quinta-feira, 28 de julho de 2011

Hachi e o Aerus


Hachi

Waldo Deveza
Anteontem, tive que ir até a cidade, mais precisamente perto da Federação Espirita do E.S.P.
Foi uma ida rápida, mas algo me chamou a atenção e até me emocionou. Deixei o carro perto da rua Genebra, rua do meu destino, curta com um só quarteirão, e ao descê-la a pé para atingir o meu destino, uma cena me chamou a atenção. Na calçada, em pleno céu aberto, um jovem estava deitado num colchão sujo, muito debilitado, quem sabe, pelo uso de alguma droga e, ao lado dele, um cão de porte médio; um cão de pelo longo, daqueles barbudinhos, possivelmente até de raça e que se não fosse o estado, chamaria até a atenção. Felizmente o cão que já não tomava um banho há longo tempo, com o pelo todo engrouvinhado, estava ali ao lado de seu dono, como protegendo-o de qualquer perigo. O jovem debilitado dormindo e o cão impassível, ali, tomava conta. No meu retorno, que não demorou muito, tive que passar pelo local e a cena novamente se repetiu. Lá estava o cão e o jovem sem teto, numa perfeita simbiose. Emocionante e ao mesmo tempo triste!

Com o que vi, pensei quantas vezes um cachorro faz a diferença (eu vejo pelos meus), em relação a nós, humanos, nos quesitos afeto, tolerância e, acima de tudo, quanto ao ser fiel e solidário. Me recordei então de um filme estrelado pelo Richard Gere, que conta uma história real, acontecida por volta dos anos 20 do século passado, mas que na realidade aconteceu no Japão, envolvendo um professor universitário e o seu cão Hachi. Me veio à mente também um caso que está acontecendo em São Paulo, caso que foi noticiado recentemente pela mídia, envolvendo um morador de rua e o seu cão. Neste caso, o morador de rua teve que ser internado num pronto-socorro e o cão seguindo o SAMU se postou à frente da unidade, e lá ficou aguardando a saida do seu amigo. Infelizmente o sem-teto veio a falecer e o cão até à data da notícia, permanecia ali, postado junto à porta do pronto-socorro aguardando o seu dono. Até onde sei, o cão passou a fazer parte da vida das pessoas presentes à rotina daquela unidade e começou a ser tratado por elas, de forma muito parecida com o filme citado.

É, tem coisas que são difíceis de ser explicadas e, diante do exposto, acho que até cabe uma reflexão em relação ao grave problema que estamos enfrentando, fazendo logicamente uma ligação com as histórias (e não estórias) relatadas por mim. Como seria o nosso comportamento se estivéssemos todos, eu digo todos, independentemente de cargo ocupado na Varig e de plano AERUS, envolvidos num naufrágio, dentro de um bote salva-vidas, à deriva, diante do imponderável e em meio a um oceano encapelado? Será que nesse caso extremo seríamos mais solícitos, mais solidários uns com outros, mas ao mesmo tempo rígidos quanto à execução das tarefas compartilhadas, ou será que lá envolvidos mesmo diante do perigo, ainda teríamos tempo para destilar acusações, rancores e dúvidas quanto ao que realmente teria que ser feito para tentar chegar a uma praia segura?

É, o tempo está passando de maneira célere. Parece que foi na semana passada que tudo começou, mas a realidade é outra e nessa realidade, muitos já se foram e houve muita tristeza e desespero e, parece que o governo está em compasso de espera e, enquanto isso, nós apenas vendo a banda passar e sem tomar qualquer outra decisão, como por exemplo, pelo menos saber se cabe ou ainda cabe levar o nosso grave problema a uma corte internacional. Desculpem-me pela insistência, pois isso nos foi prometido aqui em SAO, lá no longínquo 2006 e nesse tempo quanta coisa ruim nos aconteceu, não é?
Quase 600 mortes até o momento e isso me faz pensar se isso não se trata de um genocídio legal!
Quero lembrar que aqui ainda não é a pobre Somália.
Sem mais,
Waldo Deveza, São Paulo, 28-07-2011

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