terça-feira, 22 de abril de 2014

[O cão tabagista conversou com...] Rocha: "Nunca gostei da profissão"

Nome completo: Vanderlei dos Santos Rocha
Nome de guerra: Rocha
Onde nasceu? Porto Alegre, nas margens do arroio Dilúvio, na rua São Manoel
Quando começou a trabalhar? Em 2 de fevereiro de 1968

Onde?
Comecei na VARIG em 2 de fevereiro de 1968, na penúltima turma técnica T18-b, fiz os três anos técnicos e em 1972 fui trabalhar na Seção de Acessórios. Tenho carteiras técnicas de motores, estruturas, eletrônica e eletrotécnica, peso e balanceamento, performance, galvanoplastia, e outras mais, em aviação.

A Varig foi o seu único emprego?
Sim, casei com uma filha de funcionário, as famílias juntas tem mais de trezentos anos de Varig entre pais, filhos, primos e sobrinhos. Meu sogro, Ody Figueiró, que trabalhou na Varig por trinta anos, foi convocado para a seleção brasileira de futebol de 1956 mas não ficou entre os 22; meu pai e o seu irmão gêmeo, que estão na foto do meu álbum, foram jogadores do Gefuvar, é uma família Variguiana cheia de amadores do futebol.


Meu pai é Wilson, meu tio é Nilson Rocha. Meu pai é o cabeludo, seus apelidos eram Leca Cabeludo e Leca Careca.
Depois da Seção de Acessórios, foi para onde?
Iniciei limpando reversíveis de 707. Nos finais de semana lavava as mãos na soda cáustica, para tirar a fuligem. Terminei o Científico e no final de 1971 consegui uma vaga para estar na turma de mecânicos de voo de 1972. Em 1972, com vinte e um anos, fui aprovado e comecei no Electra-II. Pela conjuntura de crescimento da época, antes de completar um ano de Electra eu fui promovido ao 707, onde voei por quatorze anos.

Voou o PP-VJA?
Com grande orgulho, mas meu primeiro voo de 707 foi no VJJ.

Boeing 707, PP-VJJ, foto: Bob Garrard

Quais os ‘melhores’ pernoites nesses quatorze anos?
Havia pernoites maravilhosos e outros ‘tipo perdidos no paraíso’. Eu acho que ninguém pode dizer que Nova Iorque foi o melhor deles, apesar de ser do tipo perdido no paraíso, praticamente você ficava sozinho, mas bate a saudade do Carmine’s, dos teatros, e do steak do Ted’s. Da comida japonesa na segunda avenida, dos Pub’s, e das compras…

Carmine's, foto: Shanna Ravindra
Finalizando, sempre carreguei livros em minha bagagem, e sempre gostei da solidão, nunca me incomodava, sou eclético quanto a essas posições, uns gostam de multidões e eu as detesto.

Nunca gostei da profissão em si, eu queria ter sido advogado, médico, até professor, mas sempre a exerci com conhecimento e profissionalismo, no fundo somos todos niilistas, só reclamamos quando pisam em nossos calos.

Por que não gostava da profissão?
Meu maior sonho era Medicina, mas as necessidades de família, meu pai era mecânico de manutenção e nós éramos oito…
Fui para o trabalho, eu não queria ser piloto, ou mecânico de voo, nem atendente de bordo, eu queria ser doutor. 

Quero ser bem claro, que não fazia mal meu trabalho, sempre me considerei excelente, mas não gostava no meu íntimo. Eu nunca tive aquelas atitudes de arrogância com os hierarquicamente abaixo, nem desrespeito com os acima, eu achava que deveria ser uma equipe, onde todos ajudam todos. Eu comparo a tripulação de voo a uma equipe cirúrgica, o cirurgião é tão importante quanto o anestesista, a instrumentadora e os enfermeiros. A diferença é que quando o paciente morre, geralmente a tripulação morre junto, e o cirurgião põe a culpa no anestesista. (LOL! It’s a joke)

Qual o gênero literário preferido?
Meu caro, ainda hoje devoro livros. Como já apercebeste nas minhas colocações, sou ateu, e convicto, não gosto que me chamem de agnóstico, que é um ateu sem convicção. Antes de tudo, o livro sagrado, a bíblia, é o meu preferido, porque é cheio de contradições e paradigmas, e isso me fascina.

