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O consenso nacional e europeu
na condenação das agências de notação financeira norte-americanas, em
particular da Moody's, não nos deve fazer confundir o essencial com o
acessório. O cerne do problema reside nos mercados, não nas agências. A tarefa
prioritária não consiste em lançar os alicerces de uma agência europeia. Já não
temos o luxo do tempo abundante. Pelo contrário, este escasseia. Numa voragem,
cada dia transporta consigo uma ameaça. Cada alívio, esconde, na verdade, uma
nova fonte de tensão que o desmente, logo de seguida. A tarefa urgente,
prioritária, é a de mudar profundamente as regras do jogo. Teremos, talvez, uma
dúzia de semanas. Não mais do que isso.
As notícias inquietantes
mostram a escalada dos juros dos títulos de dívida pública italiana, que, em
cinco semanas, saltaram de 4,62% para 6,02%, aproximando-se dos trágicos 7%,
que nós conhecemos por experiência própria. Quem diz Itália, diz Espanha, e o
seu sector das Caixas de Aforro, fragilizado pela bolha imobiliária. A
estratégia do BCE e da Alemanha tem sido a da quarentena. Os pequenos países
atingidos pela peste da dívida soberana têm sido colocados numa dolorosa zona
de segurança, afastados dos mercados, em penitência de austeridade. A resposta
dos mercados tem sido clara. Os "remédios" da União têm feito desses
países alvos preferenciais da especulação. Esperar que Atenas, Dublim e Lisboa
regressem aos mercados, só pela via dos planos da troika, seria um sinal de
insensatez tão grande como o de supor que Roma ou Madrid também podem ser
postas nas malhas da quarentena, sem as romper, pela simples pressão da sua
enorme massa crítica.
Como escrevi nesta coluna, no
primeiro dia deste ano: 2011 dará a resposta essencial que falta. A União
Europeia tem de mostrar aos mercados que não deixará para trás nenhum dos seus
povos e Estados, cerrando fileiras em torno de novos títulos de dívida da
União. Ou então, o colapso do euro será a antecâmara da agonia brutal e caótica
de uma Europa de paz, prosperidade e segurança. Não tenhamos ilusões. Na Europa
de hoje, ou somos federalistas ou somos suicidas.
Viriato Soromenho-Marques,
Diário de Notícias, 14-07-2011
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