Num retorno, retrocesso, sei
lá o que chamar, talvez até nostálgico, somos levados de volta ao passado, mais
precisamente aos anos 40 e à época peronista do nosso vizinho europeu da
América do Sul.
Atriz obscura, vinda do
interior de um país recém-saído de uma ditadura e conturbado politicamente,
encontrou na capital um solo fértil às suas ambições artísticas e políticas.
"Só me casarei com um
presidente" dizia María Eva Duarte de Perón, ainda adolescente em sua cidade natal.
Daí para a história"Evita"
foi o que conhecemos.
Ligando a figura mundialmente
conhecida de "Evita", uma glória ‘hollywoodiana’ de proporções
desmedidas, com a moça simples, a criança ultrajada, podemos chegar à conclusão
de que Eva foi, possivelmente, uma personalidade dividida. De um lado, repleto
de altruísmo e generosidade, há a moça simples, revoltada com a injustiça, de
outro, no entanto, a mulher seduzida pelo poder. No âmago de suas preocupações
sociais mais profundas, como o salário e as seguranças empregatícias para a
dona de casa, encontra-se uma infância pobre e uma mãe humilhada pelas
circunstâncias. Promovida pelo peronismo, e sendo principal fator de
legitimação deste, a figura de Eva irá se confundir com a de uma grande
estadista. Eva torna-se mais importante do que a própria imagem da Argentina
real, uma vez que esta imagem é representada revestida de um aparato e de uma
glória que não correspondem à realidade social da época.
Para "Evita",
descamisado era o que povo sentia, amava, sofria, mesmo que não se vista como
povo. Descamisado era o que estivera na praça de Mayo num 17 de outubro.
Descamisado é o povo, culturalmente inferior, que aceita com honra essa
inferioridade, porque no fundo, se sente forte por meio do seu líder e potencialmente
superior porque, por seu intermédio, se sente ascender a uma nova dignidade.
Esses na visão da futura líder
"espiritual" da Argentina, eram aqueles que a levariam ao podium político
que tanto almejava. E conseguiu!
Hoje em dia, um dos passeios
mais conhecidos dos brasileiros em Buenos Aires, o cemitério da Recoleta,
mostra o túmulo de Eva Duarte de Peron como um tributo a um herói nacional, mas
acima de tudo, nos mostra como é fácil se fabricar um ídolo, forjado em uma
política assistencialista e no despreparo de um povo.
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