Adoro Filosofia, a real filosofia, não os charlatães modernos com frases remontadas da história.
Gosto de Epicuro e Nietzche. E minha autora preferida foi Agatha Christie. Já li Sidney Sheldon e seus afins.

Meu gosto pela leitura começou muito cedo com os livros ZZ7, com a agente fictícia Brigitte Montfort. Em quase três décadas foram publicadas exatas quinhentas histórias originais, entre 1965 e 1992, em séries denominadas vermelha, azul e verde (a cor da logomarca ZZ7 no livreto), em formato de bolso.

Acho a literatura brasileira muito fraca, meus preferidos são Capitães de Areia, O tempo e o vento, e Meu pé de laranja lima, ou seja, completamente ortodoxo aos literatos comuns.



Meus preferidos em política são O livro verde, de Kadafi, e A dualidade política de Duverger. Sugiro que leia os dois. E por último, um livro muito controverso, proibido em alguns países, “Jesus cristo nunca existiu“ de La Sagesse. Minha opinião é de quem não lê e aprende o contrário, não pode emitir opinião sobre ele.

O “Livro Verde” de Kadafi, faz lembrar o “Livro Vermelho” de Mao Tsé-Tung…
O conceito de democracia criado na antiga Grécia era tipo um INSS cobrar impostos dos ativos para sustentar os inativos na velhice. Mao deturpa o conceito de democracia e sociedade copiando as comunas de Marx inspiradas nas reduções indígenas dos jesuítas.
Kadafi faz uma genealogia da sua ditadura, no bem social, baseada na honestidade dos políticos. O conceito moderno de democracia é cuidar do social e ter um governo honesto, não importando o tipo de regime político.

Compreendo. Kadafi era um político honesto?
Político desonesto é pleonasmo, acredito que ele fez mais pela Líbia mais do que qualquer outro, não incomodava, não atacava ninguém.

Durante o seu governo, a Líbia experimentou alguns períodos de forte crescimento econômico, por muito abalado pelas sanções impostas por países ocidentais contra o seu governo. Devido às enormes rendas provenientes do petróleo, Kadafi sustentou vários programas sociais, a Líbia teve o maior IDH do continente africano, aumentou a participação das mulheres na vida pública e deu mais direitos aos negros do que Nelson Mandela. Durante o seu governo a Líbia teve a menor dívida pública do mundo. Seus críticos alegavam que Kadafi concentrava boa parte das riquezas do seu país em suas próprias mãos, tendo uma fortuna pessoal estimada em duzentos bilhões de dólares, mas nada comprovado.

Kadafi anunciou que seu Estado estava abrindo mão de todos os programas de construção de armas em 2003 e convidou inspetores internacionais para que verificassem que ele estava comprometido com isso. O governo americano removeu a Líbia da lista de países que apoiavam o terrorismo. 

Em fevereiro de 2011, frente a protestos pedindo a sua derrocada do poder, patrocinados pela OTAN, deu-se o final.
Seus quarenta e dois anos de governo o fizeram para mim a melhor ditadura do século XX.

Tem ditaduras melhores do que outras?
Vai ser um pouco longo. A democracia foi criada com o intuito de cuidar dos velhos, nunca da liberdade.
Democracia não significa liberdade, veja esses nomes:
República da China, de Angola, de Cuba, entre muitas…

O conceito de liberdade está nestas frases de Rosa de Luxemburgo, por incrível que pareça uma socialista assassinada pela Gestapo.

“A Liberdade é quase sempre, exclusivamente a liberdade de quem pensa diferente de nós.”

“A liberdade apenas para os partidários do governo, apenas para os membros do partido, por muitos que sejam, não é liberdade. A liberdade é sempre a liberdade para o que pensa diferente.”

