Favelas são insalubres, são inseguras e
devemos assumir: não deveriam existir. São resultado da falta de um programa
habitacional no Rio de Janeiro
Quintino Gomes Freire
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Foto: Rafa Pereira |
Prefeitos vêm e vão, vereadores e governadores, deputados e senadores, e as favelas do Rio continuam crescendo e se tornando bolsões de criminalidade na cidade, além de grandes vilãs do meio-ambiente. Sim, sim, é óbvio que os que moram nestas comunidades não são todos criminosos, e sim apenas uma minoria fortemente armada que subjuga os demais. E tem aquele velho papinho que os verdadeiros barões do crime viveriam em suas coberturas na Vieira Souto, o fato que ninguém tem certeza, mas todos adoramos repetir. Mas é nas favelas que estão as armas e os bandidos que incomodam o dia a dia do cidadão – inclusive do morador da própria favela – vamos ter clareza sobre esta situação. O crime de colarinho branco poderia até vir a ser “pior” e afetar mais vidas indiretamente (?), mas nenhum turista deixa de ir para as Bermudas, Samoa ou Seychelles porque são paraísos fiscais.
Pelo motivo de que existe toda
uma mística pseudocultural, quase religiosa, envolvendo as favelas, é que não
se combate elas de frente. Houve coisas controversas na história da cidade,
como retirar comunidades inteiras da Zona Sul e jogar todos para a Cidade de
Deus, a quilômetros de distância do emprego e na época sem transporte adequado.
Remoções traumáticas, mas que geraram regiões valorizadas, turísticas e
bonitas, em que pese o trauma. Talvez não devamos defender isso, mas também a ideia
Mozer a de “urbanizar” como foi o Favela Bairro já mostrou que não funciona,
apenas adiou o problema, que continuou a existir e a crescer desordenadamente.
O cidadão, por mais pobre que
seja, merece seus direitos básicos, que a favela não atende: não tem como ter
saneamento básico, segurança, energia vem dos gatos de luz (que vem a causar
a quase quebra da Light, razão para uma futura matéria) e tudo isso os
deixa à margem da sociedade. O Estado não chega, claro que não chega, como
chegar? Favelas nascem na ilegalidade, um pesadelo burocrático para qualquer
governo por mais competente que seja. Ao mesmo tempo, apetitoso celeiro de
votos – e dízimos – para muitos aproveitadores.
Há a necessidade de décadas de
um verdadeiro programa habitacional no Rio de Janeiro, um programa sério, que
retire a população de barracos e verticalize estas favelas, colocando praças,
escolas, comércio e transportes. Ou mesmo usar terrenos vazios na Avenida
Brasil para grandes conjuntos habitacionais estruturados e com boa aparência e
proximidade a transportes, e o mesmo se pode dizer para espaços no Centro do
Rio e na Zona Norte, onde já há infraestrutura. A rua Uranos, por exemplo, é um
gigantesco é inútil deserto. Por que não enchê-la de moradias populares?
E os morros? Os morros do Rio
são desenhados pela divindade que os criou para serem berço de Mata Atlântica,
ou, em casos em que já há desmatamento, deveriam se tornar condomínios de alto
valor agregado, casas com terrenos enormes ou mesmo prédios como ocorre nas
montanhas de Mônaco ou Hong Kong. A legislação idiota que proibiu construções
acima de 100m de altitude é a verdadeira causadora das favelas da zona sul. Ideia
de algum idealista burro que quase arruinou a área turística da cidade. O que o
mercado formal não pôde fazer, a informalidade fez. E fez feio.
Ninguém aguenta mais esse
blábláblá de “cultura da favela”. Não existe essa cultura da favela: existe
cultura popular, cultura brasileira, criatividade do nosso povo, que é forte,
altivo e consegue encontrar alegria e felicidade até onde os problemas afloram
de forma mais pungente. O povo que mora no conjunto habitacional, na Fazenda
Botafogo, na Cruzada São Sebastião ou na subida da rua Zizi ou na da rua
Maturaca, também tem religião, também tem cultura, também sabe cantar funk e
samba.
Ainda quero sonhar com um Rio
melhor, e isso passa por moradia digna para todos os cariocas, sem risco de
desabamento, sem lixo pelas encostas, sem destruição de florestas e com
dignidade para todos, além de um turismo forte, e uma política local com menos
gente que precise construir bolsões de miséria para ficar se reelegendo.
Título e Texto: Quintino Gomes Freire, Diário do Rio, 17-5-2023
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