Paulo Hasse Paixão
Para contextualizar esta
notícia junto do público português que pode não ter conhecimento dos eventos em
causa ou ter sido mal informado, é importante um breve prólogo.
Entre 2016 e 2020, Donald
Trump foi acusado pelo establishment de Washington de ser um
espião russo. Um candidato à presidência, e depois um presidente, ao serviço de
Putin. Um personagem grotesco que apreciava que prostitutas moscovitas
urinassem sobre o seu corpo. O departamento de Justiça e o FBI lançaram uma
investigação sobre estas alegações e o New York Times, o Washington Post, a
CNN, a MSNBC e todos os mainstream media dos Estados Unidos da
América agrediram incessantemente o anterior inquilino da Casa Branca – e toda
a sua família – com a mirabolante narrativa, compilada no famoso Steele
Dossier e depois denominada como o “Conluio Russo”.
Sabemos hoje que a história
não tem um centímetro de verdade. Foi tudo fabricado a mando da senhora
Clinton. O Contra publicou em dezembro do ano passado um artigo sobre o assunto que se recomenda ao leitor mais interessado
sobre a realidade lamacenta e pútrida do pântano de Washington.
John Durham [foto], jurista independente (embora tenha sido eleito pelo Partido Democrata como procurador de Connecticut) foi nomeado em 2019 como “Conselheiro Especial” para fazer luz sobre o fraudulento processo. O seu relatório foi finalmente divulgado na segunda-feira passada e nele é explícito que o FBI usou “inteligência não corroborada” ao lançar sua investigação sobre o ex-presidente Donald Trump, e que os agentes desta agência não conseguiram manter “fidelidade estrita à lei” na sua investigação.
No relatório, podemos ler:
“Nem o Departamento de
Justiça nem a Comunidade de Inteligência parecem ter possuído qualquer prova
real de conluio no início da investigação. A nossa inquirição determinou que os
investigadores do Crossfire Hurricane não corroboraram e não puderam corroborar
nenhuma das alegações substantivas contidas no relatório Steele”.
Durham acrescentou que o FBI
“recebeu informações de que
a campanha de Hillary Clinton aprovou uma proposta de um dos seus conselheiros
de política externa para difamar Donald Trump, provocando um escândalo que
alegava a interferência dos serviços de segurança russos. A agência não cumpriu
a sua missão de fidelidade estrita à lei. A investigação prosseguiu mesmo
depois do director do FBI e outros terem tido conhecimento de informações
significativas e potencialmente contrárias às alegações de conluio.
Durham sublinha
especificamente o “Plano Clinton” de ligar Trump a Putin e à intrusão russa nos
sistemas informáticos do Comité Nacional Democrata, para distrair o público dos
seus próprios escândalos, como o do envio de emails secretos através de servidores pessoais. O
relatório refere que o Presidente Barack Obama, o Vice-Presidente Joe Biden, a
Procuradora-Geral Loretta Lynch e o Director do FBI James Comey foram
informados pessoalmente sobre o esquema de Clinton pelo Director da CIA John
Brennan, que registou a referência ao Plano nas suas notas manuscritas.
Segundo o Relatório Durham, o
“Plano Clinton” foi obtido pelo FBI quando este se baseava apenas no Steele
Dossier, um relatório desacreditado de alegações escabrosas sobre a
actividade sexual pessoal de Trump, que o FBI sabia estar a ser financiado e
promovido pela campanha de Clinton. Durham cita informações sobre uma reunião
entre o autor do Dossier, o antigo agente dos serviços secretos britânicos
Christopher Steele, e quadros de topo do FBI, bem como textos entre
funcionários desta agência federal, para demonstrar que eles sabiam que as
“provas” estavam ligadas a Clinton e que eram muito pouco credíveis.
Os agentes da linha da frente
que estavam a conduzir a investigação não receberam informações sobre o “Plano
Clinton” por parte da direcção do FBI, tendo alguns deles tomado conhecimento
do mesmo apenas quando foram entrevistados pelo gabinete de Durham.
