quarta-feira, 28 de junho de 2023

Em Botafogo, prédio lacra caçamba de lixo para que catadores não espalhem dejetos pela calçada

Após uma mulher escorregar numa montanha de lixo, cair e quebrar um dos braços, o condomínio decidiu adotar a medida

Patricia Lima

Quem já não tropeçou em montanhas de lixo jogadas pelas calçadas da cidade ou teve que andar pela pista de rolamento para escapar da visão dos rejeitos e do mal cheiro? Infelizmente, no Rio de Janeiro, se tornou comum ver moradores de rua e catadores de material reciclável rasgando os sacos de lixo colocados nas calçadas à procura de garrafas pet, latinhas de alumínio e outros itens do gênero.

Na Av. Boulevard 28 de Setembro, em Vila IsabelZona Norte da cidade, trechos inteiros das calçadas ficam intransitáveis, após a passagem dos catadores de recicláveis, que abrem todos os sacos de lixo, revolvendo e espalhando todo o material encontrado pelo chão. A passagem pela calçada fica inviabilizada, e os pedestres têm de andar pelo meio da rua.

Em muitas situações, mulheres com carrinhos de bebê ou com crianças bem pequenas ficam expostas ao mal cheiro e à contaminação sanitária. Isso sem contar os idosos, que contam com pouca mobilidade para escapar do safari do lixo.

Mas, a desordem não faz parte, apenas, dos bairros da Zona Norte. Na Rua General Polidoro, em Botafogo, na Zona Sul da cidade, a administração de um edifício encontrou um jeito, no mínimo, peculiar e criativo de escapar ao emporcalhamento da sua frente e calçada: trancafiar as caçambas de lixo. Isso mesmo, os funcionários do condomínio após coletarem o lixo, o colocam dentro das caçambas e depois lacram o equipamento, para que catadores ou moradores de rua não rasguem os sacos e espalhem os dejetos em frente à portaria.

Foto: José Roitberg

O pior de tudo é que, além das questões estéticas e sanitárias, a iniciativa foi amparada em um acidente. Um porteiro, de um dos edifícios da região e que não quis se identificar, relatou que há duas semanas quatro caçambas pertencentes ao condomínio foram viradas, deixando o lixo todo espalhado na calçada. Uma mulher, que passava pelo local, caiu e quebrou um dos braços. A partir de então, funcionários e administradores do edifício decidiram trancar o lixo nas caçambas, para aguardar a passagem dos caminhões da Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb).

Diante de uma prática disseminada na cidade, não caberia às autoridades públicas tomarem alguma providência para tamanho desmantelo? Se para o carioca e o fluminense, a situação já é desagradável e constrangedora, o que dirá para turistas nacionais e internacionais?

O jornalista José Roitberg, morador de Botafogo, afirma que a realidade de outras ruas do bairro é semelhante à da Rua General Polidoro, com diferença apenas de grau. Para ele, a realização da coleta seletiva do lixo por parte dos moradores dos edifícios já ajudaria bastante.

“Eu não sou contra os catadores. Para mim, a melhor solução seria os prédios deixarem as latas e PETs separadas ao lado do lixo para eles pegarem diretamente. Mas, a Comlurb e a Prefeitura parecem que não se importam se os catadores espalharem lixo nas calçadas – muitas vezes, multando os condomínios”, afirmou Roitberg.

Enquanto condomínios e poder público não tomam providências, cariocas, fluminenses e turistas têm de encarar as montanhas de lixo espalhadas pela cidade, com a atração de baratas e ratos.

Título e Texto: Patricia Lima, Diário do Rio, 28-6-2023

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