quarta-feira, 20 de julho de 2011

Escândalos no Governo (de Dilma Rousseff)


Peter Wilm Rosenfeld
Sequer sei se o título está correto. Com tudo isso que aconteceu no Governo nos oito anos de (des) Governo do Sr. da Silva e agora, com o que já se sabe no escasso meio ano com a Sra. Rousseff no comando, penso que nada nos surpreenda mais.
No sétimo mês da atual administração já foi expelido, a fórceps, o que era considerado o mais forte e poderoso ministro; com a mesma ferramenta expeliu-se um dos mais longevos ministros, que não deveria ter ficado um mês sequer no governo anterior, mas lá foi tolerado por oito anos e agüentou quase sete meses no atual.
Mas ainda continuam no poder alguns prepostos do Sr. da Silva, que não quer largar o osso de jeito algum; dessa maneira, quando voltar ao poder dentro de no máximo oito anos (mais provavelmente quatro anos, porque não tolerará ficar longe das mordomias e das benesses tanto tempo), parecerá a ele que nada mudou.

Ulisses Guimarães ergue a “Constituição Cidadã” como um troféu, 
marcando o fim de uma era de exceção. Foto: Agência Câmara
Não sei quantos brasileiros se interessaram em ler a introdução de nossa atual Constituição, designada por Ulysses Guimarães como a “Constituição Cidadã” e que na referida introdução da primeira edição, impressa na gráfica do Senado e distribuída no dia da promulgação, é designada como “A CONSTITUIÇÃO CORAGEM”.
No primeiro parágrafo se lê: “O homem é o problema da sociedade brasileira: sem salário,analfabeto, sem saúde, sem casa,portanto, sem cidadania”.
Será que alguém notou qualquer diferença entre o que consta acima, escrito há 23 anos, com o Brasil de hoje?

Vale a pena reler o segundo parágrafo: “A Constituição luta contra os bolsões de miséria que envergonham o País”.
O terceiro parágrafo chega a ser hilário: “Diferentemente das sete constituições anteriores, começa com o homem”.
Pulando o quarto parágrafo, que em minha opinião é uma baboseira sem tamanho, lemos no parágrafo seguinte:
“Cidadão é o que ganha, come, sabe, mora, pode se curar”! (A exclamação é minha).
Os três parágrafos finais são jóias:
É a Constituição coragem.
Andou, imaginou, inovou, ousou, ouviu, viu, destroçou tabus, tomou partido dos que só se salvam pela lei.
A Constituição durará com a democracia e só com a democracia sobrevivem para o povo a dignidade, a liberdade e a justiça”.
O Deputado Ulysses Guimarães deve ser o autor desse texto, pois o assina como Presidente que foi da Assembléia Nacional Constituinte.
Com tristeza, mas sem surpresa, constato que esse texto descreve algo que nem de longe é a realidade brasileira; jamais foi. E nem no mais ousado dos sonhos chegará lá em um espaço de tempo previsível.
Não sei se feliz ou infelizmente, o autor veio a falecer em um trágico acidente de helicóptero alguns anos depois. Certamente, esteja onde estiver, deve se envergonhar amargamente de ter escrito isso, pois o Brasil de hoje está ainda em piores condições do que estava em 1988.
O juramento prestado pelo Presidente da República e pelos parlamentares ao assumir seus mandatos, de que respeitarão e observarão o que consta da Constituição e das leis do País, só pode ser tomado como uma piada, até porque a maioria dos que prestam esse juramento não conhecem a Constituição e, da mesma forma, desconhecem a maioria de nossas leis.
Aliás, ninguém nesse País pode, de sã consciência, afirmar que conhece as leis (lembrando que portarias e similares são parte das leis), pois são tantas e tão diversas, e à exceção do ex-Presidente Collor, que por decreto extinguiu cerca de 113 mil leis (sim, 113 mil) que já tinham perdido a sua atualidade mas ainda estavam em vigor, nunca mais houve um esforço em fazer uma simplificação.
Aliás, isso serve de desculpa a qualquer cidadão que alega desconhecer determinada lei...
Voltando aos escândalos: lido o texto que precede a Constituição e à vista da própria, o que poderia explicar esse mar de irregularidades que acontecem no Brasil, em todos os ministérios e repartições, que sempre existiram mas foram exacerbados nos governos do PT?
Por muito menos, mas infinitamente menos, os “caras pintadas” foram à rua e exigiram a deposição do Presidente Collor!
Cada um dos 40 asseclas do Ali Babá tupiniquim (agora reduzidos a 37...) botou a mão em muito mais dinheiro do que qualquer um dos integrantes do Governo deposto; e todos continuam aí, livres e soltos, ganhando rios de dinheiro com suas “consultorias”.
O que se saqueou (que se sabe) do Ministério dos Transportes é apenas a ponta de um “iceberg” gigantesco. O Ministério da Saúde está aí mesmo (quem se lembra do caso das ambulâncias?); o da Previdência não deve ser nada diferente (lembram-se da Georgina?); o da Educação, com as trapalhadas de milhões de provas que tiveram que ser destruídas por ter vazado seu conteúdo) e por aí vai.
E, para finalizar, quem ainda se lembra e leva em conta as palavras da introdução e o próprio preâmbulo de nossa Constituição?
Texto: Peter Wilm Rosenfeld, Porto Alegre, RS, 20 de julho de 2011
Edição: JP
Ali Baba, quadro de  Maxfield Parrish, 1909

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