inegável
que a presença de Bolsonaro na presidência representou um período distinto na
história política brasileira.
Portanto, é fundamental
analisar o legado de Bolsonaro com uma lente equilibrada, ponderando suas
realizações e fracassos de forma justa. Que não vi ninguém fazer.
A expectativa de que teremos
novamente no Brasil um presidente que se comprometa com a redução de despesas,
que seja eleito sem apoio partidário e sem acordos políticos, parece pouco
provável.
Bolsonaro foi uma figura
única, com todas as suas falhas e acertos, em um momento único da história
política brasileira.
O Brasil do progresso sentirá
a sua falta.
Título e Texto: Stephen Kanitz, 30-6-2023
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Professor Kanitz sempre certeiro nas suas análises. Acho que é um dos poucos brasileiros que conseguer enxergar sem as lentes que a Globo coloca nas pessoas.
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