Quando perguntamos o que é liberdade sempre dizem que é fazer o que quiser, ir para onde quiser, dizer o quer-se dizer, mas, infelizmente, não é isso.

Vejamos os Emirados Árabes Unidos, cada cidadão recebe 1 500 dólares de pensão do governo, tem saúde de primeiro mundo, estuda onde quiser, trabalha se quiser, não pode usar drogas, não pode se prostituir, não pode roubar, não pode matar, não pode votar, é obrigado a cumprir as leis. E a lei, o governo é o Sheik e seus afins, uma ditadura, um governo feudal e honesto.
Qual seria o pedido de liberdade de seus habitantes?

Haverão de dizer direitos humanos, mas saúde, educação e segurança não seriam os princípios básicos dos direitos humanos? Ou vamos aceitar a definição de direitos humanos aos criminosos e deixar os das vítimas de lado?
Se o princípio básico da liberdade é o outro. Bem, eu diria que há mais liberdade nos Emirados que no Brasil. Porém, esse é o meu conceito, baseado na lógica dos conceitos de democracia e liberdade.

O ilógico de querer usar drogas, prostituir-se, ser homossexual, achar-se discriminado discriminando, fere a minha liberdade, ou vamos cometer a hipocrisia de imaginar que não há homossexuais no mundo islâmico? Há, mas eu perguntaria se é melhor ser homossexual com saúde, educação e segurança, onde é proibido, ou ser homossexual no Brasil, com direitos, sem saúde, educação e segurança?

Por isso, é importante definir os conceitos de democracia e liberdade.
Vejamos a democracia brasileira, onde os aposentados são escachados, deixados de lado, sem saúde, sem direitos, mas os funcionários públicos e os políticos com aposentadorias integrais gozando da plena democracia.

Que liberdade temos?
O passe livre do idoso, sem passe livre nos hospitais, ou o direito de perder a vida numa saidinha de banco ao buscar a aposentadoria?
Claro que aceito posições diferentes, mas que usem argumentos coerentes.
Qual seria o melhor tipo de regime para um país?

Eu respondo, que não importaria, se de direita ou de esquerda, se feudo, reinado ou ditadura, socialista ou conservadora, o que importa mesmo é a honestidade de seus executores.

Ele, Kadafi, não terá patrocinado redes de terroristas ou os próprios?
Até poderia, mas não há provas, e a história sempre é comprometida por três versões: a minha, a sua e a verdadeira.

Mas… o Atentado de Lockerbie teria sido planejado por agentes líbios…
Durante muito tempo pensou-se dessa maneira, mas este ano, fontes da polícia inglesa levaram o repórter do The Telegraph, Gordon Rainier,  a fazer uma reportagem bem  condizente com o assunto.

“The Lockerbie bombing was ordered by Iran and carried out by a Syrian-based terrorist group, a former Iranian intelligence officer has admitted.
Abolghassem Mesbahi, a defector to Germany, said Pan Am flight 103 was downed in 1988 in retaliation for a US Navy strike on an Iranian commercial jet six months earlier, in which 290 people died.
He claims the Ayatollah Khomeini, who was Iran’s Supreme Leader, ordered the bombing ‘to copy exactly what happened to the Iranian Airbus’.”

Por isso, a história tem sempre três versões, cabe a nós crer em uma delas.

Você está convicto que todos os políticos são desonestos?
No Brasil existe uma lei:

Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
Isso é prevaricação, nós prevaricamos quando não delatamos criminosos que conhecemos em nossas redondezas, por medo, porque deixamos de praticar um ato de ofíco de cidadania. Nossos políticos convivem entre si, se há honestos prevaricam em benefício próprio.

Há uma tensão permanente na máquina estatal entre as necessidades transitórias do grupo político que está no poder e os interesses permanentes do Estado e da sociedade.

