Madrid, junho de 2011. Foto: DR |
Cesar Maia
1. Um artigo do correspondente do El País no Brasil perguntando por que não há "indignados" por aqui, fazendo referência ao que ocorre
nos países árabes, na Espanha, na Grécia..., levou colunistas e analistas a
entrarem no debate e buscarem a resposta. Quase todos explicaram essa
hipotética passividade pela estatização dos movimentos sociais e sindicatos a
partir do governo Lula. Isso, no máximo, pode explicar a passividade destes
grupos, da chamada sociedade civil organizada. Que nos casos aludidos, não tiveram
importância.
2. Uma preliminar seria
perguntar se a hipotética passividade existe mesmo no Brasil. A resposta é NÃO.
E há exemplos de sobra. O caso dos Bombeiros do Rio é um deles. Um típico
movimento que começa e cresce pelas redes sociais, e vai às ruas e se amplia
progressivamente, até que incorpora outros indignados, como se viu na
"praça" em frente à Assembleia Legislativa.
3. São inúmeros os movimentos
desse tipo que surgem pelo Brasil afora, ativados ou multiplicados pelas redes
sociais. Os institutos de pesquisa em universidades dos EUA mostram que a
grande sinergia se dá quando internet e TV convergem num mesmo fato. A
concentração de audiência na TV brasileira retarda essa sinergia, pois não tem
como cobrir os movimentos que vão surgindo ainda sem a imagem de concentração
de massas. Só quando esses movimentos ativados pelas redes sociais ganham
expressão é que são cobertos. O que, aliás, é inevitável pela concentração de
audiência.
4. Mas se isso apenas retarda:
não obstrui. E não há que se imaginar que os indignados só têm expressão quando
reúnem milhares de pessoas. Isso não é assim. Quando as redes sociais ativam um
tema, propagam, e esse finalmente chega à imprensa, ganha expressão através
dessa e impacta a opinião pública, o processo é o mesmo. A coreografia é que é
diferente. E ainda há os casos de fatos divulgados pela imprensa sem maior
destaque, que são multiplicados pelas redes e ganham força de opinião pública.
E assim por diante, com ou sem interveniência da imprensa.
5. As redes sociais
multiplicam milhares de vezes os "tipping
points", ou pontos de deflagração de um processo de opinião. O alcance
desse multiplicador é, naturalmente, diverso. Quem pensa na lógica industrial
dos movimentos de massa vai achar que só têm impacto os que têm a coreografia
das grandes concentrações. Isso, hoje, não é assim. É muito diferente.
6. De repente, pesquisas de
opinião acusam a relevância de um fato, e se destaca como surpresa. Na verdade
é um processo - como uma corrente abaixo do nível do mar - que cresce, agrega,
e uma grande onda num determinado momento se torna visível. A "teoria da catástrofe" de René Thom,
adaptada por pesquisadores à política, explica muito bem isso. Existiu sempre,
mas agora ganha um gigantesco impulso com as redes sociais.
7. Num vulcão, a erupção só se
torna visível quando se fotografa a boca-de-fogo. Mas a erupção é um processo.
Assim como a opinião pública. Isso, o sociólogo Gabriel Tarde -sociólogo e pai
da micropolítica e da microssociologia - ensinou no final do século 19. Nenhuma
teoria se aplica melhor às redes sociais que seu livro "As leis de imitação", ainda não
editado em português. E que a internet comprovou e potencializou.
Título e Texto: Ex-Blog do
Cesar Maia, 20-07-2011
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