Paulo Hasse Paixão
Tendo em conta a sua popularidade e relevância, continua a ser espantoso o facto da Fox News ter decidido despedir Tucker Carlson. Quer dizer, espantoso no sentido do tiro de canhão que a estação disparou contra si própria. A maioria das pessoas concorda que a Fox perdeu muito mais do que a sua estrela de primeira grandeza. Perdeu metade das audiências do horário nobre e muita da sua credibilidade como entidade independente dos aparelhos do poder em Washington. Embora Tucker possa pegar na multidão imensa de seguidores e começar de novo noutra plataforma, com igual ou superior sucesso, a Fox não pode evitar parecer uma empresa de comunicação domesticada pelas elites, que agora já nenhum conservador com espinha dorsal tem razões para ver.
De facto, Carlson era a única
razão para ver notícias na televisão por cabo. Ele era a única pessoa autêntica
que desafiava linhas partidárias e narrativas transformistas. Como o
apresentador do Daily Wire, Matt Walsh, observou recentemente no seu programa, os monólogos de
Carlson eram, por si só, acontecimentos noticiosos, de tal forma iam ao
encontro dos sentimentos e à vontade de verdade da sua audiência. Para além de
o tornar popular, a autenticidade e a independência de Carlson tornaram-no
único e claramente insubstituível.
Quando podia ter mantido o
guião e deixado que a sua popularidade o levasse pacificamente até à reforma, o
anfitrião mais bem sucedido da história dos canais noticiosos por cabo
continuou a correr riscos cada vez maiores e a irritar pessoas cada vez mais
poderosas.
Algumas pessoas compararam a sua saída com a de Bill O’Reilly, que também conquistou grandes audiências, mas O’Reilly era um especialista de uma época diferente. A sua marca era totalmente diferente da de Carlson. Ele defendia as velhas prioridades da direita: combater os terroristas, expandir o comércio global e baixar os impostos. Em contrapartida, Carlson expressava opiniões populistas, manifestava-se contra a máquina de guerra do aparelho militar e industrial americano, defendendo uma perspectiva não intervencionista, falava em nome das massas de colarinho azul da América profunda, desesperava com os seus assertivos ferrões satíricos as elites globalistas e trazia à luz do dias os escuros pântanos de corrupção e tráfico de influências onde prosperam.
Enquanto O’Reilly é uma
relíquia da conservadorismo capitalista, Carlson é emblemático de um novo
movimento conservador, que se opõe à narrativa esquerdista propagada pelos
meios de comunicação tradicionais. Ao despedir aquele que era de longe o seu
mais proeminente anfitrião, os dirigentes da Fox News decidiram regressar aos
bons velhos tempos do conservadorismo neoliberal, que é mais ou menos tolerado
pelos apparatchiks de Washington. De agora em diante, as emissões de notícias e
de opinião serão seguras, filtradas e pouco exigentes.
A curto prazo, isto pode
proteger a Fox de mais processos judiciais e perseguições, mas a longo prazo,
assegura que o canal cairá no esquecimento, juntamente com o resto da televisão
por cabo, à medida que os meios de comunicação social alternativos que
prosperam na web e que já apresentam audiências muito superiores aos canais
noticiosos.
Em vez de tratar este facto
como uma perda, os conservadores devem congratular-se com a mudança. Isto pode
levar mais pessoas, especialmente as gerações mais velhas, a abandonar
completamente os noticiários por cabo. Os conservadores podem deixar a
programação insípida desses serviços por cabo para os esquerdistas que se orgulham
de serem desinformados, condicionados, manipulados e enganados.
É cristalino, de qualquer
forma, que Carlson não podia ficar na Fox para sempre. Embora se tenha
destacado como apresentador de televisão por cabo, os seus comentários, a sua
inteligência, a sua irreverência e a sua vontade de explorar controvérsias
adequam-se mais a novas plataformas de comunicação, como o Twiter, que na
Terça-feira à noite ele anunciou como o seu novo reduto. Em muitos aspectos,
Tucker tinha uma tendência contracultural e anti-establishment mais
forte do que o típico punk rocker, o que, convenhamos, nem é dizer muito hoje
em dia.
Como tal, é apropriado que ele
possa transitar para um meio que lhe permita trabalhar nos seus próprios
termos. Uma plataforma que lhe dê mais liberdade para se exprimir e para
amplificar vozes e argumentos importantes. E Elon Musk por certo garantiu-lhe
essa autonomia.
Enquanto os meios de
comunicação social corporativos controlam a informação e o pensamento, a web
oferece aos conservadores e populistas e libertários de todo o mundo uma
multitude de vozes, todas elas discutindo e competindo umas com as outras para
aumentar as suas audiências. Sem dúvida que os poderes instituídos vão e já
estão a declarar guerra à imprensa independente que prospera na net, e a
esquerda radical vai também tentar ocupar o seu espaço nos media alternativos e
destruir a liberdade de expressão dos seus adversários. É o que faz esta gente.
Compreensivelmente, percebem que rebeldes como Carlson, que combatem a sua
agenda, os impedem de alcançar a supremacia cultural, política e económica. É
por isso que dedicam muita energia e recursos ao controlo de todas as redes
sociais e plataformas de televisão por cabo. Até ao ponto de fazerem claudicar
a Fox News.
Felizmente, as tentativas da
esquerda e das elites para censurar e controlar o discurso público online
têm-se revelado, em certos momentos, desastradas ou infrutíferas, mesmo em
perímetros mais facilmente controláveis como certas redes sociais. Mas
silenciar toda a dissidência da World Wide Web é mais complicado. E calar um
dissidente apenas contribui para que outros dez apareçam e digam algo ainda
mais “perigoso”. Além disso, não conseguem evitar parecer fascistas e
hipócritas sempre que jogam este jogo, enfurecendo mesmo aqueles, poucos, da
velha guarda, que, mesmo à esquerda, tentam ser fieis aos seus princípios
fundamentais.
Isso não significa que devemos
conviver confortavelmente com o ataque à liberdade de expressão e aos media
alternativos. As pessoas que estão empenhadas na verdade, na liberdade e nas
virtude do mercado de ideias devem continuar a denunciar a censura, o
coorporativismo e os monopólios empresariais.
Mesmo com Carlson a voltar ao
activo no Twitter e a Fox em colapso absoluto de audiências, continua a ser
escandaloso o facto de ele ter sido despedido. Para transformar este revés numa
vitória, os conservadores devem perscrutar as intenções por detrás da sua
saída, apoiar os meios de comunicação alternativos e (como Tucker Carlson
disse num vídeo após o seu despedimento) falar contra as falsidades com a maior
confiança e frequência possível.
Título e Texto: Paulo Hasse
Paixão, ContraCultura, 12-5-2023
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