quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

França quase ignora ataques a cristãos

Numa quase indiferença total, os cristãos, os seus templos, os seus sacerdotes e os seus símbolos são atacados e vivem sob a ameaça constante da “Jhiad”

Paulo Simões

Depois de um longo período, mais de trinta anos, em que as autoridades francesas e os meios de comunicação pura e simplesmente ignoraram as consequências de uma imigração massiva com origem em países muçulmanos, hoje o assunto não pode mais ser evitado. Se o sentimento de insegurança invadiu a sociedade francesa, dado o aumento exponencial dos casos de violência, ainda pouco se fala dos atentados, ataques ou insultos praticados quase exclusivamente por muçulmanos contra igrejas e fiéis católicos. No entanto, se procurarmos bem, a par com a violência que se sente em toda a França, já mesmo em pequenos burgos, crescem igualmente os atentados contra padres, os gritos de “Allahu akbar” proferidos por grupelhos que interrompem as missas, os “tags” anticristãos pintados nas fachadas das igrejas, o roubo ou destruição de objectos de culto e as profanações de cemitérios.

Notre Dame des Victoires, Angers

É verdade que a França – antes historicamente designada como “A Filha Mais Velha da Igreja”, porque os seus reis são descendentes de Clóvis I, o primeiro rei bárbaro baptizado em 496 – se tem descristianizado de forma sistemática e a religião católica tem vindo a perder a importância que tinha outrora. Deste facto resulta uma certa indiferença da sociedade francesa e dos seus actores políticos pelo que se passa.

Por outro lado, assiste-se desde há quatro décadas a um aumento da emigração dos países do Magreb, em especial da Argélia – que tem privilégios especiais, por ter sido colónia francesa – e de países africanos de língua francesa, anteriores protectorados da França, onde a religião dominante é o islamismo. Hoje, segundo os dados do último censo (2023), 10 por cento dos cidadãos com idades compreendidas entre os 18 e os 59 anos de idade declararam praticar a religião muçulmana. Sabe-se que, contudo, os seguidores do Islão são muitos mais, mas como em França as estatísticas étnicas são proibidas – fundamentalmente por conveniência política – é impossível saber exactamente quantos vivem no país. O último censo mostra também que há 51 por cento dos franceses que dizem não ter religião e apenas 38 por cento se dizem cristãos.

É o ambiente ideal para que fanáticos islamitas promovam a “Jhiad”, ou seja o combate contra os infiéis, na interpretação daqueles que querem semear o terror e islamizar o Ocidente, seguindo os apelos de vários imames do Qatar ou da Arábia Saudita, repercutidos todas as sextas-feiras em algumas e muito frequentadas mesquitas por toda a França. Os ataques a Igrejas e a sacerdotes inscrevem-se nesta linha de actuação de tentativa de islamizar e de aterrorizar. E a lista é longa, apesar de as autoridades olharem para o lado – porque se intervierem podem causar a reacção violenta de milhões de muçulmanos – e de os órgãos de comunicação, completamente minados pela esquerda e extrema-esquerda, darem pouca ou nenhuma importância ao que se passa.

Vejamos uma lista, não exaustiva, dos atentados anticristãos no primeiro semestre de 2023 em França:

30 de Junho: muçulmanos espancaram um sacerdote católico de 80 anos, em Saint-Étienne. Após atirarem ao chão o padre Francis Palle, continuaram a espancá-lo e a dar-lhe pontapés até ele ficar inconsciente (ele foi encontrado em estado crítico).

26 de Junho: a igreja de Saint-Lazare, que fica perto de outra igreja que foi pesadamente vandalizada pelos muçulmanos em 5 de Julho, foi profanada e roubada.

