Cesar Maia
(Martin Wolf - Financial Times - UOL, 20) 1. É preciso aproveitar a chance para uma reforma dos meios de
comunicação. Mas fúria não basta. O Reino Unido deve aproveitar esta chance
para reconsiderar a estrutura e regulamentação da mídia. A mídia é um negócio.
Mas não um negócio qualquer. Ela não apenas reflete, mas também molda a opinião
pública, de modo que detém uma influência política imensa. É por isso que os
ditadores buscam controlar os meios de comunicação e os políticos democráticos
os utilizam.
2. Uma pessoa com controle de
uma porção substancial da imprensa escrita e da televisão exerce uma influência
enorme sobre a vida pública. Alguns argumentariam que, mesmo assim, é melhor
deixar a propriedade aos cuidados do mercado e o conteúdo aos direitos de
liberdade de expressão, sujeito apenas à lei de calúnia e difamação e de
invasão da vida privada. Mas a propriedade importa. A mídia tem um
relacionamento íntimo com o funcionamento da democracia ou, em palavras
diferentes, com a capacidade das pessoas de exercer a cidadania de modo
eficaz.
3. A diversidade da mídia
exige diversidade de propriedade. Mas as forças econômicas podem gerar um grau
de concentração incompatível com a diversidade desejada. Os políticos então se
rebaixam diante dos proprietários que controlam sua comunicação com o público.
Na pior das hipóteses, o proprietário pode distorcer essa comunicação
necessária de modo a transformar a vida pública. Ver a mídia da mesma forma
como veríamos uma atividade comercial é um erro grave, assim como ignorar os
aspectos econômicos desse negócio. Cada país deverá encontrar seu próprio
equilíbrio, ciente dos dilemas, particularmente em uma era de profunda mudança
tecnológica.
4. O que é necessário é um
reexame abrangente do papel e regulamentação da mídia no Reino Unido. Além
disso, qualquer conclusão desse reexame deve incluir explicitamente um
compromisso de nova revisão no futuro, para levar em consideração as mudanças
em curso na tecnologia e no ambiente de negócios. Essa revisão abrangente
analisaria: a lei de privacidade e de calúnia e difamação; regulamentação da
imprensa; concentração de propriedade na mídia; o papel da radiodifusão de
utilidade pública; e o financiamento público da mídia, de modo mais geral, e
particularmente da imprensa. A reparação de cobertura maliciosa precisa ser
mais dura, preservando ao mesmo tempo a liberdade de expressão; as regras para
múltiplas propriedades na mídia devem ser mais rígidas. O país deve manter o
apoio à “BBC” por meio de financiamento estável, porque ele define a noção de
bem-estar público; e devemos considerar se o bem público do levantamento e
análise de notícia de alta qualidade merece apoio público.
Título e Texto: Ex-Blog do
Cesar Maia, 22-07-2011
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