Henrique Pereira dos Santos
Rui Ramos começa hoje a sua crônica com uma
frase batida: "Em Portugal, a vida da oposição nunca foi fácil".
Não estou de acordo.
A vida da oposição no tempo de
Cavaco (antes disso não havia propriamente situação e oposição, porque todos
eram tudo ao mesmo tempo) não foi fácil, é verdade, porque se estava no segundo
maior período de crescimento e convergência com os países mais desenvolvidos do
século XX (o primeiro foi entre a adesão à EFTA e o primeiro choque
petrolífero, em 1973) e é sempre difícil ser oposição a um governo que governa
numa altura em que há uma melhoria de vida generalizada.
Mas daí para a frente, a vida
da oposição de direita nunca foi fácil, mas a vida da oposição de esquerda foi
sempre facílima, basta ver a quantidade de vezes em que há títulos de jornal
como "BE quer" isto e aquilo, sem que ninguém se pergunte realmente o
que significam as suas propostas e se avaliem os resultados práticos das
políticas que defende.
Um bom exemplo é o da posição dos políticos sobre a Palestina: é facílimo dizer que se é a favor de uma Palestina livre, sem que um único jornalista pergunte, como devia, se isso quer dizer que o Estado de Israel deve ser varrido do mapa, ou como se espera que os direitos dos judeus sejam garantidos num Estado de maioria árabe muçulmana que venha a existir.
A vida da oposição no tempo de
Passos Coelho era tão fácil que praticamente ninguém perdeu tempo a perguntar
aos então oposicionistas o que pensavam sobre o memorando de entendimento com a
troika que o PS tinha negociado.
A oposição a Passos Coelho era
tão fácil, que facilmente se fala do enorme aumento de impostos de Vítor Gaspar
sem o ligar à estranha decisão do Tribunal Constitucional que, ao arrepio do
que tinha decidido no tempo de Sócrates sobre cortes na função pública,
resolveu defender os funcionários públicos à custa de toda a gente, obrigando à
solução de recurso de aumentar os impostos, para garantir o cumprimento dos objetivos
estabelecidos no memorando de entendimento que o PS tinha negociado com a troika.
A vida da oposição de direita
e liberal é de facto difícil, mas a vida da oposição da esquerda tem sido um
mar de rosas, quase nem havendo registo do facto de Mariana Mortágua achar que
nem os 600 milhões previstos na privatização iriam ser conseguidos, e hoje
dizer que os 900 milhões pelos quais os CTT foram vendidos foi uma venda ao
desbarato.
Não, não é a vida da oposição
que é sempre difícil em Portugal, é a imprensa (deveria dizer, a esmagadora
maioria das redações dos jornais, como se pode ver pelo Observador, cuja redação
pede meças ao Público na sua inclinação sentimental pela esquerda e o wokismo)
que escolheu um lado, em vez de cumprir o seu papel de produtor independente de
informação (veja-se o editorial
do Público de hoje, se houver dúvidas).
Título e Texto: Henrique
Pereira dos Santos, Corta-fitas,
5-1-2024
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O que é oposição política?
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