domingo, 7 de maio de 2023

[As danações de Carina] As rapinantes da sabedoria

Carina Bratt

A DESIGNAÇÃO GERAL dá conta de que elas, as corujas, são aves de temperamento tímido, quietas e discretas. Pertencem as famílias das passeadoras noturnas e costumam chamar a atenção em vista da cabeça grande, aparentemente maior por causa da plumagem, imensos olhos fixos, posicionados para diante, à maneira do ser humano, ouvidos desenvolvidos, mais aguçados, além das penas fofas e soltas. 

Os dicionários nos ensinam que as corujas são bichos de plumagem mole e voos silenciosos. Se criadas em cativeiros ficam mansas, principalmente se aprisionadas desde filhotes. A maioria pousa na mão do dono e aceita alimentos dados por ele. Preferem almoçar ratos, camundongos, pássaros e pequenos animais mortos, embora não sejam acostumadas com a carne bovina, menos ainda a suína.

À noite, não dispensam um saboroso gafanhoto ao alho e olho, ou larvas de Tenébrio (1) com miojo e bastante caldo misturado com pedaços de tomates. Essa preferência se dá ao fato dessas iguarias, ao serem devoradas, não causarem perturbações nas funções digestivas. É comum, depois de um apetitoso jantar, vomitarem os pêlos e parte dos ossos ingeridos, uma vez que carregam a particularidade de engolirem os alimentos todos de uma só vez.

Todavia, agem assim, não sem antes aproveitarem, ao máximo possível, o bolo alimentar regurgitando (lançando o que há em excesso para fora do estômago), expelindo igualmente as penas e os ossos em forma de rolinhos de cabelo, depois de, claro, palitarem cuidadosamente os dentes não permitindo que nenhuma sujeira fique grudada ou exposta, o que causaria mau cheiro aos demais componentes do bando.

De quase todos os animais existentes, a coruja é um dos poucos que quase não gastam dinheiro com dentistas. Usam cuidar com esmero da arcada dentária evitando que outros, ao se aproximarem, sintam algum tipo de cheiro desagradável por falta de higiene bucal. O mesmo acontece com o resto do corpo. Extremamente amantes da limpeza, tomam de oito a dez banhos diários, exceto no inverno quando esses números caem para três.

Pesquisa recente, publicada numa revista especializada em animais exóticos, norteiam que os hipopótamos e as jaguatiricas aparecem em (5º) quinto lugar no quesito asseio. Em (4º) quarto, estão as macacas que, além de uma boa ducha ou banho de cachoeira, não perdem de vista os salões de beleza. Em (3º) terceiro, aparecem os elefantes, empatados com os crocodilos. Em (2º) segundo, as leoas e os jacarés e, no topo da lista, as corujas que não trocam, por nada desse mundo, as banheiras de ofurô, com sais e ervas perfumadas.

As corujas representam, pois, a suavité personefiqué da raça, seja em graça ou beleza, como também pelo fanatismo instilado no cultuamento à erudição. Daí representarem a sabedoria em toda sua majestade. Outra singularidade é que jamais transam com companheiros diferentes. O escolhido viverá com sua amada o resto de seus dias, observando que o tempo médio de existência dessas aves é de (15) quinze a (20) vinte anos.

Ao contrário do que se pensava até bem pouco tempo, as corujas não sofrem de vaginismo, como algumas mulheres, ou seja, aquela contratura dos músculos que não permite a penetração do macho na hora de partir para a procriação. Geralmente as corujas se entregam de corpo e alma ao acasalamento. Ao prenhar, põem de três a cinco ovos por postura. O tempo de incubação gira num círculo de (32) trinta e dois a (34) trinta e quatro dias.

Os bebezinhos “corujinhos” e “corujinhas” têm uma variação para começarem a voar, dependendo da espécie, porém, essa diferença genética nunca ultrapassa os (86) oitenta e seis dias. Por derradeiro, as corujas não transmitem nenhum tipo de enfermidade como é inofensiva para o homem. Os varões, por sua vez, não passam às consortes doenças sexualmente transmissíveis, até porque, não traem, em nenhuma circunstância as suas escolhidas. Tampouco arranjam corujas vadias para sexo fora do casamento.

Por essa razão, os machos jamais usam camisinhas. O aparelho reprodutor de um caboré (2), embora relativamente de volume bastante expressivo, por se situar em local de difícil acesso, acaba se tornado humanamente impossível para o cabeça do casal (por mais assanhado ou tarado que seja, ou esteja), colocar um preservativo na sua amada na hora exata de partir para os caminhos do amor, mesmo se levando em conta os mais habilidosos ‘meninos’ dessa linhagem.

Aproveitando o gancho, já não queremos falar no tesão dos machos. Seria meio complicado, pois envolve uma série de pequenos fatores que se alinhados, passariam de mil. Apenas para meditação e esclarecimento das minhas leitoras e amigas. A fome de procriar desses animais é deveras interessante: dura apenas cinco segundos. E não tem um segundo tempo. Ainda que algum ‘corujo’ metido a médico especialista ou farmacêutico com anos de experiência, com certeza, nenhum deles ousará receitar algum azulzinho ou equivalente com promessas de alongamento ou dilatação na hora do balanceamento dos esqueletos. 

Notas de rodapé:
1) Larvas de Tenébrio: Bicho da farinha ou nome das larvas do besouro.
2) Caboré: Ave de rapina encontrada em certas partes do Brasil. O nome vem originário da família das corujas. Vale também a dita palavra para sinalizar pessoas feias e esquisitas, notadamente aquelas criaturas cujas aparências são tidas como anormais e fora dos padrões genéticos conhecidos. Designa também uma criança pequena.

Livros pesquisados sobre as ‘Corujas’: 
‘A Captura’, de Kathr Laski – Volume Um. 
‘A Coruja era filha do padeiro’ de Marion Woodman e 
‘A Coruja curiosa’ de Liliana Lacocca

Título e texto: Carina Bratt, de Brasília Distrito Federal, 7-5-2023

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