A Constituição Federal prestigia o verdadeiro interesse público na admissão de pessoal em cargos públicos, ou seja, prevê que os ocupantes desses cargos devem ser selecionados preferencialmente por meio de concurso público que, além de selecionar os melhores (princípio da eficiência), evita discriminações arbitrárias, permitindo que os vencedores sejam admitidos de acordo com critérios objetivos, sem favoritismos (princípio da igualdade).

Porém, existe uma verdadeira válvula de escape para a satisfação dos interesses de grupos políticos e econômicos: os cargos em comissão. O fato de a designação de seus ocupantes ser "livre" significa, muitas vezes, que parentes, amigos e correligionários ocupem esses cargos apenas em decorrência de suas relações pessoais com aqueles que os designam. Frequentemente, não se requer que a pessoa tenha qualificação compatível com o cargo que exercerá. Exemplo disso foi a indicação, para a direção da Agência Nacional de Aviação, de pessoas que nunca tiveram experiência nessa área.

E isso, caro amigo, eles chamam de atos discricionários.
É a materialização da canalhice, SIM, SÃO TODOS CORRUPTOS.

Voou Boeing 707 até 1986…
Depois, DC- 10 e Jumbo até 30 de junho de 1999.

Mais treze anos… Estes foram melhores ou piores do que os primeiros quatorze?
Tudo e todo o tempo foi bom, foram vinte e sete anos de voo, com algumas passagens instigantes. Certa vez fizemos um voo VOR “visual over the river” de Belém para Manaus, a altitude máxima de voo foi 1 000 pés, o camandante era o Eduardo Barbosa que, infelizmente, faleceu num voo de demonstração.

Ou pousar em JFK (Nova Iorque) num cargueiro com as luzes de LOW fuel piscando fazendo um procedimento CAT III com um 707, com um excepcional comandante chamado Benitez, que suicidou, infelizmente.
Sobre o camandante Benitez há um famoso episódio num cheque de simulador: Ele fazia os procedimentos de aproximação trimotor ou bimotor durante aproximações completamente alinhados, não importando o momento em que as panes eram dadas. A certa altura, o checador, cujo nome me resguardo de dizer, pediu que ele solltasse o manche para ver se o simulador não estava em pane. Ele achava inacreditável o fato de um verdadeiro às da aviação ser tão perfeito.In memoriam.

Eu acho que o pior da aviação era o tal de Buenos Aires, não por causa da Argentina mas pelo horário de trabalho.

Depois, narrarei para você situações caóticas, não darei nomes. Para não prejudicar ninguém, situações que poderiam demitir-me e situações que outros poderiam ser demitidos, que felizmente acabaram bem.

Também não gostava do Buenos Aires/Montevidéu… menos ainda do BUE/Santiago do Chile…
Aposentou-se em 1999?
Dia 30 de junho de 1999, fiz o meu último voo, de Tóquio a Los Angeles, no PP-VOB, no final de maio desse ano.

B-747-341, PP-VOB, LAX, 1998, foto: Andy Graf
Nessa época não se previa o futuro da empresa…
Coincidentemente acabei de postar no meu perfil do Facebook os motivos da falência. Em 1999 já estava devendo muito, o PDV (Programa de Demissão Voluntária) foi a única saída. Veja:

Aos viúvos(as) da VARIG...
NÃO FOI A DEFASAGEM TARIFÁRIA A FALIR A VARIG.
Essa é uma desculpa hipócrita.

Nem a cobrança de ICMS, noventa dias adiantados, dos Estados onde as passagens eram vendidas. Essa talvez desconhecida de muitos.

Razões absurdas levaram a falência, ei-las:
- O término da relação de reciprocidade, e a abertura dos céus brasileiros às gigantes da aviação comercial americanas e europeias.

- A falta de subsídios às empresas nacionais, onde as taxas de aeroportos e os combustíveis eram muito superiores ao resto do mundo.

- A cobrança de impostos na importação de peças de reposição para a manutenção de aviões.

Agora um motivo que ninguém fala, ou que o ministro Joaquim Barbosa sequer tocou no assunto da birosca, como ele chamou a Varig:
- Os insumos sociais, os famigerados encargos sociais. Comparando os preços cobrados pelas gigantes americanas, de cada mil dólares delas a VARIG pagava trezentos dólares de encargos sociais.

