O chauvinismo de exportador
alemão imagina-se na ilha dos bem-aventurados, onde ninguém sabe o que é a
crise. Ora o facto é que também neste país continuam a aumentar a pobreza em
massa e os salários de miséria. Mas isso não interessa nada quando a economia
de qualquer maneira está a crescer. A China e os Estados Unidos estão a comprar
em grande na Alemanha graças a apoios públicos. Por enquanto a crise tem sido
exportada sobretudo para as partes menos abençoadas da UE, juntamente com os
automóveis e as máquinas-ferramentas. O euro torna isso possível, porque
promove o rolo compressor da exportação de alta tecnologia. E, por isso, ele
tem de ser salvo. A tertúlia habitual excita-se artificialmente com os
pretensos presentes de milhares de milhões para os "gregos
preguiçosos". Contudo, não há presentes nenhuns, mas sim mais empréstimos,
para serem pagos em capital e juros, a bem ou a mal. Isso só pode acontecer se
a Grécia poupar até à ruína e cortar literalmente do corpo dos seus cidadãos,
incluindo a classe média, os custos do resgate do euro. Há muito que não são
apenas jovens militantes que vão para a rua contra isso, mas também simples
donas de casa, médicos e professores, avôs e avós.
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O limiar de dor social foi
ultrapassado como é sabido e não só na Grécia. O terror da poupança está a
devastar por motivos semelhantes também a Espanha, Portugal, Irlanda e outros
sítios; até a Grã-Bretanha, que nem sequer faz parte da zona euro, mas teve de
salvar os próprios bancos e obriga agora as pessoas a pagar. Por toda a parte
começa a aparecer uma revolta contra a venda dos últimos recursos públicos,
revolta por enquanto ainda sem rumo político-social, mas que em breve só poderá
ser sustida pela força. De repente, no meio da UE, estão iminentes
"situações das arábias". Se os levantamentos por esses lados havidos
foram até agora mediaticamente percebidos como "movimentos de
democratização" muito correctos, agora vem à tona a miséria social como
verdadeira causa, no próprio terreno das democracias europeias. Em foco, cá
como lá, está o dramático desemprego em massa da juventude com formação
académica, que de resto há muito se vem manifestando também na China e noutros
países asiáticos em plena expansão.
A inundação de dinheiro dos
bancos centrais e os programas de resgate públicos é que levaram a novas bolhas
financeiras, inflação descontrolada e mesmo, como na zona euro, à beira do
colapso da moeda. A política de austeridade extremista é a inversão de marcha
para evitar tais consequências. Mas com isso apenas se revela a crise em toda a
sua extensão. Depois dos países árabes, a Grécia, sendo o elo actualmente mais
fraco, mostra o futuro da economia capitalista e do seu universo de Estados.
Se, depois da geração jovem, também a geração mais velha é levada a bater no
fundo pelas consequências da crise executadas pelo Estado, desfaz-se a
legitimidade do sistema político no seu conjunto. Isto não é apenas um problema
social e político, mas também afecta o capital em si. Pois a fúria da poupança
contra as consequências da fúria dos resgates também acaba por estrangular de
novo a conjuntura económica global. É uma ideia absurda pensar que a Alemanha
poderá gozar duradouramente do fulgor da sua exportação de crise, enquanto todo
o mundo está em chamas. Será interessante ver como os supostos ganhadores da
crise responderão social e politicamente, quando a miséria finalmente chegar
também a eles.
Título e Texto: Robert Kurz, original SPARTERROR UND REVOLTE. Publicado em “Freitag”, Berlin, 07-07-2011
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