terça-feira, 16 de maio de 2023

[Livros & Leituras] MOÇAMBIQUE – Guerra secreta 1965-1974

O relato de um ex-oficial da PIDE/DGS em Moçambique nos anos quentes da guerra

De António Gomes Lopes, edição da Promobooks, segunda edição: julho de 2018, 196 páginas.

A Guerra da Independência de Moçambique, também conhecida (em Moçambique) como Luta Armada de Libertação Nacional, bem como Guerra Colonial Portuguesa foi um conflito armado entre as forças da guerrilha da FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) e as Forças Armadas de Portugal.

Oficialmente, a guerra teve início a 25 de setembro de 1964, com um ataque ao posto administrativo de Chai no então distrito (atualmente província) de Cabo Delgado, e terminou com um cessar-fogo a 8 de setembro de 1974, resultando numa independência negociada em 1975.

(…)
Wikipédia 

O Autor presta um bom serviço a todos que procuram desvendar um conjunto de explicações, sobre alguns assuntos da guerra em Moçambique que sempre levantaram dúvidas, sobre o comportamento das nossas forças de segurança.

Fornece informações organizadas e completas, sobre casos fundamentais da estratégia nacional e disponibiliza-as com a competência e autoridade, de quem conheça os factos na sua totalidade.

Em guerrilha a informação é a arma fundamental – mas a informação é secreta e inacessível para a generalidade da população e nomeadamente quando a maioria se encontra a dois mil quilômetros do teatro-de-operações e onde a presença da contrainformação é notória.

Nestas situações, o importante é perceber toda a dimensão do conflito, mas para isso, para a coesão da população, não pode haver demasiados aspectos secretos e considero este o maior dilema que entravou a solução.

Este livro mostra o que tanto portugueses europeus, asiáticos, africanos e árabes, tiveram um comportamento básico comum. Eles estavam na guerra por amor a Portugal e a preocupação era com o País: produzir e poupar. Não os movia a política, não procuravam o enriquecimento rápido, era o futuro deles e dos seus filhos que estavam em causa.

Este é também um desmentido verdadeiro, de que Portugal nunca quis negociar: desde Goa que se procuraram soluções alternativas. É um desmontar da “narrativa” que se construiu sob a base de um governo cego e esclerosado, feita por quem esteve presencialmente, com competência, a acompanhar os factos mais “quentes” da guerra secreta.

Prof. Dr. Eugénio do Canto Brandão

O autor faleceu em 9 de agosto de 2019

Na página 129 lemos:

“Em 15 de agosto de 1963, eclodiu a subversão em Brazzaville, e durante três dias, assistiu-se a uma chacina de pessoal das missões católicas e adeptos do presidente Fulbert Youlou, dirigida por técnicos da RPC (República Popular da China), que se encontravam acantonados na sua Embaixada.”

Pois é, eu, que estudava em Luanda, estava de férias escolares em Brazzaville nessa data, em casa dos meus pais que lá trabalhavam. A casa era relativamente próxima ao Palácio Presidencial. Da nossa casa deu para ouvir a “confusão”. Os congoleses nomearam essa subversão de “Les Trois Glorieuses”. O hino nacional, adotado em 1970, também tem esse nome.

Voltando ao livro, sim, é um livro interessante que, sem dúvida, interessará mais a quem estava na então África Portuguesa nas décadas de 60 e 70 do século passado.

O autor refere algumas vezes Jorge Jardim, que escreveu Moçambique – Terra queimada, confirmando as afirmações e atos daquele. 

Anteriores: 
O Príncipe 
L’Intervalle entre le marchepied et le quai 
Moçambique – Terra queimada 
A Arte da Guerra 
La grande peur des bien-pensants 
Manuel de lutte contre la diabolisation 
[Livros & Leituras] Liberdade de Expressão – Uma breve introdução 
La guerre secrète contre les peuples 
Houellebecq/Onfray: La Rencontre 
Contra a Democracia 

2 comentários:

  1. Agradeço a descrição sobre o livro do meu Pai. Infelizmente só deixou um livro com tanto que poderia contar atendendo à sua profissão o convencer a deixar algo foi insistência de anos. Aprecio mais a capa nova, exceto a frase "O relato de um ex-oficial da PIDE/DGS…" que num País como o nosso leva de antemão leitores a rejeitarem a obra.

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