Paulo Hasse Paixão
A administração Biden informou os advogados de Donald Trump de que um grande júri tinha acusado o antigo presidente e que este devia entregar-se a um tribunal federal em Miami já amanhã. Trump foi ao Truth Social na quinta-feira para anunciar a acusação, proclamando a sua inocência e afirmando que se tratava de “um dia negro para a América”.
A notícia da acusação sufocou
rapidamente a cobertura mediática da alegação de uma fonte confidencial de que
o fundador da energética ucraniana Burisma tinha pago um suborno de 5 milhões
de dólares a Joe Biden. Embora a mudança na cobertura seja lamentável, porque
os meios de comunicação social mainstream tinham finalmente
começado a cobrir o escândalo da corrupção na família Biden, o momento
proporciona a justaposição perfeita entre a forma como o governo federal e a
imprensa corporativa lidaram com os dois casos. Também prova o que Trump disse
no seu post de reação à acusação de que foi alvo:
“Somos um país em sério e
rápido declínio”.
Nenhuma república pode
sobreviver a dois padrões de justiça aplicados com base nas preferências
políticas dos procuradores. No entanto, é precisamente a isso que os americanos
estão a assistir.
O antigo presidente
republicano tornou-se presa de um Departamento de Justiça e de um FBI altamente
politizados, que funcionam como máquinas repressivas em nome do regime, mesmo
antes de Biden ter posto os pés na Sala Oval. O relatório do
conselheiro especial John Durham revelou essa realidade. As tentativas de
destruir Trump continuaram durante todo o seu mandato e incluíram ataques de
procuradores democratas e das agências de inteligência e segurança federais.
Depois, quando Trump deixou a Casa Branca após a tomada de posse de Biden, um burocrata da Administração Nacional de Arquivos e Registos (NARA) lançou uma cruzada contra o antigo presidente por causa de certos documentos confidenciais, encontrados na residência do ex-presidente. Como já referimos anteriormente, todo o caso foi uma armadilha desde o início.
Em vez de trabalhar com Trump
para chegar a um acordo sobre o armazenamento dos registos presidenciais num
local mutuamente aceitável, como as autoridades tinham feito com o antigo
Presidente Barack Obama, a NARA enviou uma queixa criminal ao Departamento de
Justiça (DOJ) quando recebeu do ex-presidente registos com marcas de
confidencialidade. A NARA nem sequer o tinha feito quando surgiram claras
evidências que a antiga Secretária de Estado Hillary Clinton violou a
equivalente “Lei dos Registos Federais”. Em resposta à indicação do NARA, o DOJ
abriu imediatamente uma investigação sobre Trump e recorreu a um grande júri
para o intimar, o que levou à rusga a Mar-a-Lago.
A acusação contra o magnata de
Queens permanece selada, mas pelo que os procuradores federais terão dito aos
seus advogados, Trump acredita que as acusações criminais estão relacionadas
com esses documentos, com o antigo presidente a classificar o caso contra ele
como “Boxes Hoax” (farsa das caixas). De acordo com as fugas de informação para
a imprensa, o advogado especial Jack Smith acusou Trump de sete crimes, incluindo a retenção
intencional de informação relacionada com a defesa nacional, uma acusação de
falsas declarações e uma acusação de obstrução à justiça.
Até terça-feira, não saberemos
ao certo as acusações específicas e, mais importante ainda, os factos alegados
para apoiar as várias acusações. Mas o que é claro agora – abundantemente, dado
o último mês de revelações relacionadas com a não-investigação de Biden pelo
FBI – é que os poderes instituídos desistiram do estado de direito.
Não se trata apenas de haver
uma lei para os ricos e poderosos e outra para o resto dos americanos. Não, o
FBI e o DOJ provaram que decidem que lei se aplica e a quem, em função de
critérios estritamente políticos. De forma ainda mais devastadora, demonstraram
que controlam o destino dos seus opositores e que podem até retirá-los do
processo eleitoral.
Trump, ao anunciar que tinha
sido indiciado, sublinhou a duplicidade de critérios em relação aos documentos.
“Fui indiciado,
aparentemente por causa da farsa das caixas enquanto Biden tinha caixas na
Universidade de Delaware, caixas adicionais em Chinatown, D.C., com ainda mais
caixas na Universidade da Pensilvânia, e documentos espalhados pelo chão da sua
garagem…”
A posse por Biden de
documentos confidenciais mostra que o governo é normalmente indiferente ao
manuseamento incorreto de tais documentos. Embora isso confirme que o foco no
manuseamento de documentos por parte de Trump foi uma iniciativa para o
castigar e estigmatizar, é o facto de o FBI ter enterrado as provas de que
Biden aceitou um suborno de 5 milhões de dólares para controlar o curso de
certos negócios com países estrangeiros que anuncia o declínio da América. Confortavelmente
instalado na Sala Oval da Casa Branca estará alegadamente um sujeito que trocou
influência por dinheiro enquanto era vice-presidente de Barak Obama. E o FBI,
disso sabendo, decidiu ocultar a informação.
Convenhamos: este crime de
corrupção e tráfico de influências será incomparável com o ”crime” de
manuseamento ou armazenamento incorreto de documentos confidenciais. O próprio
Biden, como já tinha acontecido com Hillary Clinton e Barak Obama, não
utilizaram nem arquivaram corretamente documentos confidenciais e foram por
isso acusados de coisa nenhuma pelo sistema judicial da federação.
Ignorar a má gestão de
documentos confidenciais por parte de Biden e incriminar de Trump por causa do
mesmo comportamento, quando os dois são candidatos às próximas eleições
presidenciais, é grave. É característico de uma república das bananas, na
verdade.
Tonight on @SystemUpdate, live at 7pm ET:
— Glenn Greenwald (@ggreenwald) June 9, 2023
The indictment of Trump is wildly inconsistent with how similar and worse cases have been treated. It's hard not to see this as yet another abuse of power by an establishment desperate to see him ineligible:https://t.co/xByOXuaqck
A esquerda pode invocar
distinções falsas. Biden colaborou, Trump não; Trump enganou, Biden não, ou –
nos casos mais patológicos – Biden é um santo incapaz do pecado e Trump é um
demónio incapaz da virtude. Mas não há como contornar a realidade de que o FBI
usou o seu poder para proteger o político preferido, enterrando uma notícia de
que o fundador da Burisma, Mykola Zlochevsky, teria dito a uma fonte
confidencial “altamente credível” que tinha pago um suborno de 5 milhões de
dólares a Joe Biden.
Não se trata apenas de uma
questão de justiça desigual à luz da lei. Estamos a falar do FBI usar o seu
poder para decidir eleições e conduzir o destino da república. E é por isso que
os EUA são uma federação em sério e rápido declínio – por isso e pela recusa da
imprensa corrupta em fornecer o controlo necessário para forçar os governantes
a moderar as suas volições totalitárias, a ajustar o seu comportamento fora da
lei e a corrigir os seus erros mais escandalosos.
Título e Texto: Paulo Hasse Paixão, ContraCultura, 12-6-2023
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