Carina Bratt
ESTOU ME SENTINDO PERDIDA, como se tivesse sido deixada ou esquecida numa cidade estranha, longe da terra, distanciada da civilização. Ao meu redor, me contemplam casas sorumbáticas, de semblantes iracundos, de construções rudes e afeiadas (1) pelo abandono. Mais ao longe, praças esquisitas com cicatrizes desanimadoras e sem as cores vivas e pulsantes da plenitude do dia a dia, fenecem ao sabor de um esquecimento cada vez mais crescente. Para onde quer que espie, capturo pessoas com óculos disfarçados escondendo as vistas em rostos desapontados e sem o arguto fulgurante da paz acolhedora. Parecem temer literalmente a minha presença.
Em derredor vejo mais: criaturas enfastiadas e macambúzias, com
sombreamentos respingados de desgraças abordidas (2) e capiongas (3). Tudo
diferente daquele mundo maravilhoso, que me enche a alma de alegrais e
contentamentos... onde a felicidade reina absoluta e se faz majestosa, dona de
tudo. Lembro que não preciso me preocupar em pensar em momentos nostálgicos.
Tudo acontece assim, num piscar de pálpebras, num fugaz ocioso e involuntário,
que me parece ter escapado do relógio do tempo.
Não contente, os ponteiros desse mesmo relógio, se embrenhado por sendas
de rotas funestas não têm outro propósito a não ser o de me levarem para
‘lugares nenhum’, notadamente à espaços onde não possa desfrutar da
tranquilidade plena e da realização magistral. Sem o abrigo do chão amigo, me
flagro escorada em paredes de peles nojosas. Falta algo essencial que me ponha
de volta nos trilhos e me conceda ser, de novo, euzinha completa, dentro de um
‘agora’ que não me reavive os medos ou agite destrambelhadamente meu coração.
Ao entorno de mim, o mundo, num estalo, se fez feio e carrancudo. Se transformou voraz e tenebroso, a ponto de, até mesmo a calçada onde me encontro agora, se constituir num planeta repleto de pequenas recordações de ‘um ontem’ que me fugiu ao alcance das mãos. Além de perdida, a paz de espírito se debandou, se foi, de vez, para o espaço. De roldão, a esperança que embalava a minha serenidade se dissipou num buraco enorme de proporções incomensuráveis.
Apesar de todos esses pequenos contratempos, me sinto realizada. Não
entrego os pontos. Isso, jamais! Dura na queda, sou feliz, plena, completa.
Vivo a alegria do encantamento de um momento (ainda que desolador e
decepcionante), só meu. Ninguém pega, ninguém quer, ninguém tasca. Além de
perdida, na verdade, fui achada, resgatada pelos carinhos incontestáveis do Pai
Maior. O Deus Viril e Potente, que me revigora, me anima e me coloca para cima.
Vez em quando, é bom que o ‘Nebuloso’ me faça uma visita inesperada.
Que adentre em minha vida sem mandar mensagens via WhatsApp, sem ligar
usando celular, sem tocar a campainha. Todas essas manobras perniciosas servem
para me renovar o corpo, excitar a alma, repaginar o meu espírito. Tudo faz
parte de um ‘Plano Maior do Onipotente’ atrelado a uma sintonia meridiana
diretamente ligada com as coisas boas do Universo. Com isso, numa introspecção
(4) séria e idônea, me faz ver claramente o outro lado das fatalidades e infortúnios.
Mesmo caminho, me ajuda a sopesar as feridas e fistulas; me coloca em linha
direita com as máculas e úlceras abertas.
Por tudo o que acima expus, um conselho às minhas amigas. Devemos ter em conta, sempre, sempre e acima de tudo, que o ‘Amor Incondicional’ que vem lá do mais divorciado alto, age como uma mola propulsora para espantar os percalços e incômodos, as moléstias e enojos que pensamos ser ou estarem por qualquer motivo, em desacordo. Na verdade, o perenal, o irrestrito, o perpétuo contido no além do Infinito, está nos mostrando, com toda a clareza, minuto a minuto, segundo a segundo, a benevolência, a brandura e a afabilidade, o sucesso da complacência indestrutível. Por conta, não posso me olvidar (e aconselho às minhas leitoras que façam o mesmo), ou dito de forma mais expansiva, a acreditarem que, acima de nós, existe um ‘Ser Divinizado’. Um ‘Ente Amigo’ que só quer nos ver, acima de qualquer suspeita, FELIZES E REALIZADAS.
Resumindo o meu pavor cédrio (5) em imaginar que fui deixada e
esquecida..., que em meu derredor somente mágoas e momentos de agouros
duvidosos, entrelaçados a um punhado de semblantes iracundos; outro tanto de
fortuitos os mais tétricos e abordidos; capiongas e sempiternos impedem, na
Renovação do Ser e de ‘eu ser Inteiramente Feliz’, esses e outros entraves me
levam a acreditar (e acredito, sem sombra de dúvidas), num amanhã melhor e sem
máculas. Precisamos aprender a contemplar TUDO. O TODO QUE NOS CERCA, NÃO SÓ
COM OS OLHOS FÍSICOS, MAIS PRECISAMENTE COM OS FASCINANTES E INIGUALÁVEIS
EXISTENTES DENTRO DE NOSSA ALMA.
1) Afeiadas – Variante de feio, horrível ou desengonçado.
2) Abordidas – Coisas entristecidas e sorumbáticas.
3) Capiongas – Macambúzias ou entediadas.
4) Introspecção – Exame, ou auto-observação de si mesmo, por conta própria.
5) Cédrio – Medonho, funesto, infausto.
Título e Texto: Carina Bratt, da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro. 26-3-2022
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