Jason Brennam
É possível que esteja
convencido – com base em episódios vividos e em experiências pessoais – de que
os votantes não sabem muito. Mas, se não estiver familiarizado com as
estatísticas, há uma forte probabilidade de que lhes atribua demasiado crédito
e as suas experiências pessoais sejam enganadoras.
Quando lhe pedem que pense
sobre votantes não informados, provavelmente lembra-se dos seus conhecidos ou
familiares mais ignorantes. No entanto, por estar a ler este livro, posso supor
que tem, ou terá em breve, pelo menos uma licenciatura. Mesmo que frequente uma
universidade de segunda linha, os seus colegas continuarão a constituir a elite
intelectual da sua nação.
O leitor, os seus amigos, os
seus familiares e conhecidos estão provavelmente pelo menos no grupo dos dez
por cento mais informados do seu país.
Nos anos 40 e 50, vários
investigadores da Universidade de Columbia e da Universidade do Michigan
começaram a catalogar o que os cidadãos comuns sabem e não sabem sobre
política. Os resultados foram deprimentes.
Como resume o politólogo
Philip Converse, “As duas verdades mais simples que conheço sobre a
distribuição da informação política nos eleitorados modernos são que a média +e
baixa e a variância elevada.
Somin, autor de Democracy
and Political Ignorance, refere: “A enorme profundidade da ignorância da
maioria dos votantes individuais é chocante para muitos observadores não familiarizados
com os estudos.” Na sua ampla revisão de literatura empírica sobre o
conhecimento dos votantes, Somin conclui que pelo menos 35% são “totalmente
ignorantes”, (realço votantes porque nem todas as pessoas votam, e as pessoas
que escolhem não votar tendem a saber menos que as que escolhem votar).
O politólogo Larry Bartels
observa que “a ignorância política do votante americano é uma das
características mais bem documentadas da política contemporânea”.
O teórico político Jeffrey
Friedman acrescenta: “O público é de longe mais ignorante que os acadêmicos ou
os jornalistas observadores do público se apercebem.”
O politólogo John Ferejohn concorda: “Nada afeta o estudioso de opinião pública e da democracia mais vigorosamente que a escassez de informação que a maioria das pessoas possui sobre política.”
Poderia escrever um livro
inteiro apenas a documentar o pouco que os votantes sabem, mas, dado que muitos
outros já o fizeram, apresentarei apenas alguns exemplos:
· Em anos de eleições, a maior parte dos cidadãos
não consegue identificar nenhum dos candidatos do seu distrito ao Congresso.
· Geralmente os cidadãos não sabem que partido
controla o Congresso.
· Imediatamente antes da eleição presidencial de
2004, quase 70% dos cidadãos norte-americanos desconheciam que o Congresso
tinha adicionado um benefício de prescrição de medicação ao Medicare, ainda que
isto representasse um aumento gigante no orçamento federal e constituísse o
maior novo programa de direitos desde que o presidente Lyndon Johnson iniciou a
Guerra à Pobreza.
· Na eleição presidencial intercalar de 2010,
apenas 34% dos votantes sabiam que o Troubled Asset Relief Program,
(Programa de Compra de Ativos Tóxicos) fora promulgado durante a administração
de George W. Bush, e não na de Barak Obama. Apenas 39% sabiam que a defesa foi
a maior categoria de dispêndio discricionário no orçamento federal.
· Os americanos sobrestimam muito o montante
monetário despendido em ajuda externa; muitos estejam erradamente convencidos
de que podemos reduzir de modo significativo o défice cortando nessa
componente.
· Em 1964, apenas uma minoria dos cidadãos sabia
que a União Soviética não era membro da Organização do Tratado do
Atlântico Norte (sim, é mesmo isso: a OTAN, uma aliança criada para se opor à
União Soviética). É de salientar que tal
se verificou apenas pouco tempo após a crise dos mísseis em Cuba, durante a
qual os Estados Unidos quase entraram numa guerra nuclear com a URSS.
· 73% dos americanos desconhecem o que foi a
Guerra Fria.
· A maior parte dos americanos não sabe, nem mesmo
aproximadamente, que montantes são despendidos em segurança social ou que
percentagem do orçamento federal isso representa.
· 40% dos americanos não sabem contra quem os
Estados Unidos combateram na Segunda Guerra Mundial.
· Durante a eleição presidencial de 2000 nos
Estados Unidos, embora um pouco mais de metade dos americanos soubessem que Al
Gore era mais liberal que Bush, não pareciam compreender o significado da
palavra liberal. 57% sabiam que Gore era a favor de um nível de despesa
mais elevado que Bush, mas significativamente menos de metade sabiam que Gore
era maior apoiante do direito ao aborto e dos programas do estado social,
favorecia um nível mais elevado de ajuda aos negros, ou era mais adepto da
regulamentação ambiental. Apenas 37% sabiam que o dispêndio federal direcionado
à pobreza tinha aumentado ou que o crime havia diminuído nos anos 90. Em
relação a estas questões, os americanos fizeram pior do que atirar uma moeda ao
ar. Ocorreram resultados similares noutros anos eleitorais.
Isto é uma
amostra. Poderia continuar a documentar tal ignorância ao longo de centenas de
páginas. Contudo, como referi, outros já o fizeram em pormenor. Em resumo, os
votantes geralmente sabem quem é o presidente, mas não sabem muito mais do que
isso.
(…)
Digitação: JP, 22-3-2023
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