"Só existem dois grupos
em verdadeira luta no Brasil: os que estão roubando e os que querem
roubar."
Ex-deputado Tenório Cavalcanti
Waldo Luís Viana
Durante quase dez anos, na
tribuna livre da Internet, contrariando até um pouco a minha modesta natureza,
procurei escrever sobre temas políticos, aproveitando-me, inclusive, de 2002
para cá, do rico manancial como paradigma crítico do que foi, tem sido e será o
governo do PT.
Quem me acompanha até – e com
paciência, o que muito agradeço – sabe que procurei trazer aos leitores
aspectos um pouco desconcertantes da realidade que vivíamos, dado o meu
temperamento telúrico de poeta, que vibra antes de tudo com o coração, dentro
do espírito do homem cordial, descrito por Sérgio Buarque de Hollanda em seu já
clássico “Raízes do Brasil”.
Eis que, embora tenha dado
adeus às armas, tenho visto um panorama tão adverso e promíscuo, que ouso agora
responder à pergunta que tanto me fazem e que adiava, como ardil, em responder:
ó poeta, o que vai ser de nós?
Não há esmero em ver de nós a
imagem no espelho – diria eu, entre atônito e aflito. Não há setor da Nação
(danada, mesmo!) que não se aperceba do lado oculto, do sistema perverso
engendrado pelo PT para governar. Fez-se do Brasil a imagem e semelhança do partidinho
– e como dói!
Esqueceu-se, em primeiríssimo
lugar, do que é certo ou errado. Os barbichas de língua presa instituíram, a
muque, o dualismo entre o “adequado e inadequado”. O trato da coisa pública,
que deveria ser “res sacra”, não passa mais pelo crivo da exação, da coragem e
do comportamento probo, considerados excrecências diante dos objetivos a atingir.
É o mesmo e surrado “os fins justificam os meios”, transformado em política
pública como em qualquer regime dito socialista de Estado.
Onde não há Deus, forma-se uma
nomenclatura, preocupada com a história tão-somente, como deus imanentista e de
latrina, entronizando-se um chefe de Estado que deve ser venerado pelo povo
como ícone religioso. O perigo desse herói, de pés de barro, é morrer de
cirrose ou de câncer...
O segundo ponto é esquecer os
indivíduos, enquanto tais, para entronizar a velha visão marxista de homem
social, que em nossa bagunça tropical não é “social”, mas eleitoral.
Transfere-se para um grupo ou classe agregados um conjunto de migalhas e
atenções, antes desavindas, para apenas retirar delas a continuidade do poder. Não
há diferença daquela prática política e fisiológica do passado, em que o
coronel fascista fornecia dentaduras, bicas d’água, óculos e um par de sapatos
em troca de votos, porque hoje a indecência é tecnológica e feita por cartão
magnético.
Desprezados os indivíduos,
sobrevem o terceiro ponto, que rebrilha aos olhos como bofetada: para que a
sociedade seja equiparada ao soba analfabeto, cachaceiro e ignorante, é preciso
que se ponha de lado a cultura do passado. Nada de Machado de Assis, Rui Barbosa,
Euclides da Cunha e Monteiro Lobato, mas a mais rastaquera substituição
cultural de tudo o que nos é mais caro e custou a construir: um fácies de
nacionalidade, uma singularidade que foi atraiçoada como “nunca neste país”.
O que Lula provocou em oito
anos de governo não conseguiremos reconstituir em vinte, ou seja, retomar a
nossa estima como Nação maior, mesmo sem prêmio Nobel (vejam só!), mas com uma
proposta digna de educação, segurança e saúde de massas!
A substituição cultural de
laboratório que se procedeu para que esse senhor se tornasse gênio da raça, nós
todos estamos vendo, cumprindo notar – na hora do espanto – que a sua sucessora
tem todos os seus defeitos, mas nenhuma de suas apoucadas qualidades...
O quarto momento, mais
insidioso e visceral, é outra tentativa de laboratório de contrariar o
epigrafado deste artigo: reunir a esquerda, abjeta, mentirosa e faminta que
chegou ao poder, à direita oligárquica que só quer manter privilégios, os
postos de erva daninha obtidos à custa da mais sofisticada exploração do
Estado, que precisa estar enfeixado em suas mãos, como sublime constelação
público-privada.