ABAIXO, ALGUNS ENCARGOS SOCIAIS BRASILEIROS:
Contribuição à Previdência Social (INSS) – 20%
Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) – 8%
Salário-Educação – 2,5%
SENAC/SESC – 1,5%
SENAI/SESI –1%
SEBRAE – 0,6%
INCRA – 0,2%
Risco de Acidente do Trabalho (RAT) – 2%
TOTAL – 35,80%

Vocês acham que terminou, claro que não! Vamos a algumas regalias trabalhistas que não são pagas em países de primeiro mundo.
Repouso Semanal Remunerado – 23,19%
Férias + 1/3 Constitucional – 12,67%
Feriados – 4,34%
Aviso Prévio Indenizado – 10,86%
13º Salário – 10,86%
Auxílio-Doença - 15 dias – 1,90%
Licença-paternidade – 0,02%
Total – 63,84%

A nova lei de falências, foi a pá de terra que enterrou a empresa, inconstitucional, com conflitos de competência, deixou milhares sem rescisórias trabalhistas, não repeitando os direitos adquiridos desses empregados.

Fevereiro de 1991 – Supressão da "Terceira Fonte de Custeio". Já nessa época haviam feitos empréstimos do AERUS para a patrocinadora que não repassava a totalidade ao instituto.

Janeiro de 1995 – Criação do Plano de Benefícios II (Contribuição Definida). Para diminuir ainda mais os repasses cria-se um plano novo, menores contribuições, maiores pensões, para aliviar a empresa. Esse novo plano criado leva os ativos do plano inicial, e para os poucos que nele ficaram restaram muitos passivos. E ninguém desconfia de que com contribuições menores e pensões maiores forma-se um paradigma matemático, quem pagaria o déficit?

Felizmente, o governo não pagou a desasagem tarifária à VARIG na época, se a tivesse pago não teríamos, agora, esperanças para o AERUS.

Se, por acaso, o governo quitar a sua dívida e vierem a abrir uma nova VARIG, não será nunca a nossa VARIG, será a VARIG deles, daqueles que sempre viveram às custas de benesses nesse Brasil onde impera a corrupção.

Se o governo a tivesse encampado seríamos uma nova Petrobras ou, como os correios, cabide de empregos e lavagem de dinheiro, emprego garantido, pensão garantida, vivendo do erário, metas atingidas e os outros que se explodam. Coisas que hoje reclamamos pois não fazemos parte delas.
Feliz Páscoa a todos...

Veja que o Brasil reclama dos subsídios à agricultura americana. Não temos projetos de turismo, e hoje a TAM, A Gol e a AZUL estão quebradas.

Em 1999 entregavam a linha de Rio – Tóquio – Rio para a Northwest e American Airlines.

Somos um país de aproveitadores. Se você tem um plano de pensão, que diminui as contribuições e aumenta as pensões, quem paga o déficit? Foi isso que aconteceu em 1995 com a criação do Plano II.
Pagaram a dívida os participantes do Plano I.

O que,  efetivamente, você quer dizer com "viúvos da Varig"?
Tal e qual viúvos da Panair, houve conluio para fechar a Panair, para fechar a Real e manter a VARIG, os governos da época fizeram isso.

Os governos pós 1985 acabaram com a VARIG, a empresa da ditadura. O montante a receber abre uma nova VARIG. Eu pergunto se deixaríamos nas mãos dos viúvos à espreita. A FRB ainda está ativa, e esperando administrar uma nova VARIG, ainda há pessoas interessadas nesse montante que pode chegar a mais de 50 bilhões de reais. Eu não acredito em teorias da conspiração, mas essa é muito lúcida e presente, a APVAR e a FRBpar tem litígios pendentes na Vara Empresarial que podem embargar as negociações sobre o AERUS. Por isso, o Acordo com o governo é o mais importante ato para nós, nos livramos da VARIG e nos livramos da vara empresarial.

