terça-feira, 28 de março de 2023

O falso debate sobre a tirolesa no Pão de Açúcar

O morador da Urca e os pseudo-ambientalistas são contra a Tirolesa do Pão de Açúcar, mas por que, se só trará claros benefícios para o Rio de Janeiro?

Quintino Gomes Freire

Está tendo uma discussão bem intrincada em tudo que é mídia do Rio sobre a Tirolesa no Pão de Açúcar, neste momento. Enquanto isso, nosso turismo engatinha, por falta de ações diferentes, falta de coragem, falta de inovação. Por isso e muito mais, isto é um falso debate; qualquer pessoa minimamente razoável e com entendimento sobre o trade, sabe que o projeto é excelente para a cidade. Em uma cidade como a nossa, que ainda anda tão carente de boas notícias, é de se aplaudir a decisão do Parque em criar mais este atrativo que possa atrair turistas, ainda mais jovens. Infelizmente, sabemos que não falta no Rio quem goste de reclamar, em especial dois tipos de gente que claramente não querem ver o Rio progredir um único milímetro: O morador da Urca (vulgarmente conhecido pelas iniciais QPDNSA – “quero progresso desde que não seja aqui“) e os nossos eternos pseudo ambientalistas.

Foto: Rafa Pereira

O morador da Urca é um tipo especial de carioca, odeia qualquer progresso; lembra o pessoal da antiga associação de moradores de Santa Teresa, hoje enfraquecida. Mal sabem quem antes deles, ali era Mata Atlântica e baía, e até onde sei eles não são um dos povos nativos, e nem são como os Tijucanos ou Insulanos. Para o “urquino”, “urquiniano?” a Urca deveria ser fechada, o Bar Urca expropriado e uma cancela colocada na frente e só entrar quem residir na região, nem entregador de pizza poderia passar. Eles querem ser como um daqueles condomínios na Barra, só que com a rua pública.

Vale lembrar que eles foram contra o colégio Eleva, e como por alguma razão talvez divina aparecem acima do cidadão médio carioca na pirâmide populacional, quase conseguiram que o negócio não ocorresse. Por conta deles, o Cassino da Urca virou por décadas um destroço, uma cicatriz no bairro, até que alguém corajosamente conseguisse empreender no imóvel, vazio desde a falência da TV TUPI, de Assis Chateaubriand (que, sabemos, estava uns centímetros acima dos “urquianos” na pirâmide de quem manda no país). Eles conseguiram proibir até mesmo que os pais levassem os filhos de carro para a escola e Eleva, e quase proibiram que o “Instituto Europeo de Design” fosse para o bairro, e devem ter dado graças quando saiu. Sinceramente, difícil entender uma população tão tacanha. Se o povo de Copacabana tivesse um décimo da voz dos “urquianos”, adeus Quiosques, adeus Hotéis, adeus Shows, adeus Turismo. Uma espécie de Reino do Butão tupiniquim estaria instalada no sopé do Pão de Acúcar. Mas menos feliz.

Já o auto-declarado protetor do meio ambiente carioca é outro grupo que merece ser estudado. Não dão um pio sobre a favelização que grassa pela cidade, ou mesmo se há construções irregulares à beira dos Rios e florestas. Aliás, querem que as florestas se explodam, e adoram ver serem desmatadas para construir barracos; também ficam alegrinhos e defendem que os mesmos barracos atirem lixo nas montanhas e esgoto nos sistemas de águas da chuva, poluindo as praias. Está aí a Secretária do Meio Ambiente do Rio, a arquiteta Tainá de Paula, meio que comprovando esta minha tese bem rasa, e que poderia gerar quilômetros de páginas de textos com exemplos e mais exemplos. Aliás, se fosse por essas figuras, não ia ter bondinho do Pão de Açúcar. Eles inclusive impediram a terceira parada, que ia chegar onde hoje temos…uma saborosa favela. Dessas que eles defendem. Por eles, não ia ter Cristo Redentor, nem Caminho Aéreo. Mas favela, isso ia ter em todo lugar; são viúvas tristíssimas das favelas do Esqueleto, da Catacumba, do Pasmado, da Praia do Pinto.

Estes dois grupos finalmente se uniram e decidiram ser contra a Tirolesa do Pão de Açúcar. O morador da Urca diz que vai prejudicar o bairro; vai levar mais turista ao Pão de Açúcar e encher o bairro. Que aguentem, o bairro tem um dos maiores pontos turísticos do mundo, e quem mora em ponto turístico tem que conviver com turista, e com gordos preços de revenda de seus imóveis. Ponto turístico é lugar de elevado preço, e grande frequência. Podem tranquilamente vender suas casas e morar num lugar mais pacato, como a Praça 24 de Outubro, em Inhaúma. Lugar aprazível e com sombra, e ainda com (bem) poucos turistas. Os protetores de meio ambiente – claro – dizem que a tirolesa prejudicará a fauna e flora da região; bem, se fosse uma favela talvez batessem palmas. Bichinho não gosta de barulho de tirolesa e grito de turista, mas adora que desmatem os morros e construam casas sem saneamento básico.

E vamos ser sinceros, nem vai levar tantos mais turistas a ponto de estrangular o bairro, não mais que um dia lotado do Bondinho, simplesmente porque o limite é ele próprio: o veículo. Não vai ter surfista de bondinho. Impacto visual? Nenhum, além de ser algo mais bacana de ser ver no Rio e bater palmas (merecidas), bem melhor que uma favela, ou camelôs que esburacam os calçadões de Burle Marx (tombados!). Impacto ambiental os estudos mostram que não haverá algum. A totalidade das licenças necessárias já foram obtidas. Toda cidade que tem turismo pujante está ganhando este tipo de equipamento.

Quando fiz o texto “Estou Cansado do Rio de Janeiro” meu protesto não era apenas sobre nossos problemas de violência, mas também sobre a forma que o carioca acaba agindo – ele mesmo – contra o Rio, contra o empreendedorismo, contra ações que vão atrair turistas, pessoas que gastem dinheiro e queiram retornar à nossa cidade maravilhosa. Parece que alguns torcem e mesmo lutam pelo nosso fracasso retumbante, aqui mostrei só 2 tipos deles, mas há vários outros. E vou continuar enumerando, daqui para frente. Viva o Rio!

Título e Texto: Quintino Gomes Freire, Diário do Rio, 27-3-2023 

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