“Lembro, aliás, quando a jornalista Vera Magalhães veio até mim através de mensagens diretas do Twitter – por vontade própria, sem que tivesse sido procurada por mim – para contar que os jornalistas convidados a ver o material da Vaza Jato não podiam entrar na sala com celular, computador, câmera, ou qualquer outro instrumento que possibilitasse a gravação das mensagens que lia. Somente a própria memória cerebral e anotações em papel poderiam ser usadas enquanto o jornalista via uma quantidade de palavras várias vezes maior do que o conteúdo de muitas bibliotecas.”
O parágrafo acima faz parte de um artigo da jornalista Paula Schmitt publicado pelo portal Poder360 em 2 de setembro de 2022. Nele, Schmitt tenta pela segunda vez chamar a atenção de seus leitores para fatos que sucederam uma certa série de matérias iniciada em 9 de junho de 2019 e que causou transtornos que reverberam até hoje no cenário político brasileiro. Sim, estamos falando da ‘Vaza jato’, os infames vazamentos de dados de autoridades publicados pelo Intercept Brasil e que, eventualmente, embasaram a suspeição de Sérgio Moro e a consequente elegibilidade de Lula. O resto, politicamente falando, é história. A jornalista, porém, não estava preocupada com detalhes manjados das denúncias, como o objetivo inicial do hacker ‘Vermelho’, a suposta participação de Manuela D’Ávila, ou mesmo seus desdobramentos políticos. Tudo isso já é, mais ou menos, de conhecimento público – digo mais ou menos porque alguns desses detalhes foram convenientemente esquecidos embaixo de algum tapete empoeirado do STF; o foco é outro.
Foto: Intercept Brasil |
Você já se perguntou por que
figuras que fizeram carreiras brilhantes enfileirando argumentos fundamentados,
apresentando provas irrefutáveis e fazendo discursos apaixonados contra Lula e
o PT de repente, não mais que de repente, deram um duplo twist carpado e se
tornaram defensores ferozes do lulopetismo? Marco Antônio Villa e Reinaldo
Azevedo seriam os exemplos mais proeminentes, talvez. Têm também aqueles que,
se não chegaram a vestir o boné da CUT, não menos subitamente se voltaram
contra Jair Bolsonaro: Felipe Moura Brasil e Nando Moura são dois que vêm à
mente. Por fim, mas não menos importantes, o grupo que sempre foi afeito às
esquerdas, mas que assumiu postura tão irracional que coloca em xeque a própria
sanidade de seus membros. É nele, neste grupo, que habita… Vera Magalhães.
Sugiro agora que você releia o parágrafo inicial e depois volte aqui. Voltou?
Continuando. Paula Schmitt
expõe no conjunto dos dois textos (cujos links estão disponíveis ao fim desta
matéria), de maneira brilhante, importante ressaltar, que Leandro Demori, sócio
do Intercept Brasil, estaria chantageando jornalistas que tiveram acesso ao
conteúdo da Vaza Jato, com o propósito de direcionar seus posicionamentos. Faz
sentido. Mas teriam essas pessoas segredos tão obscuros e terríveis ao ponto de
forçá-las a tamanho ridículo? Não necessariamente. Leiam com atenção outro
trecho do artigo de Schmitt:
“Algumas pessoas têm a ideia
equivocada de que “quem não deve, não teme”. Para essas pessoas, se você nunca
cometeu um crime, não há por que temer que seu telefone seja hackeado, porque
ninguém pode te chantagear. Esse é um dos erros intelectuais mais embaraçosos e
pervasivos que conheço, porque a verdade é que praticamente ninguém está imune
a sofrer chantagem: um homem que elogiou a cunhada para um amigo; uma
secretária que reclamou do mau-hálito do chefe; um neto que não aguenta mais
levar os avós no shopping; uma mulher que reclama sobre a falta de virilidade
do parceiro, um pai que admite um filho a outro… Nenhum desses exemplos é
crime, e ainda assim todos podem ser usados para chantagem, e podem ter mais
poder de persuasão do que a ameaça de cadeia. Eu expliquei isso em uma série
sobre a Vaza Jato, e sobre como Glenn Greenwald foi reverenciado pelos mesmos
jornalistas sobre quem ele afirmou ter material comprometedor.”
Captaram a mensagem? Cada um
sabe exatamente onde seu calo aperta. O que pode parecer tolo para você, pode
ser extremamente comprometedor para a história de vida de alguém – mais até que
defender com tamanho afinco o maior corrupto da história do Brasil. E é aí que
se insere, finalmente, o nosso personagem principal de hoje: Glenn Greenwald,
ex-sócio de Demori no Intercept Brasil e, surpreendentemente, recém-convertido
crítico impiedoso de Lula, do PT, do STF e de toda e qualquer coisa ou pessoa
que possa porventura colocar em risco sua liberdade de expressão. E não se
engane, o gringo é muito mais respeitado (e temido) lá fora que aqui. Sua voz
estoura bolhas, faz a diferença.
Glenn Greenwald não largou seu
maior projeto jornalístico, xodó de uma vida, porque deixou de gostar do que
fazia ou por alguma desavença comezinha com Demori. Foi algo grande, capaz de
fazê-lo, do dia para a noite, abdicar de algo que lhe custou muito tempo,
dinheiro e paixão. Talvez seu objetivo com a Vaza Jato fosse apenas expor o
modus operandi controverso de Moro, Dallagnol e companhia, despi-los da
fantasia de heróis no combate à corrupção e trazê-los de volta ao plano dos
mortais, com suas qualidades, mas também com defeitos, como aqueles que
qualquer ser humano possui. Mas quando a coisa ultrapassa seus limites éticos,
morais e sensoriais, Greenwald se afasta, e passa a militar por aquilo em que
sempre acreditou, independente de ideologia ou crença pessoal: o jornalismo de
qualidade, abastecido pela garantia constitucional da liberdade de expressão.
CONCLUSÃO
Se existe alguém hoje que pode
trazer à tona informações e provas de que o processo político brasileiro se
encontra maculado, e que já vem assim há um bom tempo, este alguém é Glenn
Greenwald. E se os últimos nove meses lhe foram cruéis, período em que seu
marido, o ex-deputado federal David Miranda, esteve preso a uma cama de UTI,
lutando bravamente por sua vida, agora, ou quando se sentir apto a fazê-lo, o
jornalista que venceu o Pulitzer ao revelar para o mundo o ardil de uma agência
de inteligência corrompida, poderá ir além, e salvar uma democracia inteira.
Caso Greenwald diga o que sabe, muita gente que por ora se julga acima do bem e
do mal terá que prestar contas a quem há anos insiste em subjugar. Precisamos
acreditar nisso. A bola, senhoras e senhores, está agora nos pés de Verdevaldo.
Links da notícia:
https://www.poder360.com.br/opiniao/carta-aberta-a-alexandre-o-diminuto/
Título e Texto: BPN News, 17-5-2023, 17h03
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