Valfrido M. Chaves
Me permitam a obviedade, somos
o que somos. Entretanto, não nos inventamos. Ninguém acorda, se espreguiça e
resolve que vai ser preguiçoso, caloteiro, um pai dedicado ou relapso, hetero,
homofóbico, ou, ainda, que vai participar de um latrocínio para conseguir 800
reais e “ter vida independente”, como parece ter sido a motivação de uma
adolescente partícipe de mais um crime estúpido em nossa capital. Através de
seu Editorial de 21/07/01, o Correio do Estado (Mato Grosso do Sul) traz uma
reflexão e um desafio à sociedade quanto às causas, consequências e evitação de
tais rupturas perversas. Em Dourados encontra-se na UTI um jovem que, por
qualquer “me dá aqui aquela palha”, foi espancado e chutado ao chão por um
grupo. Todos, gente “de família”, classe média, universitário. É preciso
lembrar que, hoje, dificilmente um jovem sai para “a noite” com sua namorada,
sem um grupo grande no qual encontrem proteção. Isolado, um casal seria presa
fácil de “alcatéias” da noite. Suas motivações? Inveja, frustrações? Bando de
enrustidos querendo soltar a franga, espancando aquele que ousou amar uma
mulher, ao invés interessar-se pelo “lobinho de alcatéia”? Já se viu alguém
punido por esse tipo de crime-diversão tão em moda?
A sociedade, assustada,
mostra-se disposta a discutir e encarar, em suas causas e conseqüências, as
rupturas doentias que a mídia joga, diariamente, nas salas de televisão e jornais?
Fala-se da assimilação e conseqüências desse lodo social nas almas pouco
estruturadas? Há, sim, discussões sobre temas “politicamente corretos” e
conduzidas de modo ainda mais politicamente correto, como preconceito,
homofobia, orgulho gay, racismo. Sobre tais discussões paira, quase sempre, a
superficialidade e o patrulhamento ideológico, do que resulta a unanimidade. E,
como bem disse Nelson Rodrigues, “toda unanimidade é burra”, tendenciosa.
Querem ver? Pode-se dizer livremente que a “Fobia” seja o resultado normal de
condições anormais no desenvolvimento pessoal, podendo ainda um profissional
anunciar-se como especialista na cura da fobia. Agora, há outras manifestações
resultantes de condições impróprias para o desenvolvimento humano e que, se
alguém anunciar “cura” para elas, seguramente vai em cana, pois tais manifestações
seriam “opção”. Pensar o contrário seria preconceituoso e politicamente
incorreto.
Diante dos fatos que nos
impactam a moral e semeiam o medo, levando perplexidade a todos que
compartilham de uma cultura que é a continuidade de um processo civilizatório
vindo da Judéia, Grécia e Roma antigas, passando pela expansão marítima dos
povos ibéricos, colonialismo e escravatura, muitos perguntam se não estamos
diante de um processo de “desconstrução” cultural. Na “nova cultura” tudo seria
relativo, inclusive a verdade e o moral. Não vemos o ódio instilado em muitos
corações, através de políticas públicas, a título de superação de estigmas
raciais? Possível dívida histórica de toda a sociedade para com povos indígenas
não tem propostas de solução buscando-se como bodes expiatórios este ou aquele
proprietário rural, por acaso no caminho da expansão de aldeias? Crimes não se
tornam virtuosos quando, então, “retomada não é invasão”, na expressão de um
ilustre membro do MPF, aqui em nossa Assembléia, há oito anos passados? A maior
autoridade da República não ousou dizer que o grande escândalo de sua história,
o “Mensalão”, não existiu e tudo não passou de um golpe das elites contra um
governo popular? Onde ficam então os padrões de verdade, limites, moral,
humanidade, na cabeça de adolescentes cujas famílias estão sem saber quando e
onde possam lhes dizer “não”? Certa vez perguntaram a um poeta quanto tempo ele
teria levado para fazer certo poema e ao que respondeu: toda a minha vida.
Assim é com este artigo, com o editorial “Lição do extremo” e com a “divertida”
trasmissão ao vivo, por celular, do assassinato hoje nas manchetes. Em cada
momento e em cada ação está toda a vida de seus atores sob o impacto de uma
grande ruptura moral coletiva mediada pela impunidade, corrupção, deboche das
autoridades da República, os grandes exemplos para as massas. Seria uma
desconstrução reversível?
Valfrido M. Chaves,
Psicanalista Pós Graduado em Políticas e Estratégia-UCDB- ADESG
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-