sábado, 16 de julho de 2011

Europa: A hora da verdade

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Viriato Soromenho-Marques
O consenso nacional e europeu na condenação das agências de notação financeira norte-americanas, em particular da Moody's, não nos deve fazer confundir o essencial com o acessório. O cerne do problema reside nos mercados, não nas agências. A tarefa prioritária não consiste em lançar os alicerces de uma agência europeia. Já não temos o luxo do tempo abundante. Pelo contrário, este escasseia. Numa voragem, cada dia transporta consigo uma ameaça. Cada alívio, esconde, na verdade, uma nova fonte de tensão que o desmente, logo de seguida. A tarefa urgente, prioritária, é a de mudar profundamente as regras do jogo. Teremos, talvez, uma dúzia de semanas. Não mais do que isso.
As notícias inquietantes mostram a escalada dos juros dos títulos de dívida pública italiana, que, em cinco semanas, saltaram de 4,62% para 6,02%, aproximando-se dos trágicos 7%, que nós conhecemos por experiência própria. Quem diz Itália, diz Espanha, e o seu sector das Caixas de Aforro, fragilizado pela bolha imobiliária. A estratégia do BCE e da Alemanha tem sido a da quarentena. Os pequenos países atingidos pela peste da dívida soberana têm sido colocados numa dolorosa zona de segurança, afastados dos mercados, em penitência de austeridade. A resposta dos mercados tem sido clara. Os "remédios" da União têm feito desses países alvos preferenciais da especulação. Esperar que Atenas, Dublim e Lisboa regressem aos mercados, só pela via dos planos da troika, seria um sinal de insensatez tão grande como o de supor que Roma ou Madrid também podem ser postas nas malhas da quarentena, sem as romper, pela simples pressão da sua enorme massa crítica.
Como escrevi nesta coluna, no primeiro dia deste ano: 2011 dará a resposta essencial que falta. A União Europeia tem de mostrar aos mercados que não deixará para trás nenhum dos seus povos e Estados, cerrando fileiras em torno de novos títulos de dívida da União. Ou então, o colapso do euro será a antecâmara da agonia brutal e caótica de uma Europa de paz, prosperidade e segurança. Não tenhamos ilusões. Na Europa de hoje, ou somos federalistas ou somos suicidas.
Viriato Soromenho-Marques, Diário de Notícias, 14-07-2011

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