E quais (quem) seriam as partes que sentariam à mesa para chegar a esse acordo a que você se refere?
O Instituto Aerus e o Governo, somente eles.

Depois da aposentadoria abraçou alguma atividade?
Até 2005 apenas hobbies, depois, com 55 anos, trabalhar em quê?, não restou mais nada.

Não quer nos contar, agora, algumas situações caóticas?
- Tem um voo de DC-10, no Porto, que eu pedi para rever o combustível pelas réguas, pois a quantidade que saíra do caminhão era menor da que eu havia calculado. Atrasei o voo uma hora e meia, o comandante disse que me ia pôr na rua.
Chegaram, finalmente, as escadas para realizar a conferência, faltavam quatro mil quilos de combustível.
Não fui demitido, e ninguém foi responsabilizado pelo erro. A nossa tripulação era de revezamento.

Íamos num cargueiro para Nova Iorque, eu e o grande comandante Benitez fomos acordados no início da descida, o voo tinha passado o ponto de reclearance abaixo, ao contactar o controle Nova Iorque estava fechado para pousos e decolagens para aviões CAT II, e nós não tínhamos combustível para alternar, Benitez fez um pouso CAT III em JFK.

Decolávamos de Congonhas para Manaus, uma semana depois que proibiram os mecânicos de voo de conferir o carregamento, pois tinham que chegar duas horas antes, não deu outra, avião mal carregado não subia, decolamos a muito custo, se tivesse um palet a mais cairíamos, voamos umas duas horas para pousar de novo.

Eu poderia contar-lhes outros causos, mas seria como contar vantagens, eu acho que foram decisões acertadas, nas horas corretas, feitas profissionalmente, e não gosto de prejudicar as imagens profissionais de ninguém, mas exaltar as dos bons.
Num grupo heterogêneo você tem ótimos, bons e maus profissionais, porque esse é o princípio básico brasileiro, proteger maus profissionais por apadrinhamento, parentesco e amizade.
Por isso não quero prejudicar imagens. Fica sempre a ilusão da perfeição, basta ver quantos aviões perdemos por erros humanos.
Não acredito em fatalidades, atrás delas sempre haverá um humano que errou.

Foram fabricadas 1012 aeronaves Boeing 707, 25 tiveram perdas totais e 147 delas em acidentes.  Logo 14% das aeronaves causaram 2737 fatalidades e uma taxa de sobrevivência de 24% dentre os ocupantes das aeronaves acidentadas.
A nossa VARIG de 20 perdeu 35%, VJB, VJR,VLJ VJZ, VLU, VJK E VJT.
A PANAM tinha 137  B-707, perdeu 6.
Não quero julgar ninguém mas os números acima comprovam que usávamos mais a imagem do que a competência.
Os frios números do Boeing 707 na Varig

Você acredita que os ex-trabalhadores da Varig, Aposentados e Pensionistas Aerus venham, um dia, a recuperar os seus direitos e benefícios?
Sim com certeza.
Falta a Fundação Rubem Berta vir a cobrir os benefícios para aos quais ela foi fundada e que consta em suas diretrizes para com todos os aposentados.

Bom, Rochinha, acho que o papo foi ótimo…
… espero que não tenha comprometido ninguém, são apenas opiniões.
Não guardo rancor de ninguém, apenas fiquei decepcionado com posições adotadas. Teve uma comissária, muito simpática, que começou comigo no Electra, e depois mudou radicalmente das posições que tinha, isso é o que me decepciona nos seres humanos.

Leonel Brizola
Houve uma época em que era católico. Fui brizolista. Aí, fiquei lendo, estudando as mazelas do que a Igreja fez no mundo, e as que Brizola fez ao Rio de Janeiro...

A VARIG acabou.
O AERUS é um perrengue, uma aeronave em emergência tripulada por alguns omissos do passado. Eu e você apenas passageiros do voo da agonia. Espero que o aeroporto seguro esteja perto, para fechar o plano de voo, que já deixou muita gente pelo caminho.

