Adrilles Jorge
Existe o pecado pela ação e pela omissão. Se você vê uma mulher sendo estuprada ou alguém ser morto à sua frente e não faz nada, você está permitindo um crime e anui, pela omissão e covardia, com o crime cometido. Existe no Brasil um regime de censura e perseguição. Todos veem e percebem isto — de jornalistas, juristas, influenciadores, políticos a pessoas comuns. São 220 milhões de pessoas que se percebem tolhidas em cada palavra ou pensamento por uma ditadura do Judiciário. Ninguém faz nada. Ou melhor dizendo, reclamam, desesperados. Mas ninguém faz nada de objetivo.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil/Carlos Moura/SCO/STF |
Uma coisa simples a ser feita? Pedir o impeachment de quem está à frente desta ditadura: o senhor Alexandre de Moraes. Ninguém o faz. Por medo, covardia, oportunismo ou alienação da realidade. Enquanto dominada pelo medo, a República da Censura se alastra pelas beiradas e pela frente. Também pela omissão.
Na CPI do 8 de Janeiro, por
exemplo, os depoimentos de Flávio Dino e do general Dias foram rejeitados. A
versão governista prevalecerá em meio ao silenciamento de vozes que poderiam
esclarecer uma verdade inconveniente ao governo. Dias e Dino, que foram
alertados pela Polícia Federal e pela Abin das invasões, poderiam explicar por
que nada fizeram para impedir as invasões. Dias poderia explicar por que
adulterou documentos que o alertaram sobre as invasões.
E o senhor Alexandre de Moraes poderia explicar se teve ou não acesso a essas comunicações e alertas sobre as invasões e as imagens do chefe do GSI, que recebeu e conduziu os invasores no fatídico 8 janeiro. Poderia explicar por que, em tendo posse destas informações, não ordenou a prisão de Dias ou por que prendeu como uma boiada milhares de pessoas sem a devida individuação de conduta. Nada disto saberemos.
Censura pela omissão, pelo
desaparecimento intencional de vozes. A jurisprudência alexandrina da censura
vai fazendo escola. Tentaram aprovar um projeto de lei que poderia proibir
qualquer pessoa de tecer críticas a qualquer político ou autoridade de Estado.
Hoje em dia, é implicitamente proibido qualquer crítica à atuação do Judiciário ou à
Justiça Eleitoral do Brasil — sob pena de multa, censura e prisão imediata sem
qualquer processo. Tudo implicado nos famigerados inquéritos de fake
news, discurso de ódio e atos golpistas, tipificações criminais criadas do
imaginário dos supremos juízes de nossa corte inquisitorial.
Claro que, em algum momento,
deputados e senadores e outras autoridades iriam invejar a intocabilidade dos
nossos juízes supremos. A sanha autoritária gerada por cima gera a vontade do
poder absoluto e intocável de todos os poderosos. Vontade de censurar toda
crítica ao seu poder constituído. Vaidade, tudo é vaidade, já dizia o demônio e
a sanha demoníaca autoritária de uma autoridade constituída e influenciada pela
soberba alexandrina suprema. Censura pela ação direta da vaidade. O projeto de
lei foi ceifado e diminuído. Mas a vontade narcísica da intocabilidade que fere
de morte o princípio básico da crítica legitima, que é o pilar base da
democracia, está aí, tatuado na história do Legislativo e na ação do Supremo
tupiniquim.
A jurisprudência da censura
avança para além da política. Se você quer apelar para Deus por um milagre,
esqueça. Querem também censurar e reescrever a Bíblia. O deputado
Nikolas Ferreira está ameaçado de prisão por criticar a Parada Gay, que
profanou símbolos sagrados do Cristianismo e promove a sexualização precoce de
crianças e ideologia de gênero. Para isto o deputado citou a Bíblia,
dizendo que homossexualidade não era doença, mas, sim pecado. E que Cristo
perdoa pecadores. Aqui cabe um parêntese meu: Cristo de fato nunca fez menção a
homossexualidade como pecado em nenhum dos Evangelhos. Há passagens
na Bíblia que criticam a homossexualidade, mas não na palavra de cristo. Cristo
talvez censurasse Nikolas por pôr palavras em sua boca. Ainda assim,
a Bíblia pode ser tomada como um livro sagrado e como lei para
a religião.
