De segunda a quinta elas são
esperadas com ansiedade. É... o… até que enfim iremos à praia, ao futebol, ao
chopp gelado ou só ficar em casa sem fazer nada. O que já é fazer muito pra
recuperar a máquina e começar tudo de novo.
Para nós, essa estranha espécie
que gosta de voar e de estar na aviação, a sexta-feira, se não chega a ser
indiferente porque também temos família, não é tão desejada como é pelos
outros.
Entretanto, de uns tempos para
cá passei a temer as sextas-feiras. Não por medo de assombração; os fantasmas
da Varig e do Aerus me perturbam vinte e quatro horas por dia, sete dias por
semana. Mas o último dia útil da semana é – agora – aquele que cristaliza o meu
desencanto com as coisas... e as pessoas. Mais uma semana que passa e mais uma
esperança... escassa… que se evaporou no esquecimento, na indiferença dos que
sabem – que pessoas normais (as que trabalham) não são perdulárias, não gastam
sem cuidado o salário ou a pensão tão difíceis de conquistar e têm o direito de
viver dessas conquistas.
Mas neste 5 de julho, fim de
uma semana extraordinária, com uma dúzia de idosos dormindo no chão duro e frio
dos corredores do Aerus, na ousadia de cobrar apenas o que nos foi roubado; na
luta solitária do José Manuel – um homem extraordinário – fazendo greve de fome
– por fome de justiça – a sexta-feira de hoje só nos lembra daquelas que chamam
de negra.
O tal indeferimento é mesmo
uma palavra que vem com uma ferida dentro.
Há poucos dias ainda, torrei
mais um pouco dos meus parcos tostões e liguei, aqui de casa, para o gabinete
do ministro Joaquim. Pareciam cientes e sensíveis ante o nosso drama.
Entretanto, o deferimento e a divulgação numa data como a de hoje, revelam como
podem ser enganosas certas impressões que temos da sensibilidade alheia. Ele, o
ministro, pode se utilizar de assessores para publicar seus despachos, mas,
pelo que ele já sabe da situação, a crueldade fica por sua conta inegavelmente.
Ainda que venhamos a ganhar
essa parada, o ministro Joaquim Barbosa entra com pesar para a minha lista de
decepções. Pelo muito que já nos fizeram esperar - inclusive ele - a minha
gratidão será apenas para os meu colegas que continuam lutando e para pessoas
que não questionam a nossa causa e nos dão apoio.
Sextas-feiras são dias cruéis
para nós. Em rotinas normais é um dia esperado com ansiedade; para que voa é
indiferente. Mas para nós variguianos dos tempos de chumbo, é quando vamos
dormir (se der para) com aquela sensação de vazio que nos acompanha há tantos
anos. Passamos a semana lutando, nos perguntando o porquê disso tudo, atentos
aos menores sinais de movimentações processuais e aí vem mais um chute no
estômago, como esse de hoje, mais um.
Cabeça erguida caros colegas.
Não serão sextas-feiras, indeferimentos ou ministros a definir quem somos. Nos
identificamos na luta pelo que é justo.
Título e Texto: José Carlos Bolognese, 05-07-2013
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Mural de Recados (para) José Manuel
Caro Bolô...É como já sabíamos,meu parceiro de infortúnio, neste "país" as vantagens do setor público vem em primeiro lugar...As instituições governamentais;executivo,judiciário e legislativo trabalham em causa própria,a união quando deve não paga,e quando deve pagar correm para os "seus aliados",por eles escolhidos,para legislarem e aplicarem a lei(a seu favor) prejudicando milhares de idosos,sem ligar para direitos humanos...Somos cidadãos de segunda categoria,estamos aqui,não para termos nosso direitos reconhecidos,não temos direito à justiça,nosso "dever" é pagar impostos...A ordem é recorrer até achar alguém que bata o martelo a seu favor(sobra mais para ser dividido entre "os da turma"),para pagar passagens para mais e mais mordomias... Abs.
ResponderExcluirJoka Klein.