Se curvar diante dessa turma não é uma
opção para quem preza a liberdade
Rodrigo Constantino
Eis o que sabemos com clareza hoje: quem quer que tente desafiar todo um sistema corrompido e poderoso será alvo de sua fúria e retaliação. Aconteceu nos Estados Unidos com Donald Trump, um outsider que pretendia “drenar o pântano” em Washington. Aconteceu com Jair Bolsonaro no Brasil, um deputado de baixo clero que acabou se tornando presidente, contra quase todas as expectativas — e esforço do próprio sistema.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil |
Nos Estados Unidos, a demonstração de força do “deep state” foi imediata: desde o começo de seu governo, Trump enfrentou investigações do FBI com base em dossiês forjados pelos próprios opositores democratas, a imprensa bateu na tecla do conluio com os russos, o presidente sofreu impeachment na Câmara por conta de pura fumaça, e por aí vai. Não houve qualquer sossego, e a pressão da máquina para destruir o magnata excêntrico foi impressionante e sem precedentes.
No Brasil vimos basicamente a
história se repetir com Bolsonaro. A velha imprensa passou a demonizar o presidente
de direita com os rótulos mais depreciativos existentes, reservados aos piores
tiranos genocidas do mundo. Tudo era motivo para bater em Bolsonaro, espalhar a
tese de ameaça fascista, unir esforços para retirá-lo do poder.
São muitos interesses obscuros dependentes do statu quo, de um Estado hipertrofiado e corrupto, com suas torneiras irrigando cofres de muitos companheiros. No setor bancário, uma cartelização conveniente; na indústria, o velho protecionismo comercial; as grandes empreiteiras necessitam da corrupção em obras públicas como as plantas precisam de água; sindicatos só pensam em mamar nas tetas estatais; artistas ficam de olho nos projetos aprovados pelo governo; funcionários públicos desejam manter privilégios; a velha imprensa adora as polpudas verbas de publicidade; etc.
Pensar que alguém vai declarar
guerra a todo esse mecanismo podre e sair ileso é otimismo demasiado. Achar que
vai conseguir isso “jogando nas quatro linhas da Constituição” o tempo todo,
enquanto os adversários chutam a canela, socam abaixo da cintura e jogam sujo,
aí já é uma perigosa ilusão mesmo. E, pelo visto, muito bolsonarista apostou
nessa ilusão. O “mito” jogava xadrez 4D, cada passo era milimetricamente
calculado, tudo estava sob controle, no momento certo — em 72 horas — haveria o
xeque-mate!
“Mas
a máfia nunca se dá por satisfeita com essa imagem de tirânica e cruel. Ela
quer mais: ela quer o manto da legitimidade, ela quer a aparência de decência.
Não basta perseguir críticos e concentrar todo o poder para sua pilhagem da
coisa pública. É preciso ir além.
Parece que o desenrolar da novela não foi exatamente de acordo com o script. Bolsonaro chora em público ao ser alvo de uma operação da Polícia Federal por conta de um cartão de vacina da covid, seu ex-assessor foi preso pois o sistema claramente ansiava por seu telefone, o ex-ministro Anderson Torres [foto] segue preso sem crime, o deputado Daniel Silveira, que recebeu a graça presidencial, continua atrás das grades, e vários jornalistas independentes, que enxergavam as virtudes do governo e denunciavam os truques escancarados do sistema, foram censurados, tiveram contas bancárias congeladas e até passaportes cancelados — como no meu caso.
A ditadura avançou rápido
demais, pois ministros supremos não enxergam quaisquer barreiras ao seu abuso
de poder. O arbítrio compensa, já que há um cúmplice no comando do Congresso, e
os militares devem estar mais preocupados com pintar algumas ruas pelo país.
Foi tudo dominado, à exceção, talvez, da Câmara, onde ainda há alguma
resistência heroica, como vimos na PL da Censura adiada e na derrubada do
decreto que destruía o Marco do Saneamento.
Na velha imprensa, os militantes do sistema vibram com a operação policial a mando do ministro Alexandre, cujo inquérito ilegal é elástico ao infinito e consegue abarcar simplesmente tudo. Se ministro petista era pego com mais de R$ 50 milhões em malas no seu apartamento, o ajudante de ordens de Bolsonaro tinha US$ 35 mil — sendo que ele tem filhos no exterior. Mas teve “jornalista” que tratou essa quantia em espécie como mais que suspeita: como prova de crime!
O esforço em igualar Bolsonaro
a Lula no quesito ética é homérico. Na verdade, o intuito é colocar Bolsonaro
como corrupto, e Lula como perseguido político. No país cujo sistema judiciário
solta traficante e ainda devolve seu helicóptero, eis que a suspeita de
adulteração num cartão de vacina de covid passa a ser “crime hediondo”. É tudo
tão patético que foi arquitetado para isso mesmo: mostrar quem manda, não
importa qualquer embasamento legal.
Já pulamos essa etapa do
verniz de legalidade faz tempo. Bolsonaro foi condenado antes de qualquer
crime. Agora é só encontrar alguma coisa qualquer ou, se for preciso, inventar.
Já temos, afinal, presos políticos no país, sem qualquer crime cometido, já que
não existe o “crime de opinião” previsto no Código Penal ou na Constituição. O
sistema podre e carcomido exibe sua força em praça pública, tal como faz a
máfia. Manda quem pode, obedece quem tem juízo e quer sobreviver.
Mas a máfia nunca se dá por
satisfeita com essa imagem de tirânica e cruel. Ela quer mais: quer o manto da
legitimidade, a aparência de decência. Não basta perseguir críticos e concentrar
todo o poder para sua pilhagem da coisa pública. É preciso ir além: usar esse
poder para humilhar e obrigar todos a reconhecerem em público, ainda que sob a
mira de uma arma oculta, quão maravilhosa essa máfia é para a sociedade e para
o mundo.
Ladrões comuns costumam se
contentar com o fruto do roubo. Esse sistema mafioso é muito pior: quer nos
escravizar e roubar, mas demanda que reconheçamos publicamente como são
fantásticos na “defesa da democracia”. É aí que entra a ideologia esquerdista e
as prostitutas midiáticas intelectuais prontas para defendê-la. Mexer com essa
gente é mexer num vespeiro. Há consequências, como muitos de nós sabemos bem.
Mas se curvar diante dessa turma não é uma opção para quem preza a liberdade,
tem dignidade e não aceita sacrificar sua consciência.
Título e Texto: Rodrigo
Constantino, Revista
Oeste, nº 163, 5-5-2023
O governo e o STF vão à forra
Brasil: o país do Estado animalesco contra o cidadão livre
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Londres, 5 de maio de 2023
Dinão e o covidão...
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