sábado, 6 de julho de 2013

Sextas-feiras

José Carlos Bolognese
De segunda a quinta elas são esperadas com ansiedade. É... o… até que enfim iremos à praia, ao futebol, ao chopp gelado ou só ficar em casa sem fazer nada. O que já é fazer muito pra recuperar a máquina e começar tudo de novo.
Para nós, essa estranha espécie que gosta de voar e de estar na aviação, a sexta-feira, se não chega a ser indiferente porque também temos família, não é tão desejada como é pelos outros.

Entretanto, de uns tempos para cá passei a temer as sextas-feiras. Não por medo de assombração; os fantasmas da Varig e do Aerus me perturbam vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana. Mas o último dia útil da semana é – agora – aquele que cristaliza o meu desencanto com as coisas... e as pessoas. Mais uma semana que passa e mais uma esperança... escassa… que se evaporou no esquecimento, na indiferença dos que sabem – que pessoas normais (as que trabalham) não são perdulárias, não gastam sem cuidado o salário ou a pensão tão difíceis de conquistar e têm o direito de viver dessas conquistas.

Mas neste 5 de julho, fim de uma semana extraordinária, com uma dúzia de idosos dormindo no chão duro e frio dos corredores do Aerus, na ousadia de cobrar apenas o que nos foi roubado; na luta solitária do José Manuel – um homem extraordinário – fazendo greve de fome – por fome de justiça – a sexta-feira de hoje só nos lembra daquelas que chamam de negra.

O tal indeferimento é mesmo uma palavra que vem com uma ferida dentro.
Há poucos dias ainda, torrei mais um pouco dos meus parcos tostões e liguei, aqui de casa, para o gabinete do ministro Joaquim. Pareciam cientes e sensíveis ante o nosso drama. Entretanto, o deferimento e a divulgação numa data como a de hoje, revelam como podem ser enganosas certas impressões que temos da sensibilidade alheia. Ele, o ministro, pode se utilizar de assessores para publicar seus despachos, mas, pelo que ele já sabe da situação, a crueldade fica por sua conta inegavelmente.

Ainda que venhamos a ganhar essa parada, o ministro Joaquim Barbosa entra com pesar para a minha lista de decepções. Pelo muito que já nos fizeram esperar - inclusive ele - a minha gratidão será apenas para os meu colegas que continuam lutando e para pessoas que não questionam a nossa causa e nos dão apoio.

Sextas-feiras são dias cruéis para nós. Em rotinas normais é um dia esperado com ansiedade; para que voa é indiferente. Mas para nós variguianos dos tempos de chumbo, é quando vamos dormir (se der para) com aquela sensação de vazio que nos acompanha há tantos anos. Passamos a semana lutando, nos perguntando o porquê disso tudo, atentos aos menores sinais de movimentações processuais e aí vem mais um chute no estômago, como esse de hoje, mais um.

Cabeça erguida caros colegas. Não serão sextas-feiras, indeferimentos ou ministros a definir quem somos. Nos identificamos na luta pelo que é justo.
Título e Texto: José Carlos Bolognese, 05-07-2013

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Um comentário:

  1. Caro Bolô...É como já sabíamos,meu parceiro de infortúnio, neste "país" as vantagens do setor público vem em primeiro lugar...As instituições governamentais;executivo,judiciário e legislativo trabalham em causa própria,a união quando deve não paga,e quando deve pagar correm para os "seus aliados",por eles escolhidos,para legislarem e aplicarem a lei(a seu favor) prejudicando milhares de idosos,sem ligar para direitos humanos...Somos cidadãos de segunda categoria,estamos aqui,não para termos nosso direitos reconhecidos,não temos direito à justiça,nosso "dever" é pagar impostos...A ordem é recorrer até achar alguém que bata o martelo a seu favor(sobra mais para ser dividido entre "os da turma"),para pagar passagens para mais e mais mordomias... Abs.
    Joka Klein.

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