Ponte 25 de abril, foto: Luis Torres, abril 2001 |
Sábado
Para o Bloco de Esquerda “quem
menos tem” vive em Lisboa, passa o mês de agosto na praia e anda de automóvel.
Por isso, os desempregados no Vale do Tâmega devem pagar as suas portagens na
ponte 25 de Abril
Este ano, o Estado resolveu
acabar com uma invenção que sobreviveu a governos do PSD, PS e PSD/CDS: colocar
o País inteiro a oferecer as portagens aos automobilistas lisboetas que, em
Agosto, pretenderem ir às praias da Costa de Caparica pela Ponte 25 de Abril.
Para os portugueses esta decisão representa uma poupança de 48 milhões de euros
até 2019. Para o Bloco de Esquerda, é “mais um sacrifício imposto a quem menos
tem”.
Em primeiro lugar, o Bloco de
Esquerda trata de explicar esta afirmação: quem utiliza a Ponte 25 de Abril em
Agosto “são as famílias sem poder de compra para passar férias fora de casa” e
que, portanto, ficam em Agosto em Lisboa e aproveitam a isenção de portagens
para ir até às praias da Margem Sul do rio Tejo. Para o Bloco, estas pessoas
são “quem menos tem”. E, por isso, justifica-se o Estado continuar a financiar
os seus banhos de sol.
Segundo este raciocínio do
Bloco, quem “menos tem” vive em Lisboa e não no interior alentejano, no Vale do
Tâmega ou em Carrazeda de Anciães. Segundo o Bloco, “quem menos tem” passa o
mês de Agosto na praia e não a trabalhar horas extraordinárias ou em duplos e
triplos empregos para conseguir pagar as contas. Ainda segundo o raciocínio do
Bloco, quem “menos tem” anda de carro e não a pé ou de transportes públicos.
É esta atração pela demagogia*
que leva o Bloco de Esquerda a pedir o absurdo: que os portugueses que atravessam
todos os dias o rio Tejo de barco, de camioneta ou de comboio paguem 3,7
milhões de euros por ano em impostos para isentar de portagens quem vai pela
ponte de automóvel.
Texto: Editorial, revista
Sábado, nº 377, de 21 a 27-07-2011
Digitação e Edição: JP
* Demagogia ou ato falho? O BE "defende" os pobres ou... os empregados da classe média alta?
A opcao pelo transporte individual embute uma lógica perversa. Ao utilizar um veículo particular, o cidadao deve dispor de 25m2 para sua guarda e manobra na residencia e deve reservar 25m2 de espaco correspondente no lugar para onde se desloca. No deslocamento, ocupa, em meio urbano, 50m2 de vias pavimentadas, drenadas, sinalizadas e monitoradas especificamente para esse proposito. Ao cruzar uma ponte ou viaduto, some-se o custo do aparelho de apoio e sustentacao, provido pelo Estado. Trocando em miudos, ao ocupar 100m2 de vias para o seu deslocamento, um veiculo particular consome de 40 a 100 vezes mais investimentos do estado para sua circulacao do que um veiculo de transporte coletivo. É justo, portanto, que a circulacao de autos particulares seja sobretaxada e mesmo que subsidie outros meios coletivos. Os pedágios urbanos e rodoviários diminuem esse desequilibrio de usufruto do bem publico, quando os recursos deles advindos sao reinvestidos em seguranca, requalificacao operacional e incremento da malha. É justa a portagem. Quem menos tem, não viaja. Além do mais, se o custo de portagem, manutenção ou consumo de combustível não podem ser suportados por um individuo, é porque ele nao possui condicoes de ter um veículo. Penso que a esquerda portuguesa esta a aprender rápido com a esquerda brasileira a se locupletar da res publica, sob o abrigo de argumentos falaciosos e demagógicos sem propósito.
ResponderExcluirAntonio Gobbo