sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Os descamisados

José Manuel
Num retorno, retrocesso, sei lá o que chamar, talvez até nostálgico, somos levados de volta ao passado, mais precisamente aos anos 40 e à época peronista do nosso vizinho europeu da América do Sul.

Atriz obscura, vinda do interior de um país recém-saído de uma ditadura e conturbado politicamente, encontrou na capital um solo fértil às suas ambições artísticas e políticas.
"Só me casarei com um presidente" dizia María Eva Duarte de Perón, ainda adolescente em sua cidade natal.


Daí para a história"Evita" foi o que conhecemos.
Ligando a figura mundialmente conhecida de "Evita", uma glória ‘hollywoodiana’ de proporções desmedidas, com a moça simples, a criança ultrajada, podemos chegar à conclusão de que Eva foi, possivelmente, uma personalidade dividida. De um lado, repleto de altruísmo e generosidade, há a moça simples, revoltada com a injustiça, de outro, no entanto, a mulher seduzida pelo poder. No âmago de suas preocupações sociais mais profundas, como o salário e as seguranças empregatícias para a dona de casa, encontra-se uma infância pobre e uma mãe humilhada pelas circunstâncias. Promovida pelo peronismo, e sendo principal fator de legitimação deste, a figura de Eva irá se confundir com a de uma grande estadista. Eva torna-se mais importante do que a própria imagem da Argentina real, uma vez que esta imagem é representada revestida de um aparato e de uma glória que não correspondem à realidade social da época.

Para "Evita", descamisado era o que povo sentia, amava, sofria, mesmo que não se vista como povo. Descamisado era o que estivera na praça de Mayo num 17 de outubro. Descamisado é o povo, culturalmente inferior, que aceita com honra essa inferioridade, porque no fundo, se sente forte por meio do seu líder e potencialmente superior porque, por seu intermédio, se sente ascender a uma nova dignidade.
Esses na visão da futura líder "espiritual" da Argentina, eram aqueles que a levariam ao podium político que tanto almejava. E conseguiu!


Hoje em dia, um dos passeios mais conhecidos dos brasileiros em Buenos Aires, o cemitério da Recoleta, mostra o túmulo de Eva Duarte de Peron como um tributo a um herói nacional, mas acima de tudo, nos mostra como é fácil se fabricar um ídolo, forjado em uma política assistencialista e no despreparo de um povo.
Título e Texto: José Manuel, 08-11-2013

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