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Foto: DR |
Uma das principais
dificuldades do governo Dilma Rousseff, pelo que foi possível perceber nestes
primeiros seis meses, é que a presidente da República vive brava. Diante de
todo e qualquer problema que aparece, o noticiário diz sempre a mesma coisa:
Dilma ficou brava, ou muito brava. Está irritada. Ou está impaciente. Ou não
gostou. Ou passou uma descompostura geral à sua volta. Ou deixou de castigo os
doutores fulano, beltrano e sicrano, e por aí se vai. E quanto ao problema real
que causou esse mau humor todo ─ ficou bem resolvido? Não vai acontecer de
novo? Alguma coisa melhorou? Nada disso; fica tudo igual e, às vezes, pior. A
presidente acha que está, com os seus pitos, corrigindo os erros cometidos e
mostrando que tem braço firme para governar. Na prática, o que está fazendo é
outra coisa. Está confundindo cara feia com autoridade; é o governo através da
bronca. Talvez seja bom para a máquina de propaganda do Palácio do Planalto,
que pode vender a imagem de uma presidente capaz de botar na linha qualquer
peixe graúdo que lhe apareça pela frente, que age rápido e não tolera serviço
mal feito. Mas na prática, até agora, a qualidade de seu governo não melhorou
nada com isso, pois Dilma não muda, e talvez nem possa mudar aquilo que
realmente está criando os problemas. É trovoada que vai embora e não traz um
pingo de chuva.
O que está criando os
problemas é o avanço cada vez mais rápido da privatização do estado brasileiro
─ ou, em linguagem mais direta, a utilização da máquina do governo em benefício
de interesses privados e a transferência de renda pública para bolsos
particulares. É história que está aí há muito tempo, mas que atravessa, na
atual administração, fronteiras nunca atingidas antes neste país. Os exemplos
são constantes, custam caro e acontecem praticamente à vista de todos. Basta
olhar, para começo de conversa, as empreiteras de obras públicas ─ jamais
mandaram tanto no governo como agora. Decidem preços, falsificam licitações,
alteram contratos, ignoram prazos e dão ordens nos ministérios. O empresário
Abílio Diniz se comportava até outro dia como presidente do BNDES, que se
dispunha a lhe oferecer mais de 4 bilhões de reais para a realização de um
negócio de seu interesse pessoal no Grupo Pão de Açúcar; o projeto acabou em
naufrágio, mas deixou claro como empresários amigos do governo se sentem à
vontade diante do patrimônio público. O notório deputado Valdemar Costa Neto,
dono de um dos mais extensos prontuários da política brasileira, despachava até
outro dia dentro do Ministério dos Transportes, foco do último escândalo classe
“A” da administração federal. Amigos, aliados e parceiros do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, que não tem cargo oficial nenhum e teoricamente é um
cidadão particular, circulam nos ministérios, empresas estatais e outros órgãos
públicos como se estivessem em casa. Jatinhos de magnatas que têm negócios
pendentes com o governo são hoje o meio de transporte regular de Lula e da
companheirada.
Enquanto as coisas forem
assim, e elas são cada vez mais assim, não adianta nada a presidente ficar
brava. A braveza de Dilma pode assustar os subordinados mais inseguros, mas não
causa a menor impressão em profissionais calejados como o deputado Costa Neto ─
podem até trocar de sala, mas não mudam de atividade. O desfecho da mais
recente calamidade fornecida pelo Ministério dos Transportes, onde reportagens
de VEJA flagraram práticas grosseiras de corrupção, é um excelente exemplo
disso. O ministro Alfredo Nascimento, depois de receber a “confiança” de Dilma,
acabou sendo colocado na rua junto com os burocratões mais vistosos do seu
entorno. Mas para o seu lugar foi nomeado o número 2 do ministério, que está lá
há anos; a menos que não comparecesse ao local de trabalho, viveu esse tempo
todo no meio da ventania.
Qual é a mudança, então? O PR,
grupo que foi presenteado com o Ministério dos Transportes pelo presidente
Lula, não vai largar o osso; a “base aliada” e as gangues partidárias que
mandam em Brasília não vão mudar de conduta. Alteração, mesmo, só continua
acontecendo com o PT, em consequência de sua caminhada ao lado de gigantes da
política brasileira como o PR e bandos semelhantes. O partido-farol das massas
populares, em algum momento dessa viagem que já dura mais de oito anos, acabou
trocando de lado. Na pose e no palavrório, ainda se apresenta como a vanguarda
das forças do bem. Na vida real, fica cada vez mais parecido com o deputado
Costa Neto.
Texto: José Roberto Guzzo.
Publicado por Augusto Nunes, 16-07-2011
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