Alterar a Bíblia pra
caber num discurso pseudo-progressista e querer prender alguém por professar
sua fé no Livro Sagrado é profanar a liberdade de culto, que é liberdade de
expressão. Mais uma vez, é censura: pela ação e pela supressão e alteração de
palavras.
O mundo limpinho da
cultura Woke, que quer condenar todo mundo por homofobia, racismo,
machismo e todos os ismos é a base da censura do bem, que move Xandão e seus
Supremos. É a censura do bem. Em nome da democracia, Xandão não para de atacar:
mandou proibir todas as redes sociais de Monark e proibiu o próprio de dizer
qualquer coisa que ele, Xandão, considerar fake news. Por qualquer
coisa, leia-se contestar a lisura do processo eleitoral.
Ora, Trump recentemente em
entrevista à CNN disse que as eleições norte-americanas foram roubadas. Nada
lhe aconteceu. Sabe por quê? Porque os Estados Unidos são um país que sabem que
a crítica e a desconfiança, ainda que despropositadas e levianas, fazem parte
da liberdade de expressão dentro de uma democracia, que pressupõe o diálogo e
os contrastes para se chegar a um esboço de verdade.
Mas, no Brasil, a verdade
imperiosa de Alexandre de Moraes e seus assessores Supremos se impõem para
esmagar a liberdade, em nome de uma falsa democracia. Ditadura que se traveste
de democracia para poder esmagar a democracia. Com ajuda de uma imprensa que
censura a própria liberdade de análise, em nome de uma ideologia que quer
aprisionar a realidade dentro de um molde utópico de realidade.
A autocensura ideológica, o
oportunismo, a covardia política e a intolerância religiosa ajudam Alexandre e
seus assessores Supremos na empreitada rumo à censura total de tudo que não
seja a verdade única deles. Para tanto, já prenderam deputados, calaram senador,
prenderam humoristas, líderes evangélicos, caciques, pessoas comuns, senhoras
de idade completamente inocentes. Para isto, deixaram o humorista Bismark
Fugazza enjaulado, sem ver a luz do sol, por quarenta e cinco dias — sem sequer
uma acusação formal, em flagrante tortura do Estado a um cidadão comum.
O Brasil se tornou uma
República da Censura. República significa a coisa pública, ou seja, comandada
por todos, pelo povo. Se uma só pessoa comanda a verdade de uma nação, esta
coisa pública vira uma coisa privada. A coisa privada de Alexandre de Moraes.
Somos 220 milhões de pessoas comandadas pela censura de um único homem e seus
assessores Supremos.
Somos
220 milhões de pessoas comandadas pelo medo de contestar uma ordem abusiva,
censora e autoritária de um homem a quem conferimos um poder simbólico de
melhorar nossas vidas e que está piorando a vida de toda a República.
A República é uma ficção que criamos para
melhorar nossas vidas. Se esta República passa a piorar a vida de todos, qual a
razão de mantermos esta ficção? A coisa deve tornar a ser pública e as vozes
devem se sobrepor à voz de um único homem que quer calar a voz de todos. A
coisa é bastante óbvia. Só não vê quem não quer ver
e quem, por covardia ou canalhice, se cala e quer calar a todos que enxergam.
Título e Texto: Adrilles
Jorge, Revista Oeste, 18-6-2023, 9h
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‘Até quando o Brasil vai negar que está numa ditadura?’
E de Voltaire é o seguinte trecho em que se emprega exatamente a mesma expressão em francês: "Il y a toujours deux poids et deux mesures pour tous des droits des rois et des peuples" ('Há sempre dois pesos e duas medidas para os direitos dos reis e os direitos das pessoas comuns')". Ou seja: há um peso e há uma medida com que pesar e medir os direitos dos reis; e há um outro peso e uma outra medida para pesar e medir os direitos das pessoas comuns.
ResponderExcluirEpa! Vimos que você copiou o texto. Sem problemas, desde que cite o link: https://www.migalhas.com.br/coluna/gramatigalhas/335952/dois-pesos--duas-medidas---e-correto-dizer
Eu estou impressionado e horrorizado ao constatar e testemunhar o sistema repressivo que se apoderou da República Federativa do Brasil. Pela esquerda e extrema-esquerda que, no Judiciário, são meras bonecas de ventríloquo do Governo Federal. Assim como bonecas são a TV Globo, Folha e a "velha mídia". Tudo sob o olhar covarde de noventa por cento (ou mais?) de deputados e senadores, estes, sim, teoricamente, "defensores" do povo...
ResponderExcluirMeu querido Brasil... 😥