20 de Junho: um “gangue de estudantes universitários” tomou de assalto a igreja Saint Roch, em Nice, entornaram desdenhosamente água benta sobre si aos gritos de “Allahu akbar”, que, segundo observa o relato, é “ouvido corriqueiramente em ataques islamistas”. O primeiro vice-prefeito de Nice, Anthony Borré, enviou uma carta aos seus superiores (que, ao que tudo indica, “assobiam para o lado”) instando-os a levar estas questões a sério. Dizia Borré: “Desde 29 de Outubro de 2020 e o ataque islamista à Basílica de Notre-Dame na nossa cidade (quando outro muçulmano chacinou duas mulheres francesas, uma decapitada, e um homem dentro de uma igreja gritando “Allahu akbar”), sabem muito bem o quão traumático pode ser para os nossos concidadãos ouvir tais expressões dentro de uma igreja e as dolorosas memórias que elas podem causar. Confrontados com estas tentativas de desestabilizar a sociedade e juntamente com os ataques à nossa República secular, temos que dar uma resposta forte e colectiva”.

23 de Junho: três muçulmanos, entre 12 e 13 anos, forçaram a entrada na Igreja Saint Joseph em Nice, durante uma missa da tarde, também a gritar “Allahu akbar”. Vale a pena lembrar que em 2016 em Nice foram assassinadas 84 pessoas num atentado cometido por um muçulmano.

12 de Junho: após invadir a igreja, um grupo de muçulmanos, retratados apenas como um “grupo de jovens”, atacou violentamente o padre Joseph Eid, da paróquia de Notre-Dame-du-Liban chamando-lhe “cristão imundo”. Enquanto fugiam dos transeuntes, vomitaram outros “insultos anticristãos”.

3 de Junho: a Igreja de Mailhac foi profundamente vandalizada.

28 de Maio: várias pessoas “não identificadas” invadiram e vandalizaram a igreja Saint-Laurent em Cugnaux, que conta com uma grande presença muçulmana: desfiguraram um crucifixo, deitaram velas ao chão, danificaram símbolos e, depois, incendiaram a igreja. Um transeunte, porém, interveio rapidamente, chamou o corpo de bombeiros que extinguiu as chamas. Em resposta, Albert Sanchez, presidente da câmara de Cugnaux, de esquerda, pediu mais “diálogo e compreensão entre as diferentes comunidades religiosas e culturais da nossa cidade”, pois “a diversidade é a nossa força e o nosso orgulho”.

4 de Maio: “viva o Islão” bem como caracteres árabes foram pintados nas paredes de uma igreja em Lieusaint, em Seine-et-Marne. O relato acrescenta que “esta não foi a primeira vez que a igreja foi vandalizada… Várias estátuas foram danificadas e derrubadas”.

16 de Março: um homem, que já tinha sido “fichado por ser um islamista radicalizado”, invadiu a Igreja Saint-Hippolyte em Paris e interrompeu o serviço religioso. Também roubou a cruz de acrílico de quase dois metros de altura que sustentava um Cristo de madeira de 400 anos. A cruz foi encontrada posteriormente nas proximidades “toda despedaçada”, salientou a polícia.

8 de Março: um migrante muçulmano entrou no cemitério da igreja de Saint-Louis em Évreux e partiu e profanou os crucifixos de 30 sepulturas.

2 de Março: um homem considerado de “tipo africano” vandalizou Saint-Eustache, uma das maiores igrejas de Paris. Entre outras coisas partiu o vidro protector de um altar com um extintor de incêndio. O relato observa que “o ‘modus operandi’ do suspeito… é comparável ao da igreja Saint-François-Xavier (vandalismo), onde os danos foram desferidos na terça-feira, 28 de Fevereiro”.

Ao discutir estes ataques às igrejas de Paris, o relatório de um jornalista, em 17 de Março, assinalou que um total de oito igrejas parisienses foram vandalizadas ou incendiadas em dez semanas, entre Janeiro e meados de Março de 2023.

*

O exposto acima, conforme mencionado, não passa de alguns exemplos: a maioria dos ataques às igrejas na França nem sequer são reportados pela imprensa local. A jornalista de investigação Sonja Dahlmans identifica alguns detalhes:

“Crucifixos, órgãos, altares e outros símbolos religiosos são corriqueiramente destruídos ou roubados (das igrejas da França). Assim como estátuas de santos. Na igreja de Angers, sete estátuas de santos foram decapitadas ou amputadas em Abril deste ano. Uma estátua de Maria foi decapitada na Igreja St. Martin em Choicy-le-Roi. Os vitrais de igrejas antigas também são destruídos por vândalos, a exemplo do que ocorreu em Guerlesquin. Extrema violência foi cometida em Outubro passado na Capela Saint-Joseph em Saint-Pol-de-Léon. Ali, os vândalos despedaçaram as portas da igreja com um machado e partiram todas as janelas da igreja. Todos os crucifixos e demais símbolos religiosos foram destruídos pelos marginais.

