Peter Wilm Rosenfeld
Sequer sei se o título está
correto. Com tudo isso que aconteceu no Governo nos oito anos de (des) Governo
do Sr. da Silva e agora, com o que já se sabe no escasso meio ano com a Sra.
Rousseff no comando, penso que nada nos surpreenda mais.
No sétimo mês da atual
administração já foi expelido, a fórceps, o que era considerado o mais forte e
poderoso ministro; com a mesma ferramenta expeliu-se um dos mais longevos
ministros, que não deveria ter ficado um mês sequer no governo anterior, mas lá
foi tolerado por oito anos e agüentou quase sete meses no atual.
Mas ainda continuam no poder
alguns prepostos do Sr. da Silva, que não quer largar o osso de jeito algum;
dessa maneira, quando voltar ao poder dentro de no máximo oito anos (mais
provavelmente quatro anos, porque não tolerará ficar longe das mordomias e das
benesses tanto tempo), parecerá a ele que nada mudou.
Ulisses Guimarães ergue a “Constituição
Cidadã” como um troféu,
marcando o fim de uma era de exceção. Foto: Agência
Câmara
|
Não sei quantos brasileiros se
interessaram em ler a introdução de nossa atual Constituição, designada por
Ulysses Guimarães como a “Constituição Cidadã” e que na referida introdução da
primeira edição, impressa na gráfica do Senado e distribuída no dia da
promulgação, é designada como “A CONSTITUIÇÃO CORAGEM”.
No primeiro parágrafo se lê: “O homem é o problema da sociedade
brasileira: sem salário,analfabeto, sem saúde, sem casa,portanto, sem cidadania”.
Será que alguém notou qualquer
diferença entre o que consta acima, escrito há 23 anos, com o Brasil de hoje?
Vale a pena reler o segundo
parágrafo: “A Constituição luta contra os
bolsões de miséria que envergonham o País”.
O terceiro parágrafo chega a
ser hilário: “Diferentemente das sete
constituições anteriores, começa com o homem”.
Pulando o quarto parágrafo,
que em minha opinião é uma baboseira sem tamanho, lemos no parágrafo seguinte:
“Cidadão é o que ganha, come, sabe, mora, pode se curar”! (A
exclamação é minha).
Os três parágrafos finais são
jóias:
“É a Constituição coragem.
Andou, imaginou, inovou, ousou, ouviu, viu, destroçou tabus, tomou
partido dos que só se salvam pela lei.
A Constituição durará com a democracia e só com a democracia sobrevivem
para o povo a dignidade, a liberdade e a justiça”.
O Deputado Ulysses Guimarães
deve ser o autor desse texto, pois o assina como Presidente que foi da
Assembléia Nacional Constituinte.
Com tristeza, mas sem
surpresa, constato que esse texto descreve algo que nem de longe é a realidade
brasileira; jamais foi. E nem no mais ousado dos sonhos chegará lá em um espaço
de tempo previsível.
Não sei se feliz ou
infelizmente, o autor veio a falecer em um trágico acidente de helicóptero
alguns anos depois. Certamente, esteja onde estiver, deve se envergonhar
amargamente de ter escrito isso, pois o Brasil de hoje está ainda em piores
condições do que estava em 1988.
O juramento prestado pelo Presidente
da República e pelos parlamentares ao assumir seus mandatos, de que respeitarão
e observarão o que consta da Constituição e das leis do País, só pode ser
tomado como uma piada, até porque a maioria dos que prestam esse juramento não
conhecem a Constituição e, da mesma forma, desconhecem a maioria de nossas leis.
Aliás, ninguém nesse País
pode, de sã consciência, afirmar que conhece as leis (lembrando que portarias e similares são parte das leis), pois
são tantas e tão diversas, e à exceção do ex-Presidente Collor, que por decreto
extinguiu cerca de 113 mil leis (sim, 113 mil) que já tinham perdido a sua
atualidade mas ainda estavam em vigor, nunca mais houve um esforço em fazer uma
simplificação.
Aliás, isso serve de desculpa
a qualquer cidadão que alega desconhecer determinada lei...
Voltando aos escândalos: lido
o texto que precede a Constituição e à vista da própria, o que poderia explicar
esse mar de irregularidades que acontecem no Brasil, em todos os ministérios e
repartições, que sempre existiram mas foram exacerbados nos governos do PT?
Por muito menos, mas
infinitamente menos, os “caras pintadas” foram à rua e exigiram a deposição do Presidente Collor!
Cada um dos 40 asseclas do Ali
Babá tupiniquim (agora reduzidos a 37...) botou a mão em muito mais dinheiro do
que qualquer um dos integrantes do Governo deposto; e todos continuam aí,
livres e soltos, ganhando rios de dinheiro com suas “consultorias”.
O que se saqueou (que se sabe)
do Ministério dos Transportes é apenas a ponta de um “iceberg” gigantesco. O
Ministério da Saúde está aí mesmo (quem se lembra do caso das ambulâncias?); o
da Previdência não deve ser nada diferente (lembram-se da Georgina?); o da
Educação, com as trapalhadas de milhões de provas que tiveram que ser
destruídas por ter vazado seu conteúdo) e por aí vai.
E, para finalizar, quem ainda
se lembra e leva em conta as palavras da introdução e o próprio preâmbulo de
nossa Constituição?
Texto: Peter Wilm Rosenfeld, Porto
Alegre, RS, 20 de julho de 2011
Edição: JP
Ali Baba, quadro de Maxfield Parrish, 1909
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-