Somos todos egoístas, somos falsos niilistas, lutamos pelo que nos interessa, e aos outros que lutem pelos seus interesses.
A definição correta de NIILISTA segundo Nietzche seria uma pessoa que não se importa com nada, nem mesmo com os seus problemas.

Acontece que nós somos os problemas da sociedade. Somos causas e efeitos, fazendo-os ou não. Ser ou não ser não é a questão, a pergunta certa é ser “o” (não é ou) ser.

Obrigado, e feliz dia da Ressurreição. Quem sabe, não ressuscitamos nos próximos dias?

Conversas anteriores:

12 comentários:

  1. Muito bom!
    Amaury Nogueira de Aguiar

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  2. Excelente entrevista . O entrevista tem lá suas convicções pessoais , o que é um direito legítimo , e tem uma característica louvável : a ausência de hipocrisia ( é dos meus) .

    Quanto a questões envolvendo o termo "liberdade" há que se levar em conta que a liberdade é sempre um direito nosso que acaba , quando começa o do outro . Respeitada essa premissa , todos somos livres .
    O Khadafi não passava de um megalomaníaco , talvez psicopata assumido .

    Sidnei Oliveira
    Assistido Aerus Rio de janeiro

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  3. Well... como dizes, Jim, a melhor entrevista até agora. Parabéns Rochinha, principalmente por tuas convicções.
    Fernando Vieira Dutra

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  4. Parabéns por essa entrevista, Rochinha.
    Pena que nunca tivemos oportunidade de trocar idéias em nossos vôos/pernoites.

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  5. Ótima entrevista!
    Sandra Jeane C. Albuquerque

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  6. Quero agradecer as opiniões à favor, e também o contraditório, quero Agradecer ao JIM pela oportunidade de expor assuntos tão polêmicos. Quero também emitir outra opinião bem pessoal. A VARIG foi sempre sua manutenção e seu serviço de bordo por primeiras excelências, nós os chamados tripulantes técnicos fomos coadjuvantes nesse sucesso todo. Não há como negar. São os soldados que vencem as batalhas, e as altas patentes que colhem os frutos da vitória. Havemos de ser justos. Costumamos dizer que não discutimos política, religião e futebol, eis um erro crasso de convivência. Tanto a religião quanto o futebol e o nosso cotidiano envolvem a política. Política é o cotidiano familiar, social com amigos e inimigos. Há o que se possa defender e o que não se pode. Nessa batalha que nós pensionistas e ex-funcionários prejudicados travamos não deveria ter interesses pessoais, nem de determinados grupos e associações. O interesse é mútuo e coletivo. Não quero salvar a VARIG, isso de querer é eufemismo. Quero o bem de nossas velhices, a correção dos erros judicantes de não quitar-se o que foi trabalhado à exaustão com sacrifícios pessoais. Não deveria ter convicções políticas nos entre meios. Apelo para que as associações de classes não interponham embargos ao acordo que é a necessidade prioritária dos idosos. Deixem de lado o pessoal e egoísta. Não adianta falar de futuro para idosos, futuro nosso é o atual e presente. Quantos sobreviverão? Difícil de contar, precisamos da solidariedade comum, minha, suas e nossas. Eu esperava a notícia boa para ontem, será que virá hoje. Espero que possa ainda ter tempo para ver todos felizes.
    Assim seja...

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  7. padrumacon@gmail.com23 de abril de 2014 às 15:00

    Parabéns Rocha : Quase uma enciclopédia tantos são os assuntos que você domina.Parabéns também pelas palavras de hoje cheias de sabedoria. Que Deus te abençoe embora "ainda digas não acreditar Nele".

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  8. Sabe o que eu acho?
    Se tirarem todos os políticos, desde vereadores até presidentes e puserem lá parte do povo brasileiro como governantes, eles se corromperiam. O povo brasileiro é corrupto por natureza. janda

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  9. ... Antes de tudo, o livro sagrado, a bíblia, é o meu livro preferido, porque é cheio de contradições e paradigmas, e isso me fascina...