Os principais responsáveis da
campanha de Hillary Clinton negaram o seu envolvimento na maquinação. O
presidente da campanha, John Podesta, e o conselheiro político sénior, Jake
Sullivan, afirmaram que a ideia de um plano desse tipo era “ridícula”. Sullivan
é actualmente conselheiro de segurança nacional do Presidente Joe Biden,
enquanto Podesta é conselheiro sénior de Biden para as alterações climáticas.
O relatório refere ainda que,
em 2016, funcionários do Departamento de Estado estavam também a monitorizar a
retórica da campanha de Trump e a compará-la com “candidatos europeus de
direita apoiados por Putin”. O relatório afirma que esta informação foi
fornecida à campanha de Clinton por antigos funcionários do Departamento de
Estado, que testemunharam que estavam a “soar um alarme interno” sobre Trump e
que estavam a “seguir” a sua retórica, com tarefas atribuídas a funcionários do
Serviço de Estrangeiros para acompanharem de perto determinados eventos.
Não se sabe quem são estes
“candidatos europeus de direita apoiados por Putin”. E, mais uma vez, as provas circunstanciais que estavam a tentar ser recolhidas pelo
Departamento de estado, seguem a velha máxima do infame chefe da polícia
secreta de Joseph Stalin, Lavrenti Pavlovitch Beria: “mostra-me o homem e eu
mostro-te o crime”.
A investigação à operação
“Crossfire Hurricane” do FBI sobre o “conluio russo” foi de início liderada por
um antigo director do FBI, James Comey, que Trump demitiu, por evidente conflito de interesses, logo após
assumir a presidência, e posteriormente assumida pelo Conselheiro Especial
Robert Muller, que mais tarde relatou não ter encontrado quaisquer evidências
de uma conspiração criminosa entre funcionários da campanha de Trump e agentes
do governo russo.
O Relatório Durham também
acusa os agentes do FBI de abusarem das leis de vigilância, nomeadamente da Lei
de Vigilância de Informações Estrangeiras (FISA), quando investigaram
funcionários da campanha de Trump, como o conselheiro de política externa
Carter Page. O relatório de Durham concluiu que os agentes do FBI tinham uma
“predisposição para investigar Trump”, mesmo na ausência de causa provável para
o fazer.
O relatório descreve também o
“tratamento díspar” dado pelo FBI ao candidato republicano Trump e à candidata
democrata Clinton durante as eleições, incluindo o facto de o FBI ter recebido
e ignorado informações de que um agente estrangeiro não identificado estava a
viajar para os EUA para contribuir financeiramente para a campanha da
ex-primeira-dama, circunstância que é ilegal ao abrigo da legislação da
federação. O relatório refere que um pedido de mandado FISA contra este agente
foi submetido à sede do FBI pelos agentes no terreno para aprovação, mas que
“Foi deixado no limbo
durante aproximadamente quatro meses… porque toda a gente estava ‘super
cuidadosa’ e assustada com o importante nome [Clinton] envolvido”.
O documento refere que o
agente estrangeiro que organizou a doação afirmou que os responsáveis pela
campanha de Clinton “estavam plenamente conscientes do plano desde o início”.
O relatório Durham afirma
conclusivamente que:
“O pessoal do FBI também
desrespeitou repetidamente requisitos importantes quando continuou a procurar
renovar a vigilância FISA a Donald Trump e aos seus directos colaboradores na
presidência, reconhecendo – tanto na altura como em retrospectiva – que não
acreditava genuinamente que houvesse uma causa provável para crer que o alvo
estava conscientemente envolvido em actividades clandestinas em nome de uma
potência estrangeira”.
Como sempre ou quase sempre no
pântano de Washington, as acusações dos poderes instituídos são produto de
projecção: é verdade que entre 2016 e 2020 existiu um conluio, mas não o de
Trump com Putin. O Conluio foi o da campanha de Clinton com o Departamento de
Justiça, o FBI e a imprensa corporativa com o fim de difamar Donald Trump.
Título e Texto: Paulo Hasse
Paixão, ContraCultura,
17-5-2023
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