Peter Wilm Rosenfeld
A República brasileira já
sofreu e teve que conviver com uma série de escândalos, de toda a espécie, o
que não é novidade em governos brasileiros.
Penso, porém, que ainda não
tinha enfrentado algo parecido com o que aconteceu – e ainda não terminou de
todo, no Ministério dos Transportes.
Até o momento em que escrevo,
já foram demitidos 18 burocratas de alto coturno, a começar pelo Ministro.
Não se sabe, ainda, quantos
outros serão demitidos pelo País afora.
Ilustração: Glauco |
Um fato interessante é que,
até o presente momento, a Presidente Rousseff nem uma vez, pelo menos em
público, se queixou de tão grande herança maldita que lhe foi deixada por seu
antecessor, o fanfarrão Sr. da Silva.
Esse episódio inclui algumas
coisas interessantes.
- Na segunda metade do segundo
mandato do Sr. da Silva, a atual Presidente era a gerentona do PAC e, como tal,
responsável por tudo o que acontecia com as obras do mesmo. As obras rodoviárias
faziam parte do PAC e, como tal, vem a pergunta: como foi que não se deu conta
do que estava acontecendo?
E cabe uma especulação: a Sra.
Rousseff não sabia da roubalheira ou sabia, comunicou o que estava acontecendo
ao Sr. da Silva e esse, a sua vez, disse-lhe que esquecesse, fizesse de conta
que não sabia de nada?
Ao Sr. da Silva não há que dar
o benefício da dúvida, mas à Sra. Rousseff inclino-me a dar-lhe essa
consideração.
Só que, tomando essa posição,
faz-se necessária outra pergunta: se sabia, mas não queria prejudicar o que
então era seu chefe (e mais do que chefe, padrinho de sua candidatura
vitoriosa), será que não teve força para excluir essa verdadeira corja do PR de
seu governo?
No caso de a resposta ser
positiva, o governo da Sra. Rousseff ficaria maculado por essa falha monumental
ainda antes da metade do primeiro ano de seu mandato.
E necessariamente vem a
pergunta: e nos outros ministérios, como anda o governo, ainda mais que o caso
Palocci foi tristemente emblemático?
Esse Senhor não tinha o
direito de fazer o que fez, depois do vergonhoso ato que cometeu quando
Ministro da Fazenda do Sr. da Silva. E deveria estar sendo processado pelo
caseiro Francenildo pelo mal que sua mentira causou à vida do caseiro.
Voltando aos Ministérios,
sabe-se desde sempre que o desvio de recursos na área de saúde sofre do mesmo
mal que o dos Transportes (antigamente designado por Obras Públicas). E vem a
mesma pergunta: o que está sendo feito para evitar tal desvio?
O Ministro, médico
sanitarista, tem uma tarefa gigantesca pela frente, pois a saúde no Brasil é
vergonhosamente deficiente e o SUS é um fracasso e um engodo. Mas já estamos na
segunda metade do primeiro ano e ainda não se sabe de nada do que está sendo feito
nessa área, a não ser a pressão para a volta da CPMF…
O coitado de um doente que
tiver que ser tratado pela estrutura do SUS tem grandes chances de terminar em
um cemitério (e não estou dizendo isso por ouvir falar; tivemos, minha família
e eu, a experiência ao vivo e a cores com um grande amigo, antigo empregado
doméstico, há poucos anos. Por odioso que possa parecer eu escrever isso, teve
a sorte de falecer, pois estava sofrendo muito!)
No ensino (educação) o quadro
não é diferente, mas isso não é surpresa. O Sr. Fernando Haddad continua
fazendo o que fez no governo anterior: nada que sirva.
Agora decidiu candidatar-se a
um cargo eletivo em S. Paulo e aí, talvez, a situação melhore um pouco, pois
terá pouco tempo para os assuntos do Ministério. E já que está decidido a
disputar uma eleição, deveria deixar o ministério, mas duvido que o faça, por
enquanto. A única coisa que nos resta fazer é torcer para que o Ministério
fique em melhores mãos do que está agora.
A Presidente Sra. Rousseff
deveria tomar algumas decisões corajosas visando a evitar fiascos futuros:
desistir de uma vez por todas de algumas idéias absurdas: do TAV (trem-bala),
pelo altíssimo custo sem retorno, da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos, que
custarão uma fortuna ao País sem nada de mais importante a adicionar.
O Brasil tem tantas
prioridades e tantas deficiências que, certamente, não haverá recursos para a
realização das obras necessárias, ao mesmo tempo cuidando das reais
necessidades do País.
A Sra. Rousseff que entre para
a história do Brasil como a primeira Presidente do sexo feminino que, ao mesmo
tempo, colocou o País em ordem em termos de saneamento básico, saúde, estradas
(rodovias e ferrovias) e ensino fundamental.
Se fizer só isso (só? Isso
será um enorme, gigantesco avanço real!), ocupará um lugar de destaque na
galeria das grandes personalidades brasileiras.
Caso contrário, será incluída
na galeria das personalidades que contribuíram para nosso irremediável atraso
no concerto dos países!
Título e Texto: Peter Wilm Rosenfeld, Porto
Alegre, 27-07-2011
Edição: JP
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