Álvaro Pedreira de Cerqueira
John Maynard Keynes, março de
1946. Foto: Arquivo FMI
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Em recente artigo na imprensa
desta capital, um ilustre economista escreveu que Lord Keynes foi o 'maior
economista deste século’. Vejamos se foi. Em 1929 havia duas correntes de
pensamento econômico na Inglaterra. Uma na Universidade de Cambridge encabeçada
por John Maynard Keynes, e outra na London School of Economics, liderada pelo
então jovem economista Lionel Robbins. Este conhecia os trabalhos dos mestres
da Escola Austríaca de Economia, fundada por Carl Menger nos anos 1870 (escola
liberal clássica), tendo como seguidores Eugen von Bôhm-Bawerk, Friedrich
Wieser e Ludwig von Mises, tendo estes dois sido professores de Friedrich
August von Hayek (1899-1992), que receberia o prêmio Nobel de Economia de 1974.
Lionel Robins convidou F. A.
Hayek para fazer palestras na London School of Economics em 1930/31, e
contratou-o como professor a partir de 1932, poi sabia que Hayek seria capaz de
vencer Keynes nos debates que se seguiriam pelos anos afora. Hayek teve grandes
polêmicas com seu colega e amigo Lord Keynes, tendo refutado suas teorias, como
a que sustentava que o Estado deveria gastar para tirar a economia da recessão,
alertando-lhe de que esta era uma política inflacionária, que após uma euforia
de crescimento econômico reconduziria à recessão, como acabou acontecendo após
a morte de Keynes, em 1946.
Em "O caminho da
servidão", de 1944, Hayek previu que o socialismo, mesmo moderado, ou
social-democracia, acabaria por minar a economia, o que de fato aconteceu. Foi
preciso Margaret Thatcher assumir o governo inglês pelo Partido Conservador
para reformar a economia, privatizando os dinossauros estatais, tendo também
quebrado a espinha dorsal dos sindicatos predadores e desregulamentado o
mercado – o que só foi possível depois de quase duas décadas de divulgação das
idéias liberais pelo Institute of Economic Affairs e pelo Adam Smith Institute,
ambos criados em Londres pelo empresário Antony Fisher, por sugestão do
professor Hayek.
Hoje a Inglaterra é das
economias que mais crescem na Europa, com a menor taxa de desemprego e a renda
média dos trabalhadores superou a dos alemães, que amargam alta taxa de
desemprego em seu país como resultado da tal ‘economia “social” (sic) de
mercado’, assim como os trabalhadores franceses, em conseqüência do socialismo
“moderado” (os meios de produção em mãos da iniciativa privada, mas um welfare
state muito pesado).
Na edição de 20/05/78, The
Times, de Londres, publicou um editorial que diz:
"A republicação de uma
antologia sobre os trabalhos do professor F. A. Hayek sobre a inflação e Keynes
é uma oportunidade para reavaliar o impacto de um homem cuja maior influência
se deu no final de sua vida. 0 terceiro quartel deste século foi descrito como
"a era de Keynes", não apenas por causa da influência que ele exerceu
sobre a economia e as políticas públicas, mas também, sobretudo, porque este é
um tempo em que suas previsões sobre os benéficos efeitos de suas políticas
pareciam estar triunfantemente justificadas.
"Em termos dos problemas
econômicos que agora enfrentamos, o corrente período pode mais precisamente ser
chamado "a era de Hayek". A inflação, agora, elevou-se fora de
controle e ainda está muito alta.
Tentativas de combater o desemprego
pelo estímulo da demanda tornaram-se cada vez mais obviamente ineficazes. 0 professor
Hayek tende a ser relacionado com a outra escola de oponentes de Keynes,
geralmente descritos como monetaristas, cujo máximo expoente é o professor
Friedman.(...) No âmago da discórdia do professor Hayek com Keynes está uma
preocupação com os movimentos dos preços na economia, antes que o desempenho
geral dos agregados.
"Na realidade, Keynes
cometeu o engano de argumentar que o desemprego que ele viu nos anos 1930 foi
causado por uma simples insuficiência da demanda geral, quando ele de fato foi
causado pela falha dos preços relativos em ajustarem-se às cambiantes
circustâncias. Tentativas de usar política monetária para solucionar este
problema, incentivando o incremento da demanda, trariam como efeito exatamente
o oposto do desejado. Pois, aumentando no curto prazo a demanda da economia, o
governo estava atraindo cada vez mais os trabalhadores para um padrão de
emprego e de salários que não seria sustentável a longo prazo. (...)
"O que parece claro é que as advertências
dos perigos para os quais uma aceitação acrítica dos ensinamentos de Keynes
estavam nos expondo, conforme nos previniu o professor Hayek uns quarenta anos
atrás, provaram-se corretas. Nós as tínhamos esquecido por um tempo muito
longo.", concluiu The Times.
Em um artigo assinado por
William H. Peterson, publicado na revista The Freeman' da Foundation for
Economic Education sobre o livro 'Uma Análise das Falácias Keynesianas',
(Aguilar, Madrid, 1961), de Henry Hazlitt, jornalista econômico americano, diz
o articulista: "No princípio era a Lei de Say: a oferta gera a demanda.
Porém esta era "a velha ciência econômica". Agora somos beneficiados
pela "nova ciência econômica": a demanda cria a oferta, graças ao
"novo" paradigma deslumbrante da "Teoria Geral do Emprego, os
Juros e o Dinheiro", de John Maynard Keynes. Imagine você empregos para
todo mundo, o tempo todo. Todos os governos centrais do mundo têm que manter a
"renda nacional" ao nível do "pleno emprego". Nenhuma
grande negociação.
Os encarregados da sintonia fina (Bancos Centrais)
simplesmente têm que aplicar a equação de Keynes (Y=C+I+G) e assegurar que a
macrodemanda sustenta adequadamente a macro oferta através da mágica
"G". Na fórmula, "G" representa os gastos do governo, para
o paraíso econômico e político. Então, assim como Marx era um Deus do século
XIX, Keynes se converteu em um Deus do século XX.
Hazlitt, escreveu Peterson,
devastou a "Nova Ciência Econômica" de Keynes, demonstrando que ela é
um prognóstico de persistente inflação e recessões recorrentes, conduz a uma
corrida constante entre a oferta de dinheiro e as demandas dos sindicatos, que
não conduzem ao pleno emprego a longo prazo. Hazlitt previne aos keynesianos
sobre os seguintes pontos:
a) eles se esquecem que a renda de todo mundo é um
custo para algum outro;
b) fazem pouco caso do fato de que a causa do
desemprego está nos salários excessivos;
c) e sofrem a tentação de desperdiçar
o dinheiro barato e os gastos deficitários, até mesmo fora do ciclo dos
negócios.
Título e Texto: Álvaro Pedreira de Cerqueira foi co-fundador e
vice-presidente do Instituto Liberal de Minas Gerais. Este texto foi publicado originariamente no jornal "Estado de Minas", em 1997. E-mail: alvaropcerqueira@uol.com.br
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