No Brasil, não existe mais o
conflito entre os que estão roubando e os que querem roubar: finalmente, após
um pouco mais de cem anos de República, os grupos afoitos se reuniram e estão
se entendendo. Todas as nossas instituições, contaminadas e aparelhadas, estão
enfeitiçadas pelo mesmo micróbio, pérfido e matreiro.
A corrupção hoje é política de
Estado e mãe pressurosa dos Três Poderes. Nada escapa, amigo leitor, ao seu
olhar atento. Ela é a devassidão onipotente e onipresente do deus materialista
que se entronizou em nossa máquina pública.
Se temos a corrupção como
política de Estado, então nada pode escapar a seus encantos, inclusive porque
ela expulsou, lá por cima, o certo e o errado – recordam-se? Um bandido de
paletó e gravata apanhado gera pane universal, porque foi um “cochilo do
sistema”. É ele, o sistema que se sente ultrajado, não a Pátria, jamais a “res
sacra”...
Sabemos que o país caminha
para uma crise cambial e para a insolvência a passos largos. Sabemos que,
depois de todo o período Vargas, de industrialização, temos agora o histórico período
petista, de “desindustrialização”. O país financia-se por juros altos e
obscenos, oferecidos aos rentistas externos em bandeja de prata e estiola o seu
comércio exterior e obriga a indústria a padrões de prevenção, isto é, aumento
pavoroso de preços, perdas homéricas de competitividade com o exterior e uma
inflação embutida e preventiva, que logo ficará exposta em toda sua nudez.
Finalmente, contudo, a arvora
de decisões petista teria de expandir, em si mesma, todo o seu resplendor: a
mentalidade maior, do dolo federal teria de ocorrer nas demais instâncias,
estadual e municipal. Além da cornucópia de impostos para sustentar toda a
farra, porque o brasileiro não se importa em sangrar, as classes dominantes (as
“zelites”) permitem que o quadro dantesco se repita ao nível municipal: temos
as máfias de transportes, de lixo e do saneamento, compondo o regime de
superfaturamento necessário às próximas eleições, construído diligentemente, no
contexto maior, pelas empreiteiras e bancos.
Agora, desesperados, dirão
vocês: qual é a solução? Responderia, eu, da mesma forma humilde com que
brindei meus leitores na Internet por quase dez anos, nada! Tudo continuará
como está, dependendo do sistema que aí se instaurou.
O comissariado fascista-marxista-comunista
que nos domina comprou todo mundo e tudo permanecerá como está! É bom para os
donos do poder e seus vassalos e vassalinhos.
No entanto, creiam, tais
mecanismos, com a velocidade da História criam pelo caminho uma entropia e os
tecidos vão paulatinamente se necrosando. Por isso, estou tranquilo. Trancado
em casa, espero a morte desse “regime” que tem dentro dele – está claríssimo –
todos os germens históricos da própria destruição!
Título, Imagens e Texto: Waldo
Luís Viana é escritor, economista e gosta de fazer versos. Teresópolis, 28 de
julho de 2011.
Parabenizo o Senhor Jose Dirceu, que com empenho, perseverança e argúcia, com sacrifício de sua própria imagem pública, superou seus antigos mestres soviéticos e implantou à perfeição, desde o esboço original e estritamente dentro de um apertado cronograma o mais completo, abrangente e duradouro projeto de aparelhamento de Estado já visto desde o fim da II Guerra. Amparado pelo arcabouço legal e milimetricamente burilado pelas ações de populismo messiânico do carismático Líder Universal dos Povos e contando ainda com o oportuno e preciso benchmarking sobre o sucesso do projeto de estabilização econômica do governo anterior, seu projeto de país durará por gerações. Brilhante. Simplesmente brilhante. Ai de nós.
ResponderExcluir"Seu projeto de país durará por gerações"... Oxalá não!!!
ResponderExcluirÉ um paradoxo. Enquanto houver estabilidade econômica e as classes C e D continuarem a migrar para as condicoes de status de consumo que há vinte anos eram o paradigma da empobrecida classe média tupiniquim, será possível à República Petista financiar a acobertação das falcatruas que sustentam o establishment. Quanto ao aparelhamento do Estado, durará no mínimo até a aposentadoria dos novos "servidores". Toda a massa crítica de uma geração ficou também comprometida pelo viés esquerdóide do ensino fundamental e pelo assistencialismo estatal...
ResponderExcluirNão sei se é o fator econômico o mais importante causador dessa estagnação cívica... Penso muito em fascismo, ou, manipulação da massa: país grande, comigo ninguém pode, o país "agora" é conhecido, etc...
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