sexta-feira, 12 de maio de 2023

O profeta Ciro

Eunício Oliveira, Luiz Inácio Lula da Silva, Cacique Raoni Metuktire, Guilherme Boulos, Ciro Gomes e Renan Calheiros. Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock/Agência Brasil/Câmara dos Deputados/Ricardo Stuckert/PR

Numa entrevista em 2022, o pedetista aviso que, depois de eleito, Lula entregaria "as políticas de papo-furado — mulher, índio e negro — para o PT se divertir", a política e o Orçamento para o centrão e iria passear no estrangeiro

Rodrigo Constantino

Em terra de cego, quem tem um olho é rei. E em terra brasilis, até Ciro Gomes é profeta! O esquerdista voltou aos temas comentados nas redes sociais esses dias, e não foi por fugir da indenização que deve a Fernando Holiday por tê-lo chamado de “capitãozinho do mato”, mas por conta de uma resposta que deu numa entrevista em agosto de 2022, sobre como seria um terceiro governo Lula.

Disse o pedetista: “Uma tragédia grande. A margem pra aumentar juros não existe mais. Ele não tem lucidez disso, não quer ouvir e o quadro técnico ao lado dele é de oitavo nível. Quando chegar lá, uma conta impagável com Renan Calheiros, Eunício Oliveira, MDB, Guilherme Boulos, ministério pra todo mundo. Tudo num cenário completamente diferente de 2003. E a expectativa do povão é cerveja e picanha. Ele vai botar um banqueiro em Economia, entregar as políticas de papo-furado — mulher, índio e negro — para o PT se divertir, a política e o Orçamento pro centrão e vai passear no estrangeiro”.

Acertou quase tudo! Tirando o banqueiro na Economia — temos o poste petista do Haddad em vez disso —, cada previsão se concretizou. Lula segue fazendo várias viagens e consumindo milhões dos pagadores de impostos para se hospedar em hotéis de luxo ou levar companheiros no avião oficial enquanto autoriza liberar até R$ 10 bilhões das “emendas do relator” para o centrão, de olho na “governabilidade” no Congresso após derrotas expressivas. O Orçamento secreto era “o maior escândalo de corrupção da história”, segundo Lula, mas agora ele quer utilizar o instrumento para seu projeto de poder.

Arminio Fraga, Henrique Meirelles, Elena Landau, João Amoedo e tantos outros com perfil tucano pregaram o voto no petista para “salvar a democracia”. Pouco depois, vários deles já davam sinais de arrependimento ou demonstravam receio e medo com o Lula vingativo e radical

O país voltou a ter recorde de ministérios, o PT assumiu as pastas identitárias, a conta a pagar só aumenta e o presidente do Banco Central independente passou a ser o bode expiatório da vez. O quadro técnico em torno do governo, de fato, é péssimo, e a imprensa militante precisa elogiar economista que nega a possibilidade de estagflação — ou seja, gente que em pleno século 21 ainda não compreendeu que a inflação é sempre um fenômeno monetário e que é perfeitamente possível ter alto índice de aumento geral de preços com baixo crescimento econômico ou mesmo recessão.

Ciro Gomes não comentou sobre o aspecto geopolítico, mas aqui também não era nada difícil acertar: o Brasil se torna um pária mundial ao defender os regimes mais nefastos enquanto se afasta dos valores ocidentais. O PT sempre flertou com as ideologias mais totalitárias e nunca poupou elogios aos regimes ditatoriais mais cruéis do planeta.

Toda essa tragédia era certa como a mudança das estações. O que chama a atenção, portanto, não é o “dom profético” de Ciro Gomes, mas a quantidade de gente que fez o L sabendo disso tudo. Arminio Fraga, Henrique Meirelles, Elena Landau, João Amoedo e tantos outros com perfil tucano pregaram o voto no petista para “salvar a democracia”. Pouco depois, vários deles já davam sinais de arrependimento ou demonstravam receio e medo com o Lula vingativo e radical. A tal “frente ampla” nunca passou de um slogan. Talvez pela previsão de que fosse ter um banqueiro na Economia, muitos desses economistas de mercado apoiaram o PT iludidos. Acordaram com Haddad.

E, como a ilusão não pode acabar, sob o risco de virar pesadelo rápido demais, eis que muitos deles resolveram transformar Haddad no bastião da responsabilidade fiscal. Com a militância da velha imprensa, eles tentam emplacar a narrativa de que Haddad é sério e bem-intencionado, além de capaz, e luta contra os devaneios petistas. O poste que foi colocado lá justamente por ser medíocre e fraco tem sido retratado pela mídia como um quadro técnico e independente, disposto a confrontar o chefe em nome do mercado!

Claro que ninguém acredita para valer nessa ladainha patética. Tanto que uma pesquisa recente da Quaest revela que 86% do mercado avalia o governo Lula como negativo, e somente 2% o consideram positivo (quem seriam esses loucos?). Para jornalistas como Miriam Leitão, que vem fazendo um tremendo esforço para defender o indefensável, isso é paradoxal, já que a maioria também aposta na aprovação do “arcabouço fiscal”. A militância petista parece incapaz de se dar conta de que uma coisa está ligada à outra, ou seja, o mercado sabe que o “calabouço fiscal” será aprovado apenas para conceder ao governo uma licença para furar o teto de gastos, nada mais.

Sim, tudo no atual governo é péssimo, e uma tragédia está em andamento. A sensação de quem sabia disso tudo é a de total impotência, de quem assiste a um filme de terror em câmera lenta, conhecendo o final sombrio sem ter como evitá-lo. Mas, se vamos todos acabar tragados pelo buraco negro petista, então ao menos alguns de nós pretendemos cair atirando naqueles que foram cúmplices da tragédia. Se até Ciro Gomes foi capaz de antecipar o caos, como perdoar figuras como Arminio Fraga, Meirelles ou Amoedo? Essa turma tem suas impressões digitais nas cenas do crime. Mesmo conhecendo bem a essência petista, preferiram declarar apoio a Lula por nojinho de Bolsonaro. E condenaram toda uma nação ao fazer isso.

Título e Texto: Rodrigo Constantino, Revista Oeste, nº 164, 12-5-2023

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