terça-feira, 26 de julho de 2011

Oslo: uma simetria psicopata


“Devemos defender com redobrado vigor os valores democráticos, multiculturais e laicos que caracterizam nossa civilização, mas ao mesmo tempo nos precavermos, anteciparmos e termos a capacidade de enfrentar os psicopatas sedentos de sangue”
O mais sinistramente curioso e significativo do atentado com carro bomba e do massacre de jovens em Oslo é que a chacina praticada por um (aparentemente) solitário fanático de extrema-direita cristã (!) poderia perfeitamente tê-lo sido pelos djhadistas da Al Qaeda. Ou seja, para manifestar seu ódio ao islã, Anders Breivik praticou atentados que pareciam levar a marca registrada de Osama Bin Laden. Mas seus alvos foram prédios públicos do governo e adolescentes noruegueses, não imigrantes muçulmanos. Da mesma forma que a imensa maioria de vítimas do terrorismo islâmico no Iraque, Paquistão, Argélia, Afeganistão, Yemen, Somália, Arábia Saudita e outros países onde o terrorismo djihadista esteve mais ativo é constituída de muçulmanos.
A simetria perfeita dos psicopatas de um ou outro bando mostra perfeitamente o quanto a referência religiosa ou cultural é totalmente acessória, mais um pretexto do que uma justificação, por mais elaborados e prolixos que sejam seus discursos. É impressionante como o matador de Oslo usa exatamente as mesmas técnicas, armas e ferramentas de comunicação – carros bomba com explosivos feitos de fertilizantes agrícolas, uso da internet e das redes sociais para veicular suas idéias – que os djihadistas. Mais: a referência às cruzadas como foco de um enfrentamento entre islã e cristianismo.

Anders Breivik
A diferença entre Anders Breivik e Mohament Atta, o chefe dos terroristas de 11 de setembro, é que Anders não se dispôs de forma alguma ao martírio. Assim que a policia norueguesa se aproximou, ele deixou seu poderoso armamento e entregou. Seu objetivo é claro: esse frio psicopata deseja a glória de tornar-se um preso famoso, um líder político, que, nas condições benevolentes do sistema penal daquele país nórdico, poderia sair após 20 anos, com cinquenta e poucos anos. Fica na situação que Bin Laden gozaria se o comando do Navy Seals não o tivesse executado sumariamente. Receio que a publicidade em torno dele, de seu manifesto de 1500 páginas, de sua operação técnica e taticamente eficiente e implacável, na tradição nazista, não produza sua corte de seguidores.

A conclusão, que vale inclusive para o Brasil, é que devemos defender com redobrado vigor os valores democráticos, multiculturais e laicos que caracterizam nossa civilização, mas ao mesmo tempo nos precavermos, anteciparmos e termos a capacidade de enfrentar os psicopatas sedentos de sangue que encontram na intolerância religiosa, étnica, racial ou ideológica pretexto para matar. Pode acontecer em qualquer lugar improvável. Até na Noruega…
Alfredo Sirkis, Congresso em Foco, 26-07-2011
* Deputado federal pelo Partido Verde (RJ), do qual é um dos fundadores, tem 60 anos, e foi secretário de Urbanismo e de Meio Ambiente da cidade do Rio de Janeiro e vereador. Jornalista e escritor, é autor de oito livros, dentre os quais Os carbonários (Premio Jabuti de 1981) e o recente Ecologia urbana de poder local. Foi um dos líderes do movimento estudantil secundarista, em 1968, e viveu no exílio durante oito anos.

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