    Oi, você poderia me dizer o algumas contradições da Bíblia e os paradigmas?
    Sabe, eu estou estudando a Bíblia, ler é uma coisa e estudar é outra.Pesquiso, converso com pastores, padres, espíritas e por aí
    E assistindo no Youtube, uma palestra do Espírita Divaldo Franco, ele dizia que certos aspectos da Bíblia, eram puras historias fantasiosas e deu um exemplo:
    Ora, como Noé poderia guardar todos os crocodilos do Pantanal? Não acreditei no que estava ouvindo. Eles vivem na água e não precisavam ser salvos
    Depois o Diluvio foi local onde viviam o povo bíblico do antigo testamento.
    Alguns afirmam que foi global, mas se estudarem atentamente verifica-se que foi local.

    janda

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  10. Minha cara Janda, adoro os paradigmas e a vida contrata com eles no cotidiano.

    EZEQUIEL 23:25, 47 Deus irá matar os filhos e as filhas
    de todas que foram prostitutas.

    Salmos 137:9
    Feliz o homem que arrebentar os seus filhinhos de encontro às rochas.

    REIS II 2:23-24 QUARENTA E DUAS crianças são despedaçadas e mortas por ursos por terem zombado de um homem de Deus que, por isso, as teria amaldiçoado.

    Ezequiel 14,9
    Deus ilude os Profetas e depois os destrói.

    Gênesis 19,31-38
    As filhas de Lot, desejosas de manter pureza étnica, optam por embebedar o pai e engravidar dele. Apesar de escolherem para seus filhos nomes que denunciam o fato, aparentemente Lot nunca se deu conta do ocorrido.

    A Bíblia é misógina, incestuosa, e defende a escravidão.

    Êxodo 21,1-7
    Os filhos de um escravo são propriedade do senhor; um escravo que não queira ser livre não pode mudar de ideia depois.

    Levítico 18,22
    Não se deite com um homem como quem se deita com uma mulher; é repugnante.

    Tenho centenas de passagens contradizentes, Deus não pode iludir ninguém, se pode aos ditos profetas, o que dizer de nós pobres mortais.
    Bom dia

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  11. Muito bom, bom mesmo !!! Pena que nunca tive a oportunidade de me chegar a você.... Só posso te dizer uma coisa, felicidades !!! Obs;:Inclusive a pequena parte espiritual...
    Coriamba de Lima Rabelo ( rabelinhovarig@gmail.com )

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  12. Muitas vezes comentamos ou opinamos sobre algo e pode ser ofensivo à alguns hábitos pessoais. Na passagem do livro dos Levíticos 18, 22. não expressa a minha opinião sobre essas atitudes. O conceito moderno me ensina a respeitar mesmo coisas que não pratico e são detalhes na vida de cada um. Coloco a passagem pra provar que a Bíblia é um livro de costumes de uma ápoca, e que pelos conceitos modernos a torna misógina, escravagista, racista e discriminatória.
    A Bíblia é um livro judaico, com a história dos judeus, suas tradições, leis e costumes da época. Hoje no ano judaico é 26 Nissan, 5774.
    Se fizermos uma boa leitura do Gênesis é aproximadamente a época que viveram Adão e Eva. Se diminuirmos 2014 de 5774, por volta de 3760 foi o nosso ano zero aproximadamente a morte de Jesus Cristo. Segundo a Bíblia 42 gerações de Adão até Jesus Cristo, passando por Moisés, Salomão, Abraão e Davi. De Adão a noé 9 gerações.
    De Noé a abraão 11 gerações, de Abraão ao Rei Davi 14 gerações, de Davi a Jesus Cristo 28 gerações. Bem quando descrevem a genealogia por parte da mãe Maria há pequenas discrepâncias.
    Vejam que não discuto a existência de Deus. Apenas fatos concretos e escritos nos livros religiosos.
    bom dia
    Peço desculpas pela monotonia de meu monólogo, aos que se interessam:
    http://wol.jw.org/en/wol/d/r5/lp-t/1200001647

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