“Cemitérios e sepulturas das igrejas não escapam aos vândalos. Em Velsy foram danificadas e roubadas 150 sepulturas em Junho de 2022. As cruzes nas sepulturas e outros símbolos religiosos foram levados ou destruídos pelos marginais. Dezoito sepulturas da igreja de Rocquemont foram destruídas em Maio do mesmo ano. No cemitério de Guignicourt-sur-Vence, uma estátua de Maria foi roubada em Agosto de 2022”.

Um mapa, publicado por “Christianophobie.fr”, que marca com um alfinete vermelho todos os locais onde uma igreja francesa foi atacada somente entre 2017 e 2018, assemelha-se a uma zona de guerra. Praticamente o mapa inteiro da França está coberto de vermelho. Até o “Snopes” – um “site” especializado em confirmar a veracidade de notícias e factos – admitiu a precisão do mapa, ao mesmo tempo em que procura minimizar as conclusões:

“Muito embora a imagem (do mapa) seja frequentemente compartilhada como se mostrasse todas as igrejas que foram “destruídas” em França, o mapa na verdade documenta uma vasta gama de acções nefastas, como vandalismo, roubo e incêndio criminoso, que ocorreram em igrejas e cemitérios durante um aparente período de dois anos, entre 2017 e 2018”.

“É importante salientar que, embora o mapa documente alguns crimes relativamente graves, como incêndios criminosos ou o derrube de estátuas de igrejas, muitos destes pinos correspondem a incidentes relacionados com “tags”. Também encontramos um alfinete relacionado a uma pessoa que simplesmente interrompeu um culto na igreja”.

Por outras palavras, segundo o “Snopes”, “tags” jihadistas e anticristãos numa igreja ou a interrupção de um serviço religioso por um intruso muçulmano gritando “Allahu akbar” não são assuntos suficientemente “sérios” para serem tidos em conta.

E se um cristão vandalizasse uma mesquita ou invadisse uma mesquita gritando palavras de ordem cristãs? Qual seria a reacção dos órgãos de comunicação, dos governantes e da esquerda e extrema-esquerda? Certamente choveriam comunicados indignados, manifestações de ruas e primeiras páginas de jornais a “denunciar” um atentado contra o multiculturalismo… Como em tudo o resto, dois pesos e duas medidas.

Aliás, não deveria surpreender ninguém que o discurso oficial sobre a “jihad” contra as igrejas francesas seja inexistente, tal como mostra a frase um tanto surreal na revista “Newsweek” que afirmava na manchete: “As Igrejas Católicas estão a ser profanadas por toda a França – e as autoridades não sabem porquê”.

Embora a reportagem faça um trabalho decente ao resumir a “onda de ataques contra igrejas católicas”, inclusive por meio de “incêndios criminosos”, “vandalismo” e “profanação”, as palavras “muçulmanos”, “migrantes” ou mesmo “islamistas” não aparecem em nenhum lugar. Em vez disso afirma-se que os autores são “grupos anarquistas e feministas”, irritados com as igrejas, porque elas são “um símbolo do patriarcado que precisa ser desmantelado”.

Enquanto isso, mesmo o raciocínio dedutivo deixa claro que os muçulmanos perpetram a maior parte dos ataques às igrejas. Dahlman relata:

“De acordo com um relatório da OSCE de 2022, a França encontra-se entre os cinco países europeus que estão no topo com o maior número de crimes de ódio anticristãos já registados. Os outros países entre os cinco primeiros são a Espanha, Alemanha, Reino Unido e a Suécia”.

Há outra coisa que estas cinco principais nações têm em comum: grandes populações muçulmanas. Dito de outra maneira: embora a Polónia, a Hungria e outras nações da Europa Oriental tenham o seu quinhão de “grupos anarquistas e feministas”, elas têm pouquíssimos ataques a igrejas, e também menos muçulmanos.

Título e Texto: Paulo Simões, O Diabo, nº 2452